quinta-feira, 22 de setembro de 2005

O BRASIL VIROU UMA ZONA

Quem imaginava que já tinha visto tudo em matéria de falta de dignidade e de péssimo comportamento de nossos parlamentares deve estar surpreso. As cenas testemunhadas pelos brasileiros nesta quarta-feira, em Brasília, são de envergonhar o mais indiferente cidadão. Nosso Congresso está entregue à sanha de políticos aventureiros que fazem de tudo para aparecer. Preferem as disputas pessoais ao interesse maior da nação.

O parlamento brasileiro vive uma grave crise de liderança. Não se vê uma liderança serena, equilibrada, que imponha respeito aos mais novos e saiba calar os oportunistas. O que menos importa para a atual geração de parlamentares é o contribuinte, aquele que os colocou lá e lhes paga o sustento e as mordomias. Foi uma quarta-feira para ser esquecida (ou não?).

O discurso tatibitati de Severino, o homem que há poucos dias renegava a palavra renúncia, terminou com o grito vindo das galerias que ecoou pelo plenário: “Fora Severino”. Foi a senha para o início da pancadaria entre seguranças e estudantes na platéia. Severino se foi mas deixou a promessa (ou ameaça?) de voltar logo. Afinal, garantiu ele, “o povo pernambucano nunca me faltou”.

A saída de Severino não acaba com a crise. Ao contrário, abre uma outra: a de sua sucessão. Seu lugar está sendo disputado quase a tapa. Todo mundo querendo entrar na linha sucessória de Lula. Por que será? Fala-se em vinte postulantes, ou seriam pustulantes? Mas a vergonha estava apenas começando. Na reunião das CPIs, cujos membros deveriam acompanhar o depoimento do banqueiro Daniel Dantas, os parlamentares preferiram disputar entre si suas diferenças partidárias.

A fogosa senadora Heloisa Helena, pretensamente candidata a presidente da república pelo Psol, investiu de caneta em punho contra um ex-colega do PT, o deputado Eduardo Valverde. O pau só não quebrou pra valer porque a turma do deixa disso entrou em cena. Mesmo assim sairam uns tapas e empurrões.

Enquanto uma turma lá atrás gritava: “porrada, porrada”. Que nível, hein? Aliás, alguém precisa dizer à Dona Heloisa que vestir-se de calça jeans e camiseta no Congresso não fica bem a uma senadora da república. Nada contra esse tipo de roupa (que eu adoro), mas não dentro do parlamento. Não vai ser desse jeito que ela vai conquistar o voto do povão. Falta à Dona Heloisa muita estrada pela frente.

Mudar seu comportamento agressivo e sua postura de dona da verdade podem ajudá-la em suas futuras pretensões políticas.Mas a disputa entre os parlamentares ainda nos revelaria gratas surpresas. No plenário da Câmara, enquanto um parlamentar discursava na tribuna, Câmara, embaixo os deputados e ex-petistas Babá e Luciana Genro o ofendiam aos gritos de “safado”.

Há quem diga que a democracia é assim mesmo: precisa ser cultivada e testada a cada dia. Cada crise traz ensinamentos que a fortalecem mais e mais. É uma bela teoria, sem dúvida, mas será que o Brasil vai ficar sempre na mesma lição? Como na letra do jingle comercial daquele banco paranaense que já não existe, o tempo passa, o tempo voa, mas o país não muda, só piora. O Brasil virou uma zona.

ELIAKIM ARAÚJO

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