domingo, 19 de março de 2006

PFL: NINGUÉM MERECE

Para chegar às quase mil páginas do relatório final,deputados do baixo clero da Câmara buscaram casos nos nove Estados do Nordeste brasileiro e juntaram histórias de chacinas, torturas, assassinatos por encomenda, mutilações, ameaças e perseguições a vítimas, na maioria jovens pobres, políticos, sindicalistas, militantes dos movimentos defensores dos direitos humanos e trabalhadores rurais. Há histórias de arrepiar.

Num dos casos descritos no documento, ocorrido na Bahia, policiais retiraram um adolescente de dentro de casa para executá-lo. Ele só foi salvo porque sua mãe ligou para um programa de rádio e denunciou “ao vivo” a tentativa de execução do filho. Em outro episódio, também na Bahia, um adolescente pobre chamado Daniel mata um policial militar numa briga. Nos dias seguintes cinco meninos chamados Daniel ou parentes próximos de alguém chamado Daniel são executados no mesmo bairro onde acontecera a morte do policial.

Depois da análise dos fatos, a conclusão do relatório é chocante: os grupos de extermínio são fruto da omissão, conivência e prevaricação das instituições oficiais. E é justamente por apontar o dedo para autoridades que hoje a comissão tem dificuldade para colocar o relatório em votação. O relator da CPI, deputado Luiz Couto (PT-PB), diz que desde que a CPI passou a chamar para depor pessoas em altos cargos no poder público começou a haver resistência ao trabalho. “A impressão que dá é que querem que essa CPI dê em nada e que o clima de impunidade que há no país continue”, lamenta.

Para investigar os grupos de extermínio em Salvador e a perseguição à juíza de Juazeiro o deputado tentou chamar para depor o ex-governador baiano César Borges e a ex-secretária de Segurança Pública do Estado Kátia Alves. As duas convocações foram rejeitadas por integrantes da CPI, que não se interessam em saber como um pelotão inteiro da PM teve o descaramento de emboscar uma juíza federal na frente de toda a vizinhança. Nos bastidores alguns deputados nordestinos tentam esvaziar a comissão.
A liderança do PFL, por exemplo, já usou o regimento da Câmara para impedir que o prazo para a votação do relatório seja estendido. É a tentativa de exterminar a CPI.

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