quinta-feira, 8 de junho de 2006

Choque e horror no Congresso. Por quê?



Durante um ano a grande mídia, que pretende ter como refém a opinião pública do País, fez o que pôde para desmoralizar o Congresso. Exaltou o suposto zelo do malufista Ricardo Izar na defesa da ética na política e passou a expor deputados e senadores, às dezenas e centenas, como corruptos e mensaleiros, tese vendida e amplificada nas primeiras páginas dos jornais e no horário nobre da TV.

A palavra pizza perdeu o significado original pela insistência da mídia em usá-la para denegrir acordos políticos como trapaça que garante a impunidade dos que, na avaliação duvidosa de um jornalismo cada vez mais duvidoso, não passariam de ladrões e membros de quadrilhas de malfeitores. Por que, então, o choque e horror de agora nas manchetes sobre a invasão do Congresso?

Não terá a mídia adubado o terreno para aquele espetáculo degradante? "Vandalismo no Congresso", horrorizou-se "O Globo". E num raro editorialete de primeira página considerou aquilo um "ataque à democracia". Culpa de quem? Não dos muitos meses de leviandade da própria mídia, mas da "leniência de autoridades com a sucessão de atos ilegais e crescentemente violentos".

"O próprio Lula deu a senha"

Não me surpreenderia descobrir que as 12 linhas daquele texto tenham sido produzidas pelo mesmo autor imaginoso do outro, saído dias antes, insinuando que parlamentares mereciam, sim, ser chamados de "bandidos". Mas a mídia foi unânime, outra vez, no veredicto: culpa do PT e de Lula. A desequilibrada Dora Kramer, no Estadão, sentenciou: "O próprio Lula deu a senha para a ilegalidade".

Nunca pensei em escrever um dia coluna como esta, em defesa de autoridades constituídas. Fazem falta o dr. Roberto (Marinho), o dr. Júlio (Mesquita), o dr. (Nascimento) Brito, o dr. (Octavio) Frias (pai). Esses e outros doutores do passado recente não aprovariam os excessos nessa obsessão da mídia para depor Lula. Não conheceram o desespero das redações atuais - por sinal, solenemente ignoradas pela opinião pública.

Nostálgicos do poliglotismo fernandista, os ilustrados escribas da elite branca parecem enlouquecidos com a hipótese de ter de conviver mais quatro anos com o torneiro-mecânico monoglota no Palácio do Planalto. Até porque durante 12 meses turbinaram meia dúzia de CPIs e investigações variadas, convencidos de que, com quartéis vacinados contra vivandeiras, é essa a melhor receita golpista.

Fazendo do Congresso o alvo

"Líder do PT comanda invasão do Congresso" foi a manchete de um dos jornais em toda a extensão da primeira página. É explícita a intenção de comprometer o presidente. O autor da frase tinha plena consciência de que o tal "líder" pouco tem a ver com Lula - é dissidente (MLST) de uma dissidência (MST). Mas a mídia opta, deliberadamente, por omitir a informação e publicar a desinformação.

Da mesma forma, o choque e horror com a invasão do Congresso só refletem a hipocrisia da mídia. Unida à oposição, ela festejara a vitória de Severino Cavalcanti na Câmara, pois ele representava a derrota de Lula. Ao vê-lo defender os que ela acusava, de novo somou-se à dupla PSDB-PFL: voltou-se contra ele e devassou seus pecados - bem conhecidos muito antes, quando apoiara sua eleição.

Foi discreta em cada episódio a posição de Lula. Respeitou o presidente que os deputados escolheram - eleito contra o PT. Enquanto buscava a harmonia entre os poderes, a mídia vociferava contra Cavalcanti. Só que, para ela, a emenda saiu pior do que o soneto. No desdobramento, trouxe Aldo Rebelo, ainda mais afinado com Lula. Restou então fazer a campanha impiedosa contra o Congresso.

Povo repudia trama golpista

Qualquer interessado em encontrar os responsáveis pela campanha destinada a desmoralizar o Poder Legislativo - e que levou à invasão - deve apenas procurar as primeiras páginas e checar as gravações do horário nobre da TV. Em especial, o jornal "O Globo" e a rede Globo, que se desmancharam em palavras e charges ofensivas para engrossar as piores suspeitas da opinião pública sobre os parlamentares.

Pizzas e pizzarias fizeram rir durante meses. Vieram até campanhas contra o voto em deputados e senadores - como se a ausência dos votos conscientes não favorecesse os candidatos daqueles que, pouco conscientes, preferem os piores. Mas hoje, para surpresa de TVs e jornalões, as pesquisas mostram que o País, sensato, opta simplesmente por ignorar a mídia insana e auto-suficiente.

A arrogância dela é histórica. Acha que vai impor seus candidatos ao País. Foi assim em outros países, mas os critérios dela freqüentemente chocam-se com os do eleitorado. No Brasil de hoje, ela adora o malufista Izar, os tucanos Alckmin, Serra e FHC, e os rodriguinhos pefelês. Só que a avaliação do eleitorado é outra. E ela não se conforma com a tendência escancarada em todas as pesquisas de opinião pública.
ARGEMIRO FERREIRA

Um comentário:

Anônimo disse...

FIQUEI ESPANTADA!
Ontem e fui a três lugares diferentes, e ouvi a mesma opinião de pessoas bem diferentes sobre a invasão do Congresso pelo MLST. Essas pessoas estavam de certa forma demonstrando o quanto elas estavam irritas com os parlamentares. Ouvi frases do tipo "bem feito deveriam ter arrebentado a cara daqueles safados" ou "fizeram foi pouco, aqueles deputados não valem nada" ou "não acho certo eles terem usado de violência contra os funcionários, deveriam ter batido nos deputados, eles são um bando de ladrões" ou "deveriam ter deixado todos os deputados de olho roxo" ou um que estava mais indignado e disse, "eles ficam ai com essas CPIs do c.............., por acusa da eleição, não trabalharam de verdade, bem feito" Confesso que fiquei pasma com a reação das pessoas, não esperava que elas fossem achar que a violência fosse o melhor caminho. São pessoas de classe média, comerciantes, donas de casa, estudantes, que demonstravam profunda irritação com os parlamentares. Acho que os institutos de pesquisas deveriam fazer uma pesquisa com a população para saber o que acharam da invasão no Congresso, pela amostra, o resultado será surpreendente.

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