sexta-feira, 21 de julho de 2006

Do Portal do PT



Duelo PSOL-PT

Votar em Heloísa Helena ajuda Alckmin a ir para o segundo turno




Valter Pomar, secretário de Relações Internacionais do PT

Todos elles amam HH
Por Valter Pomar



O crescimento das intenções de voto na candidatura da senadora Heloisa Helena (PSOL-PSTU-PCB), detectado por pesquisas Vox Populi e Datafolha, foi recebido com entusiasmo nas fileiras tucano-pefelistas, para quem a chance de um segundo turno na disputa presidencial está diretamente vinculada ao desempenho da senadora.



O entusiasmo da direita é um pouco fingido e duplamente prematuro.



Fingido, porque um segundo turno sempre foi o mais provável. Foi assim em 1989 e 2002. Em 1994 e 1998, FHC só ganhou no primeiro turno graças ao apoio maciço do grande capital, dos meios de comunicação e no embalo do Real.



Nas eleições de 2006, enquanto Lula é superconhecido e está praticamente no seu "teto" de votos, nossos oponentes são pouco conhecidos; à medida que a campanha divulga suas candidaturas, cresce seu potencial de votos. E, com dificuldades para fazer Alckmin decolar, o Jornal Nacional e os meios de comunicação em geral estão sendo supergenerosos com HH.



O entusiasmo da direita é prematuro porque, para garantir o segundo turno, é preciso que HH mantenha uma boa performance eleitoral, até e no primeiro domingo de outubro. Analistas insuspeitos de simpatia pelo PT consideram que isto pode acontecer, mas alertam para a possibilidade de HH ser "fogo de palha", que se apague quando começar o horário eleitoral gratuito.



Prematuro, também, porque não basta que Heloísa Helena seja bem votada. É preciso, simultaneamente, que Alckmin cresça e que Lula perca votos. Senão, mesmo com HH bem cotada, Lula ainda pode ganhar no primeiro turno.



E aí está o nó: o crescimento de HH nas últimas pesquisas foi mais forte no eleitorado tucano-pefelista. Daí se explica o esforço, feito pelo comando da campanha Alckmin e por seus aliados na imprensa, em mostrar para a senadora o caminho das pedras, ou seja, como crescer tirando votos de Lula.



O campeão deste tocante esforço pedagógico é o incomparável pefelista César Maia, que vem dando instruções públicas à senadora, sobre como ela deve ser portar e o que deve dizer. Não se sabe se em atenção a este conselheiro ou a outros, é fato que a senadora vem tentando suavizar sua imagem, embora aqui e ali venha à tona sua verdadeira personalidade, como quando chamou de "empregadinho" o ministro Tarso Genro, numa linguagem típica da Casa Grande.



De maneira mais fina e indireta, três importantes colunistas da grande imprensa também deram sua colaboração, nas edições de 20 de julho, ao esforço de mostrar para HH que sua performance depende dela se apresentar como herdeira do "verdadeiro Lula".



É o caso da colunista Dora Kramer (OESP), que qualificou assim a senadora: “mulher, valente, amena no trato, uma fera na tribuna, símbolo da resistência da velha esquerda, vítima do autoritarismo do PT, petista que se recusou a vender a consciência aos ditames do poder. O perfil da senadora é, por si só, uma receita de sucesso”. Até o PSOL, que conhece a peça, seria mais comedido no elogio.



Para Jânio de Freitas, o desempenho da senadora serve para demonstrar que em nome das "circunstâncias do mundo atual, e particularmente as do Brasil, [que] pedem mais realismo do que utopias, ninguém precisa abandonar seus sonhos”. Segundo Jânio, se a Senadora trouxer “o sonho para perto do chão dos eleitores frustrados", isto poderá resultar em "provável êxito eleitoral". Completa assim o colunista: "O programa [de HH] está incumbido ao vice da chapa, César Benjamin, que é muito qualificado”. Ou seja: se trocar o discurso maximalista por algo mais "realista", aumentariam suas chances de seguir sonhando, enquanto serve de escada para Alckmin ir ao segundo turno.



Outro que foi na mesma toada é Merval Pereira, para quem HH "vem ganhando pontos nas pesquisas devido a um segmento do eleitorado que continua querendo as mudanças que Lula prometeu e não entregou". Mesmo que venha a tirar votos de Alckmin, Merval Pereira reconhece que HH estará "ajudando a levar a disputa para o segundo turno, sendo improvável que se revele uma concorrente capaz de ser uma alternativa oposicionista mais viável que Alckmin".



O problema que incomoda estes colunistas e o comando de campanha de Alckmin é que, ao menos no momento, segundo O Globo, "dos que declaram ter votado em Lula no segundo turno de 2002, 10% darão seu voto a Heloísa Helena, que hoje obtém 11% entre os eleitores de José Serra". E, na parcela de seus eleitores que admite mudar de voto, a maior parte opta por Alckmin, não por Lula.



Ou seja: se HH é muito provavelmente a candidata preferida dos militantes que romperam com o PT, ela está muito longe de ser a candidata dos eleitores eventualmente insatisfeitos com o governo Lula e que poderiam migrar para ela no primeiro turno. O sonho da direita é que ela se torne isto, tirando votos de Lula e ajudando Alckmin a ir para o segundo turno, nas melhores condições possíveis. Mas hoje seu eleitorado combina, em maior dose, votos de terceira via com votos de protesto vindos da direita, do mesmo tipo que, em eleição passada, beneficiou Enéas.



Acontece que a medida que a eleição vai se aproximando do segundo turno, diminui a possibilidade de HH receber o voto de protesto vindo da esquerda. À medida que fica claro que a eleição será decidida em dois turnos e que a vitória será por uma diferença apertada, cada vez mais eleitores perceberão que votar em Heloísa Helena serve apenas para ajudar Alckmin a ir para o segundo turno. E devem, portanto, manter seu voto em Lula, que aliás é o candidato cuja intenção de voto é mais sólida.



Se este raciocínio estiver correto, HH pode consolidar sua votação nos setores em que hoje possui mais apoio, exatamente ali onde a esquerda mais radical convive com a classe média mais conservadora. Numa linguagem meio ultrapassada, mas sempre precisa, na "pequena burguesia", que na história do Brasil foi base social tanto do udenismo quanto esquerdismo.



O inimigo do PT, nesta eleição, é Geraldo Alckmin e sua coligação. O inimigo do PT não é Heloísa Helena, nem os partidos que a apóiam. Infelizmente, a recíproca não é verdadeira. Heloísa Helena nos trata como inimigos.



Só em outubro vai ser possível analisar cientificamente a "performance" eleitoral de Heloísa Helena, quando ela própria terá que escolher entre Lula e Alckmin. Ali será sua hora da verdade e também o que decidirá o futuro imediato do PSOL, do PSTU e do PCB.



Dentro desses partidos, há muita gente boa cujo sonho é construir mais um partido de esquerda no Brasil, que seja de massas e que possa competir com o Partido dos Trabalhadores, criando um sistema partidário semelhante ao que existiu, noutras épocas, em países como Chile, França, Espanha, Itália e Alemanha, onde dois grandes partidos de massa disputavam influência sobre a classe trabalhadora.



Infelizmente, nesta quadra da história brasileira, este sonho está vinculado à uma vitória da direita nas eleições de 2006. E está dependente de uma liderança cujo discurso oscila do esquerdismo ao udenismo com uma velocidade impressionante. Suas recentes críticas a Chavez e sua posição sobre o aborto, por exemplo, não são de esquerda. Mas ajudam a entender por que todos elles amam HH.



Valter Pomar é secretário de relações internacionais do PT

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