sexta-feira, 29 de setembro de 2006


De Reinaldo Azevedo/Blog

Duelo eleitoral PSDB x PT

Faltou gostinho de sangue na boca de Geraldo Alckmin



O debate e o segundo turno

A pergunta óbvia é a seguinte: o debate contribuiu para o segundo turno? Depende. E vou, claro, dizer do quê. A audiência foi alta, com 30 pontos, segundo o Ibope, e share (TVs ligadas) de 49%. Na Grande São Paulo, isso significa 1,65 milhão de famílias. É muita gente. E Lula apanhou como raramente aconteceu nesta campanha — o que só dá conta do quão morna foi a dita-cuja.

O candidato tucano Geraldo Alckmin foi bem? Foi. Chegou a dar algumas respostas muito boas, mas, vejam vocês, acho que lhe faltou um pouco mais de paixão e de indignação. Nada que pudesse lembrar aquele destrambelhamento de Heloísa Helena, do PSOL. Eu sei que ele tem o seu estilo. Exercitou, ali, uma indignação moral, mas me parece que faltou ser mais popular e específico nos exemplos. Faltou, como escrevi num dos textos abaixo, sentir na boca aquele gostinho de sangue.

O figurino do sempre imperturbável Alckmin agrada à classe média, mas tem um jeito de ser muito paulista. Olhemos os números, meus caros, e identifiquemos onde está a força de Lula: conforme explicitei em dados muito objetivos ontem, é no Nordeste, em Minas e entre os que ganham até dois salários mínimos. Talvez, como dizem cinicamente os assessores de Lula, os “pobres” não estivessem acompanhando a conversa porque levantariam muito cedo no dia seguinte. Mas um debate, quando é matador para alguém, sempre tem efeitos. E matador, como deveria ser, não foi.

O que pode pesar contra Lula? A ausência. Num pequeno editorial de abertura, William Bonner lamentou a decisão do presidente em nome da emissora. E praticamente encerrou com o mesmo lamento. A Globo cobrou um preço alto por ter sido enganada por Lula. O PT também enrolou mais gente. Plantou que o presidente iria e ofereceu evidências aos incautos. Boa parte dos sites e blogs davam a sua presença como certa. Mas o circo estava sendo armado, àquela mesma altura, em São Bernardo.

Contundência e chacrinha ideológica
Dez críticas a Lula podem educar; 20 podem até nos deixar indignados; mas 8.737.425 adjetivos para desqualificar o presidente, como fez Heloísa Helena, tornam o espetáculo um tanto ridículo. E se sobressai a sua figura algo patética, obviamente despreparada para a função que, em tese, almeja — ela sempre soube que está ali para tentar viabilizar o PSOL, não para ganhar.

O que resulta daí? No tênis, nada pior do que bater bola com um grosso. O jogo fica feio. E você até pode perder algumas bolas por maus motivos. Aquela metralhadora giratória de Heloísa Helena, aquela glossolalia, aquela cascata de sandices tomam o lugar de uma crítica consistente, que Alckmin conseguiu fazer, é verdade. Mas tudo se mistura. Se o tucano tem muitos dados e falta de contundência, ela compensa o que não sabe com aquela convicção bronca e raivosa. Talvez as lágrimas finais tenham conquistado alguns votos.

Cristovam tem de levar o troféu Chato do Ano. Suplicy passou a vida com a sua história do renda mínima. O senador do DF, pelo visto, decidiu explorar esse nicho de mercado político e não larga mais o osso. É um homem decente, honesto e tal. Mas e daí? Não é possível responder a toda e qualquer questão com a “revolução doce da educação”. Sabe o efeito, senador? O senhor banaliza o tema, que acaba virando motivo de chacota.

Curiosamente, ele é autor de uma das melhores propostas para pôr ordem na bagunça orçamentária: congelar os gastos. Se cortar é difícil — e, acreditem, é —, o congelamento, com uma economia que crescesse, significaria, na prática, corte. Hoje, os gastos correntes sobem numa porcentagem superior à do crescimento da economia. Mas quem consegue levar a sério um monomaníaco?

E então...
Somem-se a isso a rigidez de regras e ausência de uma mediação propriamente jornalística — já falo disso mais adiante —, e o que se tem é um debate terrivelmente chato, em que as bobagens de HH correm o risco de não se distinguir das coisas sensatas ditas por Alckmin — e, algumas vezes, até por Cristovam. A Alckmin faltou, infelizmente, o sangue na boca; a Heloísa Helena, sobraram despautérios, e Cristovam foi aquele tio meio maluquinho que quase toda família tem. A gente até gosta, mas não lhe confia grandes missões.

Para que o encontro, por si (vamos ver seus desdobramentos nestes três dias), possa ter significado alguma mudança importante na eleição, é preciso ter havido, vamos dizer, uma troca de calor com o que estava do lado de fora: Lula. Quem prestou atenção às respostas, estando indeciso, talvez tenha migrado para Alckmin. Mas não se descarte uma troca interna de votos, entre os três que estavam ali. Para tanto, contribuiu Heloísa Helena.

Notem que nunca caí na conversa desta senhora, nem quando o seu crescimento, dizia-se, colaborava para o segundo turno. Ela é o petismo original. Se Cristovam, com efeito, quer empurrar a disputa para uma outra etapa, a senadora estava cegada pela sua vaidade humilíssima. Segundo ela, uma dos motivos por que se desentendeu com o PT foi o fato de Lula ter-se negado a promover uma devassa nos casos de corrupção do governo FHC. Corrupção que, segundo ela, continuou. Numa pergunta a Alckmin, deixou claro não ver qualquer diferença entre PT e PSDB. Estava mentindo. Ela vê, sim. Prefere o PT. Com Lula, o seu caso é só de ressentimento. Não adianta: nas situações-limite, o naniquismo moral da esquerda se manifesta.

E então outra vez...
Uma censura como a que a emissora fez a Lula, acompanhada por milhões de brasileiros, pode ter mais peso na decisão dos eleitores do que o debate em si. No comício em São Bernardo, o petista deixou claro que não dava a mínima para aquele encontro. Na prática, disse que a sua turma era outra. Não é bem assim. Um debate com média de 30 pontos de audiência chega a seu eleitorado, e não apenas àquele militante ou simpatizante do PT. Nesta sexta, o Jornal Nacional certamente vai noticiar os desdobramentos do encontro. No Jornal da Globo, viu-se o presidente a desdenhar do evento sobre o palanque. Não é uma imagem simpática.

Aproveito para reiterar aqui um ponto de vista. Na condição de maior emissora do país, a Rede Globo pode e deve buscar outros formatos para os debates. Ou extingui-los. Estão se transformando em vistosas nulidades. William Bonner, o mediador, é editor-chefe do Jornal Nacional. É um caso raro de apresentador boa pinta que também é jornalista, tem miolos, sabe fazer reportagem, entrevistar etc. Tem repertório. A que se limitou a sua participação no encontro? A dizer: “O seu tempo acabou”, “o seu tempo acabou”, “o seu tempo acabou”.

De uma bancada de jornalistas a um mediador que, com efeito, possa indagar os candidatos e cobrar-lhes precisão em certas respostas, há muita alternativa a ser pensada. Esses encontros com muitas regras, que se tornam uma colagem de monólogos, já não servem para muita coisa. Às oposições, ou ao PSDB e PFL em particular, resta explorar o Lula fujão, aquele que não quer prestar contas à população, o que teve medo de enfrentar adversários etc.

Eu adoraria estar aqui a escrever: “Olhe aqui, moçada, Alckmin foi arrasador; depois daquela performance, só não vota nele quem é petista ou lulista convicto”. Apesar do bom desempenho, isso não aconteceu. Resta, então, torcer pela continuidade da ascensão do candidato tucano, que vinha lenta, mas constante, e pelo desgaste provocado pela ausência de Lula. Os trackings feitos ontem indicavam segundo turno.

Tomara que seja assim. Até porque eu disse ao Diogo Mainardi, no Podcast, que haveria. Mas também me ofereci para ajudar a dar o golpe de Estado no tapetão do TSE... A esperança só faz sentido se for sensata.




Um comentário:

Anônimo disse...

QUE IMBECIL! SÓ MESMO SENDO ESSE REINADA AZEVEDO.

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