sexta-feira, 29 de setembro de 2006

Os bastidores das pesquisas eleitorais

Presidente Lula, líder nas pesquisas


Por Henrique Carlos de O. de Castro

Em anos eleitorais, sempre volta à tona o debate sobre as pesquisas de intenção de votos. Sempre nos perguntamos se elas funcionam, se é possível predizer algo com amostras tão pequenas, para que servem. Como todos os assuntos que envolvem a política, essa discussão também é envolta por emoções, paixões e ódios. E, como tudo em ciência, também as pesquisas eleitorais precisam ser analisadas com rigor e método, para que se conheçam suas possibilidades e seus limites.

É claro que uma pesquisa pode prever resultados de uma eleição, mas dentro de determinados limites. Trata-se aqui dos resultados das questões relacionadas à intenção de voto, ou seja, em que os entrevistados respondem em quem pensariam em votar naquele momento. Assim, o componente tempo é fundamental: quanto mais perto das eleições, maior a probabilidade de as pesquisas refletirem o que ocorrerá nas urnas. De maneira inversa, uma pesquisa realizada com muita antecedência terá pouca validade para predizer os resultados. E, na prática, a eleição é decidida a partir das regras da política, que têm como centro a persuasão, o uso de estratégias e a construção de consensos.

Mas então, para que servem as pesquisas eleitorais? Para muitos interesses, entre os quais destacam-se: preparação da estratégia de campanha, aliciamento de potenciais aliados, convencimento de financiadores, conhecimento do que pensa o eleitorado e, por fim, para influenciar eleitores. A mídia geralmente divulga apenas a posição relativa dos candidatos, mas há uma série de outras informações que uma pesquisa permite conhecer. Por exemplo, o que pensa o eleitorado e que caminhos percorrer. Ao mesmo tempo, um resultado favorável a determinado candidato pode ajudar a arrecadar fundos, o que será importante para viabilização da sua candidatura. Assim, cria-se um círculo virtuoso no qual os candidatos mais viáveis se fortalecem.

Uma dúvida importante é se uma amostra pequena é confiável. Para responder a isso, vamos utilizar um exemplo: para conhecer o que se passa no organismo de uma pessoa, o médico pede um exame de sangue. Mas mais importante do que a quantidade de sangue retirado são as condições de coleta. Caso sejam cumpridas as exigências técnicas, alguns mililitros de sangue permitem saber o que acontece no organismo inteiro. O mesmo ocorre com as pesquisas: se a escolha da amostra, o questionário, a coleta de dados forem bem feitos, uma amostra relativamente pequena permite conhecer o que pensa o eleitorado.

Por outro lado, uma pesquisa também pode ser manipulada. Pode-se inventar números, montar amostras viciadas, coletar dados em momentos mais favoráveis para determinado candidato etc. Mas, quando ocorrem, as distorções de resultados são feitas em momentos muito anteriores à data das eleições, até porque ficaria muito óbvio o contraste de uma pesquisa fraudada com o resultado das urnas. Logicamente, é bastante razoável pensarmos que institutos de pesquisa sérios não iriam arriscar o seu nome com artifícios como esse, mas certamente a alteração de resultados de pesquisa é fácil.

Com tantos artifícios ao alcance dos candidatos, pergunta-se, então, se pesquisa ganha eleições. Não, mas ela certamente pode influenciar o eleitorado. Se duas candidaturas estão muito próximas, por exemplo, uma pesquisa definir o voto de uma parte do eleitorado. Mas essa definição pode ser tanto pelo candidato que está com maior intenção de voto (pelo sentimento de votar em quem tem mais chance de vitória), como pelo que está com menos, por compaixão. Há ainda situações, como a que vivemos neste ano, em que as pesquisas podem induzir eleitores a quererem que a disputa se resolva no primeiro turno. Esse fenômeno, chamado por alguns de “voto útil”, ajuda as candidaturas mais fortes.

Entretanto, como todo procedimento científico, pesquisas eleitorais, por mais bem feitas que sejam, podem errar. Elas são baseadas em princípios de probabilidade, não de certeza. Há uma determinada probabilidade de uma pesquisa encontrar resultados completamente diferentes da realidade da população. Temos também que considerar que os resultados não são números redondos, mas faixas de probabilidade. Enfim, o que se deve saber é que elas são um importante instrumento de conhecimento da realidade, mas que o seu uso depende dos interesses e da honestidade dos atores envolvidos. Cabe à sociedade conhecer os limites dos seus resultados e saber que, mais do que conhecermos resultados de pesquisas, precisamos debater propostas sobre o nosso futuro político.

Daiane Souza/UnB Agência


Henrique Carlos de O. de Castro é professor do CEPPAC (Centro de Pesquisa e Pós-graduação sobre as Américas da Universidade de Brasília) e diretor do DATAUnB (Centro de Pesquisa de Opinião Pública da Universidade de Brasília)


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