02/10/2006
Patrícia Aranha
Estado de Minas
Minas era fundamental. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) disseram a mesma coisa, mas da teoria a prática, apenas o tucano insistiu no segundo colégio eleitoral do país, com 13,7 milhões de eleitores. Tanto, que levou boa parte dos votos dos mineiros. O estado sempre decidiu a eleição. Foi assim nas duas vezes em que Fernando Henrique Cardoso foi eleito. Em 2002, Lula teve 53% dos votos mineiros no primeiro turno, quase o dobro de José Serra (PSDB), que ficou com 23%. No segundo turno, foi ainda mais fundamental: foram 66% dos votos válidos para o petista, enquanto o tucano ficou com 34%.
Desta vez, apesar de dizer que os votos de Minas e da Bahia poderiam neutralizar o favoritismo de Alckmin em São Paulo, Lula veio pouco a Minas e conseguiu apertados 51%. São dois pontos percentuais a menos do que em 2002. A diferença é que Alckmin teve bem mais que os 23% de Serra. O tucano, que esteve em Minas três vezes às vésperas da eleição, com o cuidado de sair de São Paulo logo depois da votação para acompanhar o governador Aécio Neves na urna ontem em Belo Horizonte, conseguiu 41%, quase 11 pontos a mais do que as pesquisas lhe davam. Aécio prometeu votos a Alckmin e cumpriu. As pesquisas indicavam pouco mais de 30% das intenções de votos dos mineiros. Lula teria 60%.
A comparação com quatro anos atrás, mostra como a estratégia da campanha de Lula em Minas estava errada. Nas últimas semanas, Lula cancelou viagens a Belo Horizonte, cidade administrada pelo PT há 13 anos, e a Divinópolis. Foi ao Triângulo rapidamente, onde desde o início Alckmin tinha sua melhor performance. No estado, quem ajudou a tirar votos de Lula foi a persistência de Aécio em mostrar serviço e despontar, junto com José Serra, como alternativa para a presidência em 2010. Há quatro anos, Aécio fez campanha discreta para Serra e foi acusado pelos tucanos paulistas de fazer corpo mole. O governador foi prestigiado pelo então candidato Lula, que não deu importância a campanha de Nilmário Miranda (PT), que acabaria surpreendendo e ficando em segundo lugar com 31%.
Desta vez, o comando da campanha do presidente escolheu a dedo o coordenador em Minas: o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, que se diz amigo de Aécio. Pimentel demorou mais de um mês para fazer campanha para Nilmário. Disse em alto e bom som que não pediria votos para o candidato da coligação ao Senado, Newton Cardoso (PMDB). Na reta final, mudou de idéia, mas seu engajamento foi tímido. Resultado: a capital, que sempre foi petista, desta vez, quase deu vitória ao PSDB.
No primeiro turno da campanha de 2002, Lula teve 58% dos votos dos belo-horizontinos. Agora, deu apenas 44,5%. Alckmin, ficaria com 39,4%. Um fiasco. Enquanto Pimentel administrava a cidade e deixava a coordenação da campanha de Lula nas mãos de uma “equipe de confiança”, ministros de Lula, como o do Turismo, se dedicavam a outra estratégia equivocada do PT: o Lulécio.
A arregimentação de prefeitos e lideranças regionais que apoiavam Aécio, mas não votavam em Alckmin. O candidato a suplente de senador da coligação que apoiou Lula, ex-delegado regional do Trabalho Carlos Calazans, foi o primeiro a fazer mea-culpa ontem. “O que mais me deixou impressionado foi a votação de Alckmin em Belo Horizonte. Aqueles que achavam que a aproximação com o Aécio, por meio do Lulécio, daria voto para o Lula, acabou neutralizando o PT. Aécio estava forte e quando decidiu entrar de vez na campanha presidencial, acabou alavancando o Alckmin. Aécio puxou Alckmin e ajudou a levar a eleição para o segundo turno”, admite, salientando contudo que a culpa não foi do Pimentel, mas de todo o PT.
Caciques em baixa
Mal começaram a ser apuradas as urnas e já apareciam os dois maiores derrotados nas eleições deste ano: um dos maiores caciques do PFL, Antonio Carlos Magalhães e o presidente nacional do PSDB, Tasso Jereissati. Se quiser comemorar, o tucano terá que lembrar que abandonou Lúcio Alcântara (PSDB) e se bandeou para o lado do amigo Ciro Gomes (PSB), um dos campeões de voto dessa eleição. A eleição de Cid Gomes (PSB), em primeiro turno, o enfraquece diante das grandes estrelas do partido, que se elegeram com folga em primeiro turno: José Serra, em São Paulo e Aécio Neves, em Minas.
Já ACM, que sempre alardeou – “Na Bahia, eu sou capaz de eleger um poste” – teve seu candidato Paulo Souto atropelado por Jacques Wagner e só pode se consolar com a reeleição do neto. Também reeleito, o líder da oposição na Câmara, José Carlos Aleluia – que mais de uma vez discordou de ACMNeto em público – preferiu não pisar no clã. “Foi uma surpresa essa derrota do Paulo Souto. Nenhuma pesquisa disse isso, nem a deles (do PT). Não dá nem para fazer diagnóstico. Não podemos é desanimar. Se a derrota é só de ACM não sei. Só sei que a bancada de deputados vai muito bem”, analisou.
Patrícia Aranha
Estado de Minas
Minas era fundamental. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) disseram a mesma coisa, mas da teoria a prática, apenas o tucano insistiu no segundo colégio eleitoral do país, com 13,7 milhões de eleitores. Tanto, que levou boa parte dos votos dos mineiros. O estado sempre decidiu a eleição. Foi assim nas duas vezes em que Fernando Henrique Cardoso foi eleito. Em 2002, Lula teve 53% dos votos mineiros no primeiro turno, quase o dobro de José Serra (PSDB), que ficou com 23%. No segundo turno, foi ainda mais fundamental: foram 66% dos votos válidos para o petista, enquanto o tucano ficou com 34%.
Desta vez, apesar de dizer que os votos de Minas e da Bahia poderiam neutralizar o favoritismo de Alckmin em São Paulo, Lula veio pouco a Minas e conseguiu apertados 51%. São dois pontos percentuais a menos do que em 2002. A diferença é que Alckmin teve bem mais que os 23% de Serra. O tucano, que esteve em Minas três vezes às vésperas da eleição, com o cuidado de sair de São Paulo logo depois da votação para acompanhar o governador Aécio Neves na urna ontem em Belo Horizonte, conseguiu 41%, quase 11 pontos a mais do que as pesquisas lhe davam. Aécio prometeu votos a Alckmin e cumpriu. As pesquisas indicavam pouco mais de 30% das intenções de votos dos mineiros. Lula teria 60%.
A comparação com quatro anos atrás, mostra como a estratégia da campanha de Lula em Minas estava errada. Nas últimas semanas, Lula cancelou viagens a Belo Horizonte, cidade administrada pelo PT há 13 anos, e a Divinópolis. Foi ao Triângulo rapidamente, onde desde o início Alckmin tinha sua melhor performance. No estado, quem ajudou a tirar votos de Lula foi a persistência de Aécio em mostrar serviço e despontar, junto com José Serra, como alternativa para a presidência em 2010. Há quatro anos, Aécio fez campanha discreta para Serra e foi acusado pelos tucanos paulistas de fazer corpo mole. O governador foi prestigiado pelo então candidato Lula, que não deu importância a campanha de Nilmário Miranda (PT), que acabaria surpreendendo e ficando em segundo lugar com 31%.
Desta vez, o comando da campanha do presidente escolheu a dedo o coordenador em Minas: o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, que se diz amigo de Aécio. Pimentel demorou mais de um mês para fazer campanha para Nilmário. Disse em alto e bom som que não pediria votos para o candidato da coligação ao Senado, Newton Cardoso (PMDB). Na reta final, mudou de idéia, mas seu engajamento foi tímido. Resultado: a capital, que sempre foi petista, desta vez, quase deu vitória ao PSDB.
No primeiro turno da campanha de 2002, Lula teve 58% dos votos dos belo-horizontinos. Agora, deu apenas 44,5%. Alckmin, ficaria com 39,4%. Um fiasco. Enquanto Pimentel administrava a cidade e deixava a coordenação da campanha de Lula nas mãos de uma “equipe de confiança”, ministros de Lula, como o do Turismo, se dedicavam a outra estratégia equivocada do PT: o Lulécio.
A arregimentação de prefeitos e lideranças regionais que apoiavam Aécio, mas não votavam em Alckmin. O candidato a suplente de senador da coligação que apoiou Lula, ex-delegado regional do Trabalho Carlos Calazans, foi o primeiro a fazer mea-culpa ontem. “O que mais me deixou impressionado foi a votação de Alckmin em Belo Horizonte. Aqueles que achavam que a aproximação com o Aécio, por meio do Lulécio, daria voto para o Lula, acabou neutralizando o PT. Aécio estava forte e quando decidiu entrar de vez na campanha presidencial, acabou alavancando o Alckmin. Aécio puxou Alckmin e ajudou a levar a eleição para o segundo turno”, admite, salientando contudo que a culpa não foi do Pimentel, mas de todo o PT.
Caciques em baixa
Mal começaram a ser apuradas as urnas e já apareciam os dois maiores derrotados nas eleições deste ano: um dos maiores caciques do PFL, Antonio Carlos Magalhães e o presidente nacional do PSDB, Tasso Jereissati. Se quiser comemorar, o tucano terá que lembrar que abandonou Lúcio Alcântara (PSDB) e se bandeou para o lado do amigo Ciro Gomes (PSB), um dos campeões de voto dessa eleição. A eleição de Cid Gomes (PSB), em primeiro turno, o enfraquece diante das grandes estrelas do partido, que se elegeram com folga em primeiro turno: José Serra, em São Paulo e Aécio Neves, em Minas.
Já ACM, que sempre alardeou – “Na Bahia, eu sou capaz de eleger um poste” – teve seu candidato Paulo Souto atropelado por Jacques Wagner e só pode se consolar com a reeleição do neto. Também reeleito, o líder da oposição na Câmara, José Carlos Aleluia – que mais de uma vez discordou de ACMNeto em público – preferiu não pisar no clã. “Foi uma surpresa essa derrota do Paulo Souto. Nenhuma pesquisa disse isso, nem a deles (do PT). Não dá nem para fazer diagnóstico. Não podemos é desanimar. Se a derrota é só de ACM não sei. Só sei que a bancada de deputados vai muito bem”, analisou.
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