02.10.2006
Coluna do Franklin Martins
Lula esperava perder de Alckmin em São Paulo por, no máximo, dez pontos de diferença. Ficou 18% atrás. Como o estado tem quase um quarto do eleitorado de todo o país, os oito pontos adicionais de desvantagem representaram quase 2% a menos para o presidente no quadro nacional. E fizeram a diferença.
Mas não foi apenas em São Paulo que a votação da região Sudeste surpreendeu. Em Minas, segundo maior colégio eleitoral, o comando da campanha de Lula contava em livrar 20 pontos de dianteira. Ela não passou de 10%. Também no Rio, Alckmin teve uma fatia dos votos bem maior do que as pesquisas apontavam.
Está claro que, na reta final da eleição, ocorreu uma forte onda anti-Lula no Sudeste, decisiva para empurrar a disputa para o segundo turno. Nada simboliza melhor essa mudança de clima do que a disputa para o Senado nos três principais estados da região. Eduardo Suplicy, do PT, tido como pule de dez em São Paulo, passou o maior sufoco e por pouco não perdeu para Afif Domingos, que todos supunham destinado apenas a cumprir tabela. No Rio, Francisco Dornelles, quase dez pontos atrás de Jandira Feghalli até as vésperas das eleições, acabou vencendo de maneira inesperada, com uma vantagem razoável: 8%. Em Minas, Eliseu Resende, do PFL, apoiado por Aécio teve o dobro dos votos de Newton Cardoso, que dividiu o palanque com Lula.
A que se deveu a onda anti-Lula na reta final? A uma sucessão de erros da campanha do presidente, que jogaram pela janela uma vitória no primeiro turno que estava praticamente nas mãos. A virada começou a se dar com o escândalo do dossiê, que, a duas semanas do pleito, reavivou de forma dramática a agenda negativa de Lula. Temas como mensalão, quebra de sigilo do caseiro, denúncias de corrupção etc, cujos efeitos pareciam ter sido já absorvidos, foram reavivados pela crise do dossiê. Uma percentagem expressiva (ainda que não espetacular) do eleitorado disposto a votar em Lula balançou com o episódio.
E aí o presidente cometeu um erro decisivo. Contra a opinião da maioria de seus colaboradores, resolveu não comparecer ao debate da Globo. Avaliou que as eleições estavam decididas, não valendo a pena correr riscos desnecessários. Não percebeu que uma parcela dos seus eleitores tinha dúvidas e incertezas sobre o comportamento do governo e do presidente no episódio. Ao faltar ao debate, Lula passou a idéia de que não queria ou não podia dar explicações. Saiu de fininho num momento em que precisava se expor e convencer. As fotos com o dinheiro exibidas nas redes de televisão na sexta e no sábado se encarregaram de consolidar a onda que empurrou a decisão para o segundo.
E agora? Vamos ter uma eleição disputadíssima. Tudo bem, Lula larga na frente, com cerca de 48% dos votos, contra 41% de Alckmin. Mas entra no segundo turno com a crista baixa; Alckmin, ao contrário, está com a confiança renovada. Não é pouca coisa numa campanha de tiro curto como a que temos pela frente. A oposição evidentemente seguirá explorando a carta que impediu a decisão ontem: o escândalo do dossiê. E, nesse ponto, o governo dificilmente sairá da defensiva. Tudo indica que apostará todas as suas fichas naquilo que foi a marca registrada de seu governo: a inclusão social.
De uma coisa não há dúvida: vamos ter quatro semanas de temperatura política elevadíssima. A campanha tende a ser dura, frontal, sangrenta. Lula olha para frente e se dá conta de que precisa conquistar apenas mais 2% do eleitorado. Parece simples. Alckmin, por seu lado, sente que a vitória está ao alcance das mãos: precisa apenas tirar 3% ou 4% dos votos do adversário e trazê-los para o seu balaio. Não é impossível. Os dois têm razão. O fato é que nada está decidido. E tudo pode acontecer.
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