domingo, 5 de novembro de 2006

Paulistas perdem força após eleições



Reeleição de Lula, apesar de sua derrota no maior colégio eleitoral do país, sinaliza mudanças no cenário político, com deslocamento do eixo para Minas e outras unidades da Federação


(Carla Kreefft /Estado de Minas)



A eleição presidencial de 2006 sinalizou mudanças no cenário político nacional, que poderão envolver uma nova correlação de forças regionais e o deslocamento do eixo central de São Paulo para Minas Gerais e outros estados. Desde a eleição de Juscelino Kubistchek, em 1955, que São Paulo sempre foi determinante na escolha do presidente – o nome escolhido pelos paulistas era eleito. Entretanto, agora Luiz Inácio Lula da Silva perdeu a eleição no estado mais importante do país e foi conduzido à Presidência da República, tal como o mineiro Juscelino. O fato é interpretado como uma falta de sintonia entre os interesses paulistas e os dos outros estados, fortalecendo a tese da "despaulistização" da política nacional.

O ex-presidente Itamar Franco (sem partido), um dos críticos da concentração de poder político no estado vizinho, enumera algumas semelhanças entre as eleições de 1955 e a de 2006. Ele lembra que o eleitorado nacional era de pouco mais de 15 milhões de pessoas, mas cerca de 9 milhões compareceram às urnas e concederam a JK 36% dos votos, o que correspondeu a aproximadamente 3 milhões de votos. Mas São Paulo contribuiu com apenas 200 mil votos. A soma das votações dos adversários de JK, Juarez Távora e Ademar de Barros, alcançou, em São Paulo, 1 milhão. "Os dados mostram, como agora, que somando o Nordeste e Minas, São Paulo pode ser vencido", afirma Itamar.

"Juscelino falava da miséria do Nordeste, dos problemas da seca e da necessidade de construção de açudes e eletrificação rural, e saiu vitorioso até mesmo onde seu adversário, Juarez Távora, tinha grande influência, como Pernambuco e Ceará", explica o ex-presidente. Para ele, há uma "necessidade urgente de se deslocar o eixo paulista e mostrar que esse domínio não é bom para o país". Ele também acredita que o governador Aécio Neves (PSDB) tenha um papel importante na "despaulistização" da política nacional e na criação de um novo pacto federativo, "por ser ele, Aécio Neves, e porque Minas sempre representou o ponto de equilíbrio das forças".

Aliados

Mas no campo dos aliados de Lula, a desconcentração do poder político de São Paulo também é desejada. O prefeito de Belo Horizonte , Fernando Pimentel (PT), defendeu a transferência da sede nacional do PT de São Paulo para Brasília e também lembrou JK. "O governo foi muito amplo do ponto de vista regional, Minas não pode se queixar. Nós temos uma quantidade de ministros que jamais tivemos desde o governo JK. Temos Walfrido Mares Guia, Hélio Costa, Luiz Dulci, Patrus Ananias, José Agenor e José Alencar, que é vice-presidente, mas foi ministro da Defesa. Desde JK que não havia isso", declarou o prefeito. Segundo Pimentel, Lula tem consciência da necessidade do deslocamento do eixo político: "Lula tem essa visão. Não sei se isso vai se refletir na composição do ministério, acredito que sim. Mas aí a questão não é ter mineiro ou paulista, é ter os melhores quadros para os cargos".

O presidente do PT regional e candidato derrotado ao governo, Nilmário Miranda, também acredita que Lula tem preocupação com o equilíbrio entre os entes federativos. "A prova disso foi a própria campanha, quando Lula colocou seus projetos como a ferrovia Norte-Sul, a transposição do Rio São Francisco, a nova Sudene, e as hidrelétricas. Aliás, Alckmin falou muito de São Paulo, até por sua experiência como governador, este pode ter sido um dos motivos de sua derrota", conclui Nilmário.

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