Reeleição de Lula, apesar de sua derrota no maior colégio eleitoral do país, sinaliza mudanças no cenário político, com deslocamento do eixo para Minas e outras unidades da Federação
(Carla Kreefft /Estado de Minas)
A eleição presidencial de 2006 sinalizou mudanças no cenário político nacional, que poderão envolver uma nova correlação de forças regionais e o deslocamento do eixo central de São Paulo para Minas Gerais e outros estados. Desde a eleição de Juscelino Kubistchek, em 1955, que São Paulo sempre foi determinante na escolha do presidente – o nome escolhido pelos paulistas era eleito. Entretanto, agora Luiz Inácio Lula da Silva perdeu a eleição no estado mais importante do país e foi conduzido à Presidência da República, tal como o mineiro Juscelino. O fato é interpretado como uma falta de sintonia entre os interesses paulistas e os dos outros estados, fortalecendo a tese da "despaulistização" da política nacional.
O ex-presidente Itamar Franco (sem partido), um dos críticos da concentração de poder político no estado vizinho, enumera algumas semelhanças entre as eleições de 1955 e a de 2006. Ele lembra que o eleitorado nacional era de pouco mais de 15 milhões de pessoas, mas cerca de 9 milhões compareceram às urnas e concederam a JK 36% dos votos, o que correspondeu a aproximadamente 3 milhões de votos. Mas São Paulo contribuiu com apenas 200 mil votos. A soma das votações dos adversários de JK, Juarez Távora e Ademar de Barros, alcançou, em São Paulo, 1 milhão. "Os dados mostram, como agora, que somando o Nordeste e Minas, São Paulo pode ser vencido", afirma Itamar.
"Juscelino falava da miséria do Nordeste, dos problemas da seca e da necessidade de construção de açudes e eletrificação rural, e saiu vitorioso até mesmo onde seu adversário, Juarez Távora, tinha grande influência, como Pernambuco e Ceará", explica o ex-presidente. Para ele, há uma "necessidade urgente de se deslocar o eixo paulista e mostrar que esse domínio não é bom para o país". Ele também acredita que o governador Aécio Neves (PSDB) tenha um papel importante na "despaulistização" da política nacional e na criação de um novo pacto federativo, "por ser ele, Aécio Neves, e porque Minas sempre representou o ponto de equilíbrio das forças".
Aliados
Mas no campo dos aliados de Lula, a desconcentração do poder político de São Paulo também é desejada. O prefeito de Belo Horizonte , Fernando Pimentel (PT), defendeu a transferência da sede nacional do PT de São Paulo para Brasília e também lembrou JK. "O governo foi muito amplo do ponto de vista regional, Minas não pode se queixar. Nós temos uma quantidade de ministros que jamais tivemos desde o governo JK. Temos Walfrido Mares Guia, Hélio Costa, Luiz Dulci, Patrus Ananias, José Agenor e José Alencar, que é vice-presidente, mas foi ministro da Defesa. Desde JK que não havia isso", declarou o prefeito. Segundo Pimentel, Lula tem consciência da necessidade do deslocamento do eixo político: "Lula tem essa visão. Não sei se isso vai se refletir na composição do ministério, acredito que sim. Mas aí a questão não é ter mineiro ou paulista, é ter os melhores quadros para os cargos".
O presidente do PT regional e candidato derrotado ao governo, Nilmário Miranda, também acredita que Lula tem preocupação com o equilíbrio entre os entes federativos. "A prova disso foi a própria campanha, quando Lula colocou seus projetos como a ferrovia Norte-Sul, a transposição do Rio São Francisco, a nova Sudene, e as hidrelétricas. Aliás, Alckmin falou muito de São Paulo, até por sua experiência como governador, este pode ter sido um dos motivos de sua derrota", conclui Nilmário.
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