quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

A crise na aviação civil


Não há necessidade de ser técnico e nem profundo conhecedor do assunto para perceber que tudo aquilo que diz respeito a iniciativa privada e se regula pelo chamado mercado, num e em muitos momentos será sempre fator de crise. O cancelamento de vôos da TAM é um exemplo disso.



As grandes companhias aéreas em todos os lugares do mundo são subvencionadas por dinheiro público. Logo em seguida ao ataque de 11 de novembro o presidente Bush aprovou um pacote de auxílio e ajuda às companhias norte-americanas com o objetivo de evitar falências diante do quadro desfavorável.



O sucateamento dos aeroportos e dos serviços de controle de vôos vem da incapacidade dos governos em perceberem questões simples, o aumento do número de vôos a cada ano. A preocupação básica parecer ser sempre a de construir gigantes inúteis (Itamar Franco construiu um, ainda inacabado para satisfazer seu ego e sua região eleitoral), em detrimento da qualidade dos serviços prestados. Serve de campo de pouso para moscas, urubus, etc.



A grande massa de recursos vai para as subvenções, os subsídios, quaisquer que sejam as formas que se apresentem. Apontar exceções como a GOL é ridículo. A companhia em breve futuro vai virar uma VASP da vida.



Ou uma VARIG.



A empresa gaúcha durante anos foi exemplo de tudo no setor. Chegou a ser escandalosamente beneficiada pela ditadura quando da liquidação da PANAIR DO BRASIL, numa manobra lamentável e mal explicada do governo Castelo Branco.



É óbvio que os controladores de vôos estão na chamada operação padrão. Trabalhando dentro das normas internacionais e abandonando o clássico jeitinho brasileiro de dobrar o serviço por uma grana a mais, se é que essa grana existe. É possível que dado ao controle militar da aviação civil o Brasil, isso seja apenas uma espécie de “prontidão”, mesmo sendo o trabalho de natureza civil.



Viraram o bode expiatório da crise que é mais ampla. A queda do avião da GOL às vésperas do primeiro turno das eleições presidenciais só foi a gota d’água.



Esperar que o Congresso Nacional produza trabalhos de porte, no caso uma ampla radiografia do setor de aviação civil no País, é bobagem. Deputados e senadores têm outras preocupações e quando precisam de transporte aéreo o fazem em condição privilegiada em relação aos mortais comuns.



Seria indispensável e permitiria uma conclusão simples: nada existe que a iniciativa privada tome conta que funcione em função do interesse público. Só o tal mercado.



O governo Lula foi pego com a calça às mãos e como todos os governos se atrapalhou sem saber o que fazer, pois também não tem um diagnóstico claro da situação, ou se existe, não se interessou em tê-lo e tomar as providências devidas. À hora de vestir a calça, encontrar a solução, vestiu o esquerdo no direito e acabou caindo. Até levantar vai ser o diabo.



Não há como imaginar crescimento econômico com setores estratégicos dominados e controlados pela iniciativa privada com as benesses das agências criadas no governo FHC.. Iniciativa privada acima de um milhão de dólares é quadrilha legalizada pela ordem capitalista.



A aviação é um setor estratégico e deve ser estatizado.



Existe um avião desgovernado por conta das privatizações de FHC e que vai levando o governo na ilusão que aos sessenta anos se o cara não mudou de idéia é burro. Ou perdeu o tempo da história.



Noutro canto dessa história está aí a EMBRAER entregue aos EUA.



Toda essa confusão em aeroportos tanto pode ser vista pela ótica miúda da incúria administrativa, como pelo caos gerado pelas tais regras de mercado e a TAM acaba de confirmar isso.



Passageiros viram objetos que vão sendo transferidos de vôos para que aviões saiam dos aeroportos lotados sem qualquer espécie de perda para as empresas.



A crise é bem mais ampla do se que se imagina e a raiz de tudo está nas verbas governamentais que sustentam empresários defensores da livre iniciativa, ou seja, no estado privatizado.



É difícil inclusive opinar com maior riqueza de dados, mas é fácil perceber o pulo de gato das empresas. Sem falar, evidente, na saída de cena da VARIG.



O que parece ser um aumento de passageiros para outras empresas, o é num certo sentido, lógico, é uma grande chance de buscar mais grana pública junto ao governo. Não se tem notícia de empresário quebrado no setor, falo do ponto de vista pessoal. É só olhar o tal conselho que administrava a VARIG.



E estatizar não significa, como dizem os defensores do neoliberalismo, sucatear, ou transformar o setor, qualquer um, em um imenso paquiderme. Basta que as regras sejam de ampla transparência e participação de cada categoria.



O que existe nessa crise são apenas negócios, os eternos negócios, onde só perdem passageiros e de onde só sai dinheiro público. As burras que enchem são as dos donos.



Os controladores de vôos nesse trem todo são apenas os garçons da Ópera do Malandro de Chico Buarque. A ponta mais fraca.

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