sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

O Homem inquisidor dos dias de hoje, já não aceita determinados fatos, pois tem como comprová-los







Noutro dia, numa discussão pra lá de interessante, estávamos discutindo o papel da Mídia no contexto político nacional.

Foi quando meu amigo disse que não se pode confiar no que está escrito, exceção se faz à Biblia, livro sagrado e fonte da verdade.

Por incrível que pareça e talvez isso choque você, eu discordei do amigo sobre a definição que ele dá a Biblia e dou os meus motivos: A Biblia foi escrita por HOMENS. São escribas humanos, com suas falhas e características inerentes ao ser HUMANO.

Aprofundei no estudo de fatos narrados na Bíblia e, um que nos enchem os olhos e nos impressionam é a travessia do MAR VERMELHO.


Relata-nos, os textos sagrados, que o povo hebreu ao sair do Egito, defrontou-se com o Mar Vermelho, que se dividiu em duas muralhas após Moisés estender a mão sobre ele, de modo que todo o povo o atravessou a pé enxuto. Os egípcios, que os perseguiam, foram tomados pelas águas quando se juntaram novamente, perecendo todo o exército do Faraó.

Apesar de que esse “milagre” sempre nos impressionou, nunca deixamos de questionar se realmente isso aconteceu como está relatado na Bíblia. Pelo que vimos nos filmes épicos é muita água sô! Veremos, neste estudo, se conseguimos desvendar esse mistério.

Se você pesquisar, poderá encontrar pelo menos dez Bíblias como fonte, e somente a Bíblia de Jerusalém traz a verdadeira denominação do local da passagem, cuja narrativa é a que coloco nas passagens abaixo.

Ex 13, 17-18: Ora, quando o Faraó deixou o povo partir, Deus não o fez ir pelo caminho no país dos filisteus, apesar de ser o mais perto, porque Deus achara que diante dos combates o povo poderia se arrepender e voltar para o Egito. Deus, então, fez o povo dar a volta pelo caminho do deserto do mar dos Juncos, e os israelitas saíram bem armados do Egito.
Em nota de rodapé explicam:

A designação “o mar dos Juncos”, em hebraico yam sûf, é acréscimo. O texto primitivo dava apenas uma indicação geral: os israelitas tomaram o caminho do deserto para o leste ou o sudeste. – o sentido desta designação e a localização do “mar de Suf” são incertos. Ele não é mencionado na narrativa de Ex 14, que fala apenas do “mar”. O único texto que menciona o “mar de Suf” ou “mar dos Juncos” (segundo o egípcio) como cenário do milagre é Ex 15,4, que é poético.


Ex 14, 21-28: Então Moisés estendeu a mão sobre o mar. E Iahweh, por um forte vento oriental que soprou toda aquela noite, fez o mar se retirar. Este se tornou terra seca, e as águas foram divididas. Os israelitas entraram pelo meio do mar em seco; e as águas formaram como um muro à sua direita e à sua esquerda. Os egípcios que os perseguiam entraram atrás deles, todos os cavalos de Faraó, os seus carros e os seus cavaleiros, até o meio do mar... Moisés estendeu a mão sobre o mar e este, ao romper da manhã, voltou para o seu leito. Os egípcios, ao fugir, foram de encontro a ele. E Iahweh derribou os egípcios no meio do mar. As águas voltaram e cobriram os carros e cavaleiros de todo o exército de Faraó, que os haviam seguido no mar; e não escapou um só deles.
Esta narrativa apresenta-nos o milagre de duas maneiras:
1º) Moisés levanta a sua vara sobre o mar, que se fende, formando duas muralhas de água entre as quais os israelitas passam a pé enxuto. Depois, quando os egípcios vão atrás deles, as águas se fecham e os engolem. Esta narrativa é atribuída à tradição sacerdotal ou eloísta.
2º) Moisés encoraja os israelitas fugitivos, assegurando-lhes que nada têm que fazer. Então, Iahweh faz soprar um vento que seca o “mar”, os egípcios ali penetram e são engolidos pelo seu refluxo.
A rota inicial do Êxodo

Partiram de Ramsés para Sucot, daí seguiram a Etam, de onde foram até Piairot, ponto em que partiram e atravessaram o mar, acampando em Mara, no Deserto de Etam. (Ex. 13,20; 14.2.9.15; 15,22; Nm 33, 5-8). Ver no mapa 1 abaixo, cuja rota está traça em linha vermelha:


Observar no Mapa 1 (destaque da área realçada no retângulo azul no Mapa 2) que na região da passagem pelo “Mar Vermelho” existe até uma rota comercial (linha pontilhada), demonstrando que não se necessitava de nenhum milagre para passar pelo local. Keller, num mapa colocado em seu livro E a Bíblia tinha razão..., informa que essa área é denominada de “mar dos Juncos”.

Bem abaixo, ainda no Mapa 1, na região indicada como de ajuntamento de água, se refere ao Golfo de Suez, não se trata especificamente do Mar Vermelho, que fica bem mais abaixo, conforme se pode ver mais claramente no Mapa 2.


No Google Earth - A MARAVILHA DA TECNOLOGIA


Coordenadas = "(Suez)" lat=29.968189, lon=32.547211


Observe a linha vermelha - CANAL DE SUEZ
Aproximando sobre o canal

Aproximando mais ainda



Temos então pela geografia da região, que o Mar Vermelho é, vamos assim dizer, divido pela Península do Sinai em dois golfos, o de Suez e de Ácaba. Como se diz popularmente “cada um é cada um”, ou melhor, geograficamente falando, golfo é golfo, não é o mar propriamente dito.

A arqueologia confirma os fatos?


Agora sim é que iremos ver o que temos mesmo sobre esse assunto. Vejamos:

Esse “milagre do mar” tem ocupado incessantemente a atenção dos homens. O que até agora nem a ciência nem a pesquisa conseguiram esclarecer não é de modo algum a fuga, para a qual existem várias possibilidades reais. A controvérsia que persiste é sobre o cenário do acontecimento, que ainda não foi possível fixar com certeza.

A primeira dificuldade está na tradução. A palavra hebraica “Yam suph” é traduzida ora por “mar Vermelho”, ora por “mar dos Juncos”. Repetidamente se fala do “mar dos Juncos”: “Ouvimos que o Senhor secou as águas do mar dos Juncos[1] à vossa entrada, quando saístes do Egito...” (Josué 2.10). No Velho Testamento, até o profeta Jeremias, fala-se em “mar dos Juncos”. O Novo Testamento diz sempre “mar Vermelho” (Atos 7.36; Hebreus 10.29).

Às margens do mar Vermelho não crescem juncos. O mar dos juncos propriamente ficava mais ao norte. Dificilmente se poderia fazer uma reconstituição fidedigna do local – e essa é a segunda dificuldade. A construção do Canal de Suez no século passado modificou extraordinariamente o aspecto da paisagem da região. Segundo os cálculos mais prováveis, o chamado “milagre do mar” deve ter acontecido nesse território. Assim, por exemplo, o antigo lago de Ballah, que ficava ao sul da estrada dos filisteus, desapareceu com a construção do canal, transformando-se em pântano. Nos tempos de Ramsés II, existia ao sul uma ligação do golfo de Suez com os lagos amargos. Provavelmente chegava mesmo até mais adiante, até o lago Timsah, o lago dos Crocodilos. Nessa região existia outrora um mar de juncos. O braço de água que se comunicava com os lagos amargos era vadeável em diversos lugares. A verdade é que foram encontrados alguns vestígios de passagens. A fuga do Egito pelo mar dos Juncos é, pois, perfeitamente verossímil. (E a Bíblia tinha razão..., pág. 146).

[1] As traduções em português consultadas citam sempre “mar Vermelho”. (N. do T.)
As observações de Keller se encaixam perfeitamente com algumas das explicações dadas pelos tradutores, ficando desta forma sem propósito qualquer argumento contrário, a não ser que algum dia a ciência venha em socorro aos que querem enxergar as coisas sob ponto de vista religioso, sustentando os fatos como milagres.

Fatos semelhantes

A respeito da passagem do mar Vermelho, Josefo nos relata outro acontecimento idêntico:
“... ninguém deve considerar como coisa impossível, que homens, que viviam na inocência e na simplicidade desses primeiros tempos, tivessem encontrado, para se salvar, uma passagem no mar, que se tenha ela aberto por si mesma, quer isso tenha acontecido por vontade de Deus, pois a mesma coisa aconteceu algum tempo depois aos macedônios, quando passaram o mar da Panfília, sob o comando de Alexandre, quando Deus se quis servir dessa nação para destruir o império dos persas, como o narram os historiadores que escreveram a vida desse príncipe. Deixo, no entanto, a cada qual que julgue como quiser”. (História dos Hebreus, pág. 87).
Observar que nesta fala de Josefo é dito dum fato semelhante acontecido com os macedônios, que também a pé enxuto passaram o mar da Panfília.

No livro de Josué (3,14-17) o povo de Israel atravessou o rio Jordão, após as suas águas terem se dividido. Muitos também têm esse episódio como um milagre, entretanto vejamos as seguintes notas explicativas dos tradutores:

Sabemos que as águas do Jordão, no seu leito estreito e profundo, vão minando as margens, provocando de vez em quando grandes desabamentos de terras que podem obstruir por completo, a torrente. A partir desse lugar, o leito permanece seco até que as águas rompem uma passagem e encontram de nosso o seu caminho. A história conta-nos que isso aconteceu em 1267, 1914 e 1927. Em nada diminuiria a ação de Deus se se tivesse servido miraculosamente, nesse momento exato, destes elementos locais. (Bíblia Sagrada, Ed. Santuário, pág. 286 em relação à Js 3, 16).

Relaciona-se esse fato com o ocorrido em 1267, segundo o cronista árabe [de nome Huwairi, conforme Ed. Paulinas, pág. 222] o Jordão cessou de correr durante dez horas, porque desmoronamentos do terreno haviam obstruído o vale, precisamente na região de Adamá-Damieh. (Bíblia de Jerusalém, pág. 317, em relação à Js 3, 16).

... O Jordão, de fato, é um pequeno rio que, em alguns lugares, permite a travessia a pé enxuto, principalmente graças à abundância de pedras em seu leito. (Bíblia Sagrada, Ed. Vozes, pág. 238, em relação à Js 4, 3).


CONCLUSÃO:


Como disse o autor desse estudo, e sobre suas palavras, faço um paralelo sobre a MÍDIA NOS DIAS DE HOJE:
De nada adianta usar as interpretações (im) piedosas da Mídia para sustentar determinados fatos, pois ao homem inquisidor dos dias atuais, certas alegações não estão tendo mais vez, já que ele prefere que se busque a verdade dos fatos. Devemos, mesmo à custa de muita indignação por parte de algumas pessoas, apontar os equívocos de interpretação, as interpolações, bem como as deliberadas adulterações, para mostrar a verdade limpa e pura, que muito mais agrada que uma mentira evidenciada pelos fatos.

Devem, pois, a Mídia rever seus conceitos e, diga-se de passagem, em sua maioria são dum passado remoto que, por força dos conhecimentos atuais, tornaram-se obsoletos. “A verdade ainda que tardia”, diria Tiradentes.

Referência Bibliográfica:
Mar Vermelho: a travessia que não existiu
Paulo da Silva Neto Sobrinho

A Bíblia Anotada. Trad. PINTO, O. C. São Paulo: Mundo Cristão, 1994.
Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002.
Bíblia Sagrada - Edição Barsa. Rio de Janeiro: Catholic Press, 1965.
Bíblia Sagrada - Edição Pastoral. São Paulo: Paulus, 2001.
Bíblia Sagrada. Aparecida, SP: Santuário,1984.
Bíblia Sagrada. Brasília, DF: SBB, 1969.
Bíblia Sagrada. Petrópolis, RJ: Vozes, 1989.
Bíblia Sagrada. São Paulo: Ave Maria, 1989.
Bíblia Sagrada. São Paulo: Paulinas, 1980.
ESPINOSA, B. Tratado Teológico-Político. trad. AURÉLIO, D. P. São Paulo; Martins Fontes, 2003.
JOSEFO, F. História dos Hebreus. Trad. PEDROSO, V. Rio de Janeiro: CPAD, 1990.
KELLER, W. E a Bíblia tinha razão... São Paulo: Melhoramentos, 2000.

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