Foi por isso que os governadores da oposição sairam resmungando da cerimônia de lançamento. A queixa maior era de não terem sido ouvidos antes. Não havia mais nada a reclamar. O plano atacava as questões necessárias e a oposição se via encurralada. Teria que apoiar o programa para não ser acusada de frear o crescimento e via os méritos correrem para o governo.Lula, finalmente, teve a coragem de aumentar o investimento público para obras de infra-estrutura. O capital não se move sem benesses e cabe ao Estado levar adiante projetos de maior envergadura, podendo ser acompanhado depois pelo investimento privado.
Como um bom enxadrista, o presidente Lula iniciou em vantagem a partida da sua própria sucessão, em 2010. O lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) colocou a oposição na defensiva e permitiu aos aliados do presidente anteverem um cenário positivo para a próxima eleição presidencial. Se o PAC der certo, e as possibilidades são boas, o programa terá para o candidato do governo em 2010 o mesmo impacto que o preço do arroz e do saco de cimento tiveram para Lula na última eleição.
O PAC é um programa para os mais pobres e para as regiões menos desenvolvidas do país. Seus projetos concentram-se no Norte e Nordeste, fortes eleitores de Lula, e atacam problemas que afetam, sobretudo, a população mais necessitada: transporte de massa, saneamento e habitação.
O PAC encontrou uma forma engenhosa de não reduzir o superávit primário, excluindo os recursos do Projeto Piloto de Investimentos do seu cálculo. Os monetaristas já antecipam que o Estado vai aumentar seus gastos sem cortar despesas, mas se os investimentos forem bem feitos vai haver crescimento e tudo se equilibra.
O Brasil não fazia um grande programa de investimentos públicos desde o segundo PND do Geisel, na segunda metade dos anos 70, o que ajuda a entender o crescimento pífio das últimas duas décadas e meia. A oposição também chia que o programa não traz nada de novo, apenas projetos existentes e obras em andamento. Como disse o presidente do BNDES, Demian Fiocca, o mérito do PAC é fazer estes projetos acontecerem. Obras estruturantes não são pensadas do dia para a noite. Hidrelétricas, estradas e portos já estão planejados há muito tempo, faltava recurso e estímulo para tirá-las do papel.
Dizer se o PAC dará certo é um exercício de futurologia. Mas como indagou o cientista político Leoncio Martins Rodrigues, em entrevista ao Estadão, “o que é não dar certo”? Leoncio mesmo responde que “só não dará certo se os pobres não forem devidamente contemplados pelas medidas adotadas”.
Se Lula atinge um objetivo eleitoral, também é fiel a um compromisso assumido no início do primeiro governo, quando disse no Fórum Social Mundial de 2003, em Porto Alegre, que iria fazer um governo voltado para os pobres.
Com o PAC, Lula poderá atingir dois objetivos decisivos com uma só jogada: melhorar a vida dos mais pobres e fazer o país crescer a taxas decentes. Como disse Ciro Gomes, em entrevista à Reuters, “o processo político vai se dar na economia”. Se o Brasil conseguir crescer a 5% nos próximos três anos, Lula poderá fazer o seu sucessor ou até pensar em um terceiro mandato, hipótese aventada por Leoncio Martins Rodrigues.
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