Restos mortais nunca esquecidos
Mateiros do Araguaia apontam locais em que podem estar enterrados corpos de guerrilheiros
Leonel Rocha
Guedes, de 86 anos, junto a cruz, emfazenda da região: Não sei quem está enterrado aí, mas sempre me disseram que eram alguns dos paulistas
Marabá — Segredo guardado há mais de 30 anos pelas Forças Armadas está prestes a ser desvendado. Trata-se da localização dos corpos de militantes do PCdoB que participaram da guerrilha do Araguaia, na década de 1970, e morreram em combates com os militares na região do Bico do Papagaio, no Sudeste do Pará. Mateiros que, na época, eram posseiros na região e que foram obrigados a atuar como guias do Exército revelaram ao Estado de Minas pelo menos quatro locais onde estariam os restos mortais de vários militantes. Alguns dos guias ajudaram a enterrar os corpos.
Segundo os mateiros, no pasto da Fazenda Real, localizada na altura do quilômetro 29 da OP03, estrada vicinal na zona rural do município de Brejo Grande do Araguaia, foram enterrados muitos dos combatentes do PCdoB. O local é conhecido pelos agricultores da região como o cemitério da guerrilha, ou cemitério do Curió, numa referência ao apelido do então capitão Sebastião Rodrigues de Moura, comandante da Operação Sucuri , encarregada de exterminar o grupo de revoltosos. O militar hoje está na reserva e é prefeito da cidade de Curionópolis, assim chamada em sua homenagem.
Curió sempre negou a existência deste cemitério, segundo seu assessor de imprensa, João Batista de Souza. Ele lembra que o atual prefeito foi procurado há quase dois anos por um emissário do governo que tentava localizar o cemitério e informou nada saber. Curió raramente trata do assunto. Costuma se desviar de entrevistas alegando que o Exército é que deve fornecer as informações, já que ele atuou como um oficial da instituição em missão oficial de combate à guerrilha. O militar prepara um livro, no qual pretende contar a história detalhada das ações que participou.
No local existem três cruzes utilizadas em sepulturas e há vestígios de covas. “Este cemitério existe desde a época da guerrilha. Não sei quem está enterrado aí, mas sempre me disseram que eram alguns dos paulistas”, disse o agricultor aposentado José Guedes, de 86 anos, que atuou como guia dos militares. Atualmente, o cemitério clandestino fica no pasto da fazenda de 74 alqueires do empresário João Carlos de Jesus. O dono original do lote foi o mateiro Abel Honorato de Jesus, conhecido como Abelim. Ele recebeu a terra em pagamento pela atuação como guia e depois vendeu a propriedade.
Apesar de ser homem simples, Guedes participou da intimidade dos comandantes militares, inclusive de Curió. O agricultor conta que o oficial morava em uma casa construída a um quilômetro do cemitério clandestino. Lá, segundo ele, eram comemoradas as prisões ou as mortes dos guerrilheiros. “Participei de pelo menos umas três festas com churrasco na casa do Curió”, lembra.
A casa do militar e o cemitério ficavam no chamado Castanhal da Viúva. O cearense Guedes recebeu um lote de 100 hectares como pagamento pelo serviços prestados. Chegou a derrubar a mata, formar pasto, mas vendeu a propriedade em 1999 por R$ 16 mil e comprou uma casa em Brejo Grande do Araguaia. (Com Eumano Silva)
. Escavações no local errado(?)
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