terça-feira, 10 de julho de 2007

Cristo: no voto, na paisagem, na história




Foi sem sombra de dúvida absolutamente justa a inclusão do Cristo Redentor, monumento do Rio, no alto do Corcovado, entre as sete maravilhas do mundo, através do voto livre e popular que se estendeu pelo planeta, da mesma forma que a imagem daquele que dividiu o tempo humano. Não há nem pode haver corte maior na história universal: antes e depois dele, em todas as línguas, em todos os cultos, em todos os momentos. Para sempre.

A estátua de 38 metros de altura é sete vezes maior que o David de Michelangelo, imortalizado na Academia de Florença. Constitui um marco eterno na arquitetura brasileira e universal, símbolo mais humanista que religioso, porque admirado por todos, sem exceção, ao mesmo tempo realçando a paisagem belíssima da cidade e sendo igualmente realçado por ela. Obra do homem e cenário encontram-se e completam-se no cenário deslumbrante refletido na Lagoa Rodrigo de Freitas.

Mas sua importância visual não se esgota aí. A cultura que a envolve continua. Projeto do engenheiro Heitor da Silva Costa e do artista plástico Carlos Oswald, o monumento foi esculpido por Paul Landowski, francês de origem polonesa. Getulio Vargas era o presidente do País e o prefeito do Rio, Pedro Ernesto.

Em 1859 o padre lazarista Pedro Maria Boss sugeriu o monumento religioso à princesa Isabel, portanto no tempo do Império. O projeto não prosseguiu, embora a estrada que dá acesso ao Corcovado tivesse sido iniciada em 1824. Completada só em 1885, quando atingiu o cume. A ferrovia, hoje modernizada, começou a funcionar em 1906, governo Rodrigues Alves. Primeira eletrificada do Brasil. Tem 3 mil e 800 metros de extensão. Em 1921, aproximava-se o primeiro centenário da independência e a idéia do monumento foi retomada.

Em 1926, o presidente Artur Bernardes sancionou a lei abrindo crédito especial para a obra. Houve também subscrição. Foi inaugurada a 12 de outubro de 1931, recebendo iluminação concebida pelo cientista Guglielmo Marconi, o inventor do rádio, que morreu seis anos depois e está sepultado na igreja de Santa Croche, em Florença, ao lado de Michelangelo, Dante Alighieri, Maquiavel, Galileu, Américo Vespúcio, Giotto, gênios que a cidade da renascença ofereceu ao mundo. Entre eles, claro, Leonardo da Vinci, mas este se encontra encantado em Amboise, na França, onde viveu o final de sua vida.

O Cristo Redentor, além de símbolo humano e religioso, encontra-se também vinculado a um salto tecnológico extraordinário, neste caso, as ondas hertzianas que Marconi descobriu unindo a eletricidade ao som. Em 36, um ano antes de sua morte, Marconi esteve no Brasil inaugurando a Rádio Tupi do Rio de Janeiro. O invento de Marconi, que revolucionou a informação no mundo, a ela incorporando bilhões de seres humanos, deu origem ao surgimento da primeira emissora do País, a Difusora Fluminense, em 1922. A história, que não espera o amanhecer, como disse Helio Silva, se escreve assim.


Pedro do Couto

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