sexta-feira, 31 de agosto de 2007

AINDA AS VAIAS NA ABERTURA DO PAN

Algo de muito baixo marcou a abertura do PAN, a tal da vaia ao Lula. Porém, não foi apenas contra o presidente que se usou a vaia a serviço da grosseria gratuita. Abro parênteses: Lula não estava em campanha ou evento estritamente político, liberou soma gigantesca para realização do Pan e tinha o direito adquirido de abrir os Jogos Pan-Americanos. Nesta ocasião, a vaia proporcionou o vexame e a acefalia do país. Em outros momentos, como nas aparições das delegações americana e venezuelana, a vaia demonstrou a falta de compreensão coletiva sobre o espírito esportivo e o papel dos atletas.

Nas competições de ginástica artística, americanas de 14 anos que executaram com muita beleza seus movimentos, após uma vida dedicada a treinos, foram vaiadas por platéia em grande parte de adultos. Não é ridículo? Como latino-americanos em geral, brasileiros rechaçam os Estados Unidos pela incompreensão ianque sobre o resto do mundo e pela insensibilidade em tratar o Outro.

Nos primeiros dias, um gesto preconceituoso marcou a chegada do mais rico ao país: 'Welcome to Congo!' era a frase escrita sobre o Brasil na área da delegação americana. A polêmica foi remediada rapidamente pelo convidado, que demitiu o responsável e pediu desculpas públicas. Com vaias injustas e despropositadas, mostramos, exatamente como eles, pouca civilidade no contato com o Outro. Que as vaias se voltem também contra a platéia que não sabe usá-las.

No III Festival da Canção de 1968, Caetano reagiu a elas: 'Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder?' Hoje, ninguém mais quer tomar o poder. Mas estes que vaiam a esmo pretendem criticá-lo, reformá-lo. Mesmo sem roupas de plástico ou dotes musicais, eu pergunto: 'Mas é isso que é o povo que diz que quer criticar o poder?'

Entre as mil hipóteses para a vaia inaugural do Pan, alguns especularam não ter sido especificamente contra Lula, mas contra a impunidade, a corrupção, o Congresso, a República etc. Ou seja, contra um moinho de vento. Foi, na verdade, uma manifestação sem alma ou perspectiva, vazia dentro de um Maracanã lotado.

A vaia que desmoraliza uns não basta para construir a reputação de outros. Os brasileiros encontram dificuldades para ir além da vaia e, ao esperar respostas vindas de Brasília, escutam apenas as propostas do seu próprio silêncio.
Carla Marques

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