Por Bernardo Joffily
O líder do PSDB na Câmara, deputado Antonio Carlos Pannunzio (SP), apresentou em plenário uma moção contra a CPI. Com o apoio formal do líder do PDT, Miro Teixeira (RJ), disse que "a Câmara não pode trazer para cá os problemas que dizem respeito ao senador Renan Calheiros e seus desafetos" - comprando a versão da Veja, principal órgão do Grupo Abril, de que a CPI é uma "vendeta ao melhor estilo mafioso", supostamente movida por Renan por estar "acuado" pelas "revelações" da revista.
A lei proíbe o controle estrangeiro
Mas uma Comissão Parlamentar de Inquérito não seria o lugar ideal para a Abril provar que, como diz a Veja desta semana, não tem "nada a esconder", pois a venda foi "uma operação comercial absolutamente legal"? Por que não demonstrá-lo, em vez de acusar a CPI de "ameaça à liberdade de imprensa", "espúria na origem", "vendeta", "chantagem" e, "se seguir adiante", "um desperdício de tempo e dinheiro públicos"?
A CPI pretende investigar se o Grupo Abril vendeu à multinacional espanhola Telefônica em outubro passado, por R$ 922 milhões, o controle acionário do grosso dos seus negócios na área de TV a cabo. A lei brasileira proíbe que capitais estrangeiros tenham o controle acionário de grupos de comunicação. Além disso, quer saber se a venda não traz prejuízos à concorrência em São Paulo, onde a empresa espanhola (com participação de fundos de pensão dos Estados Unidos) já opera na área da telefonia.
A reação de Chinaglia
Arlindo Chinaglia pediu "prudência" em resposta à moção de Pannunzio. "A assessoria jurídica da Câmara está dando continuidade à análise do pedido de CPI, e estas discussões em plenário são um elemento a mais para embasar uma decisão", disse.
Horas antes, em reunião com os líderes na Casa, Chinaglia dissera que a Consultoria Jurídica da Câmara avalia que há fato determinado e que as assinaturas conferem. E não dera muitas esperanças à "bancada da Abril", mesmo sem se mostrar tampouco um entusiasta da CPI.
"Não tenho alternativa. Tenho que cumprir o Regimento e a Constituição. Me parece que há fato determinado e que as assinaturas conferem. Essa CPI é para valer? É o que vocês querem?", perguntara aos líderes.
Na sua matéria, altamente editorializada, a Veja pressiona forte por uma "alternativa" bem diferente. "O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, tem poderes para deter essa marcha da insensatez, e se o fizer estará prestando um serviço à imagem da instituição que preside", dispara.
Telefonemas contra o requerimento "clandestino"
O constrangimento de Chinaglia diante da necessidade de "cumprir o Regimento e a Constituição" tem fortes motivos. O Grupo Abril, e em especial a Veja, são a ponta de lança de uma tropa de choque midiática que muito político pensa duas vezes antes de contrariar.
A própria forma de coletar as assinaturas em apoio à CPI retratou esse temor. Segundo a própria Veja, um requerimento de CPI foi encaminhado pelo líder do PT, Luiz Sérgio (RJ), apenas para concentrar as pressões dos "opositores da CPI". Enquanto isso, o deputado Wladimir Costa (PMDB-PA), que a revista desqualifica por ser "apresentador de programas populares de rádio e cantor de carimbó, ritmo popular paraense", coletava apoios para outro requerimento, "completamente clandestino".
Quando o "requerimento clandestino" chegou à Mesa da Câmara, com 182 assinaturas, de deputados de 15 partidos do governo e da oposição, e dos 27 estados, a Abril reação foi imediata. No dia seguinte, conforme apurou o Vermelho, diretores da empresa telefonaram pessoalmente para um certo número de deputados signatários, pressionando-os sem meias palavras para que retirassem o apoio.
Mas já era tarde. Esgotado o prazo regimental, a única forma de inviabilizar o pedido seria um requerimento assinado por mais da metade dos 181 deputados signatários. Nem a temida Veja teria como produzir 92 marchas-à-ré.
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