Em horário nobre na televisão, com a voz da atriz Fernanda Montenegro, a companhia anuncia seu vínculo com o País e com o meio ambiente. Isso apesar de os movimentos sociais denunciarem que os rumos da empresa são decididos, hoje, pelo consórcio Valepar (que tem a presença do banco Bradesco) e pelos acionistas preferenciais (62% deles estrangeiros). A Vale ressalta o seu caráter de preservação do meio ambiente, quando o trabalho de formação para o plebiscito aponta o contrário: a produção da companhia explora a camada vegetal da Amazônia com o objetivo da exportação.
Brutalidade
No dia 22 de agosto, a Companhia também apostou na repressão e no silêncio dos meios massivos como forma de aplacar o movimento. Em atividade da jornada nacional em defesa da educação pública, um grupo de 250 estudantes e militantes de movimentos sociais entraram nas instalações da empresa Ferrovia Centro Atlântica (FCA), pertencente à Vale, para dar visibilidade à campanha do plebiscito popular.
Os estudantes deixavam claro que faziam um protesto pacífico, para denunciar a venda da Companhia, que foi privatizada em 1997, com um valor considerado irregular. A polícia negociava a saída dos manifestantes, porém, de súbito, a pressão de advogados da Vale alterou a história e 136 jovens foram algemados e levados para a delegacia. 27 deles eram menores. As mulheres foram coagidas pela polícia feminina e submetidas a revistas íntimas repetidas vezes. A atitude policial, sob o mando da direção da Vale, gerou inúmeras notas de repúdio dos movimentos sociais.
Ataque ao imaginário
Silvio Mieli, jornalista e professor da faculdade de Comunicação e Filosofia da PUC-SP, aponta que a escolha de Fernanda Montenegro para a publicidade da Companhia Vale do Rio Doce não foi à toa. Primeiro porque uma empresa pertencente à CVRD já havia patrocinado um filme estrelado por Fernanda, em 2005, intitulado Casa de Areia (House of Sand, no título original, em inglês). Na ótica de Mieli, utilizar uma figura conhecida como a atriz vincula a marca da empresa a uma idéia de cultura nacional. Assim como a empresa Nike tenta vincular-se ao esporte, mais do que apenas anunciar a sua mercadoria.
É comum observarmos artistas colocando o seu trabalho a serviço de uma corporação, mesmo que não esteja necessariamente de acordo com o seu conteúdo. A marca, segundo o professor da PUC-SP, é a protagonista e os artistas se sujeitam de modo passivo apenas a ser o veículo das corporações, em constante ofensiva sobre o imaginário da sociedade.
Oportunismo
Essa tática atingiu o seu extremo em 2006 quando a empresa Aracruz Celulose veiculou uma publicidade, em época de Copa do Mundo, associando a empresa ao esporte símbolo da cultura nacional. A propaganda contou com personalidades como o cantor Seu Jorge e Pelé, enquanto, ao mesmo tempo, a Aracruz expulsava comunidades indígenas e quilombolas de áreas no Espírito Santo.
"Em momentos importantes para o Brasil, ao invés de ajudar a construir alguma coisa, essas figuras intelectuais e do meio artístico não reagem ou então participam de forma domesticada. Se o artista quisesse adotar esse discurso conservador, tudo bem, mas que fosse a partir de debates, senão fica uma coisa muito oportunista", comenta Mieli, para quem esta atitude escapa totalmente do papel questionador que a arte deve assumir, no campo simbólico. "O papel do artista não é o de estetizar o discurso do capital", critica.
Violação
O Ministério Público do Trabalho (MPT) da cidade de Marabá, no Pará, realizou na última semana uma inspeção judicial em duas mineradoras de propriedade da Companhia Vale do Rio Doce. A ação foi programada depois que a 1ª Vara do Trabalho do município de Parauapebas (PA) recebeu mais de oito mil denúncias trabalhistas nos últimos 18 meses contra a empresa. A inspeção foi realizada na mina de ferro de Carajás e na mina de cobre de Sossego.
Segundo o Ministério do Trabalho, as denúncias em grande maioria são de horas extras não pagas e carga horária excessiva dos turnos. Na inspeção, foi constatada a procedência das denúncias e o órgão fiscalizador considerou "violação coletiva dos direitos dos trabalhadores". Foi concluído que os trabalhadores tinham carga horária de oito e 12 horas e o tipo de trabalho foi considerado "penoso e exaustivo".
O MPT propôs à companhia assinar um Termo de Ajustamento de Conduta. A estatal tem um prazo de dez dias para dar resposta e se rejeitar a proposta, o caso deve ser levado à Justiça do Trabalho. De acordo com o procurador do trabalho, Francisco Cruz, se multada, a empresa deverá pagar R$ 69 milhões em indenizações.
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