segunda-feira, 3 de setembro de 2007

A baixaria de Danuza Leão contra Lula

por Osvaldo Bertolino*

Num momento em que existe um volume inédito de informações à disposição do público, é possível que nunca o cidadão brasileiro tenha estado tão mal informado como hoje. É um paradoxo dos nossos dias. E um problema para todo mundo.

A coluna de Danuza Leão publicada no jornal Folha de S. Paulo no domingo dia 2 de setembro é uma dessas peças que devem figurar na história como exemplo de sordidez. Intitulada "Ali Babá", numa alusão ao presidente Luiz Inácio Lula Silva, ela usa a sua habitual boca-suja para faltar com o respeito, com o decoro e com a mais simples regra da boa educação. Danuza Leão é uma dessas aberrações da "grande imprensa" que tem desempenhado com competência o papel de desinformar. Para quem tem a necessidade de decidir, basear-se em informação errada, distorcida, viciada ou simplesmente falsa significa, freqüentemente, tomar decisões equivocadas ou deixar de tomar decisões certas.

Ela pratica aquele tipo jornalismo que trata quem não professa seu cinismo como inimigo. Criticar essas víboras é receita quase certa para entrar em sua lista de retaliações. Eis outra característica marcante dessas figuras desonestas: elas inspiram em muita gente medo em vez de admiração. São tiranos, fascistas e nazistas - adeptos da tese de que uma mentira mil vezes repetida transforma-se em verdade. A deformação moral dessas pessoas se manifesta de diversas maneiras, mas seu foco mais visível está na obsessão de apresentar um quadro de catástrofe terminal para o governo do presidente Lula.

Jornalismo deformado

Resultado: esses cérebros peçonhentos raramente conseguem ver uma nuvem sem logo anunciar uma inundação. Nesse tipo de anúncio, eles têm a contribuição milionária de especialistas (os principais dirigentes dos partidos vincados ideologicamente com a marca da direita) em vaticínios funéreos. Desgostam, evidentemente, da guinada decisiva para o país que representou a eleição e a reeleição de Lula. Pela primeira vez o Estado foi posto às ordens de todos. O gatilho da integração social foi acionado - coisa que não existia, apesar de a cidadania universal estar consagrada na lei.

Danuza Leão, por exemplo, num momento de nostalgia escreveu em sua coluna na Folha de S. Paulo do dia 14 de janeiro de 2007: "As crianças não falavam alto nem brigavam e quando, às vezes, ficavam coçando um dedinho do pé, a filha da empregada ia ver se não era bicho de pé. Ficava todo mundo em volta torcendo para ser; ela pegava uma agulha, passava no álcool, acendia um fósforo, para esterilizar, e com a ponta da agulha levantava a pele mais grossa, depois a mais fina, e todo mudo torcia para o bicho sair inteiro. Quando isso acontecia, ficava um buraquinho no pé, mas sem uma só gota de sangue." Haja arrogância e preconceito!

Manobras dessa envergadura não encontram sustentação sob nenhum ponto de vista ético. Ocorre que esse modelo de jornalismo foi montado para ser uma poderosa fábrica de ''crises'' em situações como essa. E a fórmula é infalível: prognosticam-se o caos e, com isso, os ''escândalos'' conquistam as primeiras páginas. Esse jornalismo deformado e dirigentes políticos direitistas acabam formando uma espécie de consórcio que se auto-alimenta e se manipula mutuamente na produção e na divulgação de más notícias.

Partida de xadrez

A overdose de denúncias, acusações e condenações sumárias resultantes disso acaba por provocar sérias distorções na qualidade de informação que o público recebe. Não que a realidade brasileira seja maravilhosa - e ninguém diz isso. Ela é apenas diferente da realidade traçada por essa gente inescrupulosa que se imagina Deus. Para eles, a realidade é só aquilo que aparece em suas opiniões - o que está lá existe; o que não está não existe. Isso é claramente percebido em certas entrevistas. Responder às perguntas de determinados jornalistas, hoje, vai se tornando um exercício cada vez mais parecido com uma partida de xadrez, onde é necessário antecipar os três ou quatro lances seguintes do adversário.

A pergunta não é simplesmente uma pergunta: muitas vezes é uma armadilha destinada a extrair alguma declaração que será usada contra o entrevistado nas perguntas à frente. A pessoa que está sendo inquirida precisa, assim, calcular cuidadosamente tudo o que diz. Se disser A, será perguntada adiante a respeito de B ou C; se disser Y, abrirá espaço para que lhe perguntem sobre X ou Z, e assim por diante. Entrevistas supostamente jornalísticas se transformam em interrogatórios. O fato é que muitos jornalistas, quando se dirigem a alguém, não querem realmente obter uma informação. Querem apenas obter alguma forma de confirmação ou justificativa para aquilo que já decidiram escrever - por já terem decidido, interiormente, que sua visão pessoal das coisas equivale à realidade.

Frêmito acusatório

Declarações, fatos ou números que se contraponham a eles são ignorados; só é levado ao público o que combina com aquilo que esse tipo de jornalista quer dizer. Particularmente presente nas emissões de rádio e televisão, essa postura vai se tornando cada vez mais comum, também, na imprensa escrita. As acusações, convenientemente, baseiam-se em fontes anônimas. E, quando a mídia tenta apresentar testemunhas capazes de provar alguma coisa, tudo o que aparece são obscuros personagens que não testemunham nada e dizem, no fundo, apenas ter ouvido falar da história. Mas isso não é suficiente para coibir o frêmito acusatório. Topar tudo para conseguir um suposto ''furo'' tem um perverso efeito colateral: a corrosão do caráter do jornalista.

Um jovem que chegue a uma redação e seja confrontado com a realidade cotidiana de trapaças de variadas espécies para a obtenção de notícias - mentiras sobre a natureza da reportagem para conseguir entrevistas e gravadores escondidos para colher flagrantes, para ficar apenas em dois exemplos - é rápida e inevitavelmente engolfado pela frouxidão dos valores. Mas é possível que os brasileiros venham a discernir o que é escândalo de verdade e o que é escândalo fabricado. Seja como for, a conclusão é inescapável: gente como Danuza Leão - uma figura que deveria lavar a boca três vezes antes de atribuir a palavra "mensaleiro" a pessoas como José Dirceu - demonstra a que abismo o jornalismo da "grande imprensa" chegou.

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