segunda-feira, 3 de setembro de 2007

NOVAS investigações da PF, feitas pelo delegado Zampronha, descobriu-se ainda um novo foco de confusão, que pode ser explosivo. AÉCIO NEVES ENVOLVIDO

A Polícia Federal garante que a quebra de sigilo bancário da construtora mineira ARG, ligada à tradicional família Géo, de Belo Horizonte, será incorporada ao caso do MENSALÃO. Há dois meses, ISTOÉ revelou que a ARG também fez saques de R$ 102 milhões no Banco Rural, na boca do caixa, e a empresa doou recursos a vários candidatos do PSDB – entre eles, o atual governador Aécio Neves, que recebeu uma contribuição declarada de R$ 300 mil.


No capítulo tucano, Valério também ficou muito irritado com as declarações recentes do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que explorou politicamente o julgamento do STF. A vários amigos, Valério sustenta que sua relação comercial com o PSDB, que para muitos é o “embrião do mensalão”, não nasceu apenas em Minas, mas também em Brasília. Afinal, no governo FHC, sua agência já mantinha as contas dos Correios, do Banco do Brasil, da Visanet e do Ministério das Comunicações, então comandado por Pimenta da Veiga, que pode ser considerado um amigo mais do que íntimo de Valério.

EM SETE CONVERSAS COM A PF, VALÉRIO AJUDOU A MAPEAR O ESQUEMA TUCANO

Pimenta da Veiga, por sinal, ainda é um dos interlocutores mais freqüentes do operador do mensalão. É a ele, entre outros amigos, que Valério recorre quando precisa enviar sinais ao ministro Walfrido dos Mares Guia – o que fará novamente nos próximos dias, em busca de algum acordo.


Além de ter sido o vice de Azeredo na campanha mineira de 1998, Walfrido foi ministro do Turismo na mesma época em que Emerson Palmieri, o ex-tesoureiro do PTB denunciado pelo STF por lavagem de dinheiro e corrupção passiva, foi diretor da Embratur. “Se o Walfrido não defender o Marcos Valério, ele cai em desgraça total”, diz um importante consultor que presta serviços ao governo federal.

A cada dia que passa, no entanto, é mais difícil a construção de um acordo com Valério, que tem todos os seus bens bloqueados.


O fator medo de cadeia ainda não estava presente nas análises dele”, diz um amigo. Agora, todas as cinco acusações do procurador geral Antonio Fernando contra Valério foram acolhidas pelo STF por unanimidade, com dez votos a zero, o que já antecipa uma tendência de mérito no julgamento final que deverá ocorrer até 2010. “A expectativa é a condenação”, diz Antonio Fernando. Afinal, o próprio relator do caso, ministro Joaquim Barbosa, definiu Valério como “um verdadeiro profissional do crime”. Hoje, um acordo que envolva apenas dinheiro talvez não baste. E travar os processos no Supremo Tribunal Federal é impossível.

Em meio a esse turbilhão de emoções, Valério ainda vive uma pequena crise familiar. Sua esposa, Renilda, está cansada, não suporta mais a pressão sobre o marido e enxerga uma grande hipocrisia em toda essa história. Se dependesse dela, Valério contaria logo tudo o que sabe e tentaria viver em paz – mesmo que tivesse de pagar um preço alto por isso.


Foi justamente para reconstruir a harmonia no lar que o empresário arrendou uma fazenda, há poucos meses, na cidade de Caetanópolis, a 120 quilômetros de Belo Horizonte. Lá, a filha Natália, de 15 anos, poderá voltar a saltar e o hipismo é algo que aproxima o casal. Também na fazenda, Valério poderá discutir a nova estratégia jurídica com seu pequeno “núcleo duro”, que envolve o amigo Rogério Tolentino, o criminalista Marcelo Leonardo e o tributarista Rodolfo Gropen. Está praticamente decidido que Valério entrará com uma ação de cobrança de R$ 12 milhões contra o Banco do Brasil e a Visanet, em função de serviços publicitários que teriam sido realizados e estariam comprovados por notas fiscais, mas não foram pagos.


Valério já fez uma notificação extrajudicial e uma judicial, mas não obteve resposta. Com a nova ação, ele pretende não só receber os recursos como também desmontar a tese de que a publicidade era “fictícia” e de que os recursos seriam exclusivamente direcionados para os políticos aliados. Valério ainda sustenta que as únicas fontes do mensalão são os empréstimos feitos pelos dois bancos mineiros ao PT.


Se o Rural poderia ganhar R$ 200 milhões com a incorporação do Mercantil do Brasil, o BMG, da tradicional família Pentagna Guimarães, disparou na liderança do crédito consignado e, só no primeiro semestre deste ano, lucrou R$ 253 milhões. A Polícia Federal ainda tem outras hipóteses para a origem dos recursos. Nas últimas semanas, Zampronha ouviu alguns empresários e ainda investiga se havia operações “back-to-back” no Rural – são aquelas em que um doador de campanha faz um depósito não declarado lá fora antes que os recursos sejam internados no País.


A PF também tem interrogado vários ex-funcionários da DNA e da SMPB, em Belo Horizonte, em busca de novas provas. Valério garante que é perda de tempo. O esquema em si – empréstimos feitos por banqueiros que buscavam benefícios no governo – já estaria plenamente desvendado. O que a sociedade ainda desconhece é o nome de todos os políticos, de governos atuais e pretéritos, que sabiam da história e deram apoio às transações feitas por Valério. Há quem garanta até que Valério já gravou a sua versão definitiva dos fatos num DVD de 11 horas: ele, a câmera e a verdade.


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