Ontem, por quarenta votos contra trinta e cinco (e seis abstenções), o plenário do Senado decidiu pela absolvição do presidente Renan Calheiros, contrariando todas as previsões veiculadas pela grande mídia que já o havia julgado e condenado por antecipação.
Desde o primeiro momento, depois de proclamado o resultado, repórteres e articulistas caíram em campo para darem a mais ampla repercussão ao fato, mesclando, em sua tendenciosa cantilena, lamentação e hipocrisia. Leitores, ouvintes e telespectadores continuarão como estiveram durante os últimos noventa e seis dias, desde que a revista Veja publicou as primeiras acusações contra o senador: sem acesso ao verdadeiro mérito da questão.
Na verdade, há duas questões de mérito.
A primeira, só os senhores senadores provavelmente conhecem: os argumentos da acusação e da defesa, que apreciaram em sessão secreta. Isto porque nós, a parcela da população informada através da mídia, só tivemos acesso às denúncias. E qualquer criança sabe que por mais complexo e aparentemente comprometedor que seja o caso, só se pode formar uma opinião consistente com o conhecimento do conjunto contraditório dos fatos e dos argumentos.
A outra questão de mérito, sob determinado sentido a mais importante, esta esteve clara o tempo todo: a intenção do partido único midiático e da oposição de, afastando Renan Calheiros, conquistarem o cargo de presidente do Senado, que equivale ao comando do Congresso Nacional. E, a partir daí, tentarem inviabilizar politicamente o governo do presidente Lula.
Agora o Senado tem o dever de divulgar o teor do debate realizado ontem, de modo a contribuir para que se crie um clima favorável ao exame sereno, isento e ao mesmo tempo rigoroso do assunto. Mas isso dificilmente acontecerá, pois a pressão midiática tucano-pefelista deve prosseguir.
Crescimento do PIB? Polêmica em torno da CPMF? Implementação do PAC? Mudanças na macroeconomia? Se você pretende priorizar esses temas, tire o cavalo da chuva. Se depender da grande mídia, a pauta agora será a responsabilização do governo pela absolvição do presidente do Senado - tratada como fracasso de uma suposta peleja pela moralidade pública.
À base governista não caberá jamais obstaculizar qualquer apuração de irregularidades de que venha a ser acusado este ou aquele parlamentar ou governante; mas cabe, sim, principalmente, exercer sua força no sentido de trazer à luz a agenda do desenvolvimento - esta sim, do verdadeiro interesse da nação e do povo.
*Luciano Siqueira, Médico
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