A denúncia contra o senador tucano e ex-governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo, por suposto envolvimento no chamado mensalão tucano, não foi a única má notícia a contaminar o Congresso Nacional do PSDB, no qual o partido apresentará o seu novo programa político. Hoje, os tucanos também souberam que o TSE cassou integralmente o tempo de Tv do partido. o PSDB pretendia usar nesta quinta-feira seus dez minutos de propaganda partidária gratuita no rádio e na TV.
Ao invés de falar dos projetos do partido, os tucanos tiveram que responder sobre a denúncia contra Azeredo, apresentada nesta quinta-feira ao Supremo Tribunal Federal pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, por suposta participação em esquema de caixa 2 durante campanha eleitoral ao governo de Minas Gerais em 1998 (leia mais aqui <http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=28670> ).
Os tucanos rejeitaram coincidência entre a denúncia contra Azeredo e o dia de abertura de seu congresso. O encontro é realizado em Brasília, com a participação de 1,2 mil pessoas ligadas à agremiação. O objetivo é definir os novos integrantes do Diretório Nacional e discutir a atualização do programa partidário tucano, lançado em 1988.
A maioria das lideranças ouvidas deram um voto de confiança a Antonio Fernando de Souza, também autor da denúncia contra o chamado "mensalão do PT." "Confio plenamente na isenção e na honradez do procurador-geral da República. Ele pode, como todo ser humano, errar e acertar, mas ele erra e acerta sempre de boa fé", afirmou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).
"Culpa no cartório"
Enquanto a maioria dos tucanos saiu em defesa da inocência de Azeredo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não foi tão enfático e disse que o ex-governador tem que responder por seus atos. "Quem tem culpa no cartório, paga...Se houver culpa, o que vai fazer? Que assuma a responsabilidade", disse Fernando Henrique ao chegar ao congresso do PSDB.
Fernando Henrique, no entanto, rejeitou comparação entre o mensalão tucano e o mensalão petista. "Mensalão é outra coisa" reagiu. "É o que o presidente Lula fez, e que consiste em gente receber dinheiro para ficar com o governo. Em Minas, é financiamento de campanha, que também é grave", desconversou.
O senador Sérgio Guerra (PE), que será conduzido à presidência do PSDB na sexta-feira, espera que Azeredo prove que não tinha envolvimento com o caso. "Acredito na inocência do senador e na palavra dele. Ele foi levado a se defender de forma concreta e absoluta e espero que o faça com muito sucesso."
O atual presidente do partido, Tasso Jereissati (CE), disse desconhecer a denúncia da procuradoria. "A denúncia foi feita hoje (quinta-feira), mas acredito que (Azeredo) terá todas as condições para se defender", afirmou.
O ex-candidato tucano à presidência da República, Geraldo Alckmin, disse que o partido vai aguardar o teor da denúncia do procurador. "Certamente, o senador Eduardo Azeredo vai prestar todos os esclarecimentos. Não temos a menor dúvida que o senador não teve benefícios de natureza pessoal", disse Alckmin.
O senador Azeredo divulgou nota descartando a existência de mensalão em Minas Gerais e disse que a representação será oportunidade para provar a sua inocência.
"As questões financeiras envolvendo a campanha eleitoral de 1998 não foram de minha responsabilidade", afirma a nota.
A denúncia também atingiu o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, que decidiu pedir afastamento temporário do governo para se defender.
"Mais à esquerda" e "esclerosado"
Na parte do 3º Congresso do PSDB que sobrou para falar dos projetos partidários, uma das coordenadoras do evento, a senadora Marisa Serrano, defendeu a construção de "uma nova carta de intenções, que será levada ao País por meio dos prefeitos, governadores e do nosso futuro presidente da República".
Marisa Serrano afirmou que o PSDB nasceu a partir da discussão de idéias com a população, proposta encampada pelo ex-governador paulista Mário Covas, que "levou a cada rincão do Brasil as propostas do partido. Idéias para construir não só com um discurso, mas ações concretas". Ainda conforme a senadora, o congresso é resultado das idéias propostas em várias cidades que receberam os seminários temáticos do partido ao longo do ano.
"Hoje contamos com a presença de representantes de todo o País. É importante que os pontos do novo programa também sejam levados aos Estados e municípios", sustentou. A senadora, no entanto, não falou sobre o que vem a ser este "novo programa".
Durante a abertura, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), disse que é "preciso renovar algumas linhas e diretrizes" e que a convenção é importante para que o partido não fique "esclerosado".
O senador Sérgio Guerra (PE), que encabeça a chapa única para a nova direção do PSDB e substituirá o atual presidente, Tasso Jereissati (CE), também defendeu um projeto novo para a legenda. Ele disse que a perspectiva do partido deve ser, a partir de agora, "andar, crescer, se abrir, somar e se atualizar".
Em recente declaração à imprensa, Guerra opinou que o novo programa partidário busca levar o PSDB "mais para a esquerda" e deixá-lo mais próximo das bases sociais. "O partido se desloca cada vez mais para o centro, para o centro-esquerda e para uma posição progressista, que é a sua origem e que vai ser o seu futuro", disse Guerra em entrevista ao site Congresso em Foco.
Segundo ele, "ser da esquerda é arrancar o povo que está na pobreza para melhorar, e não acomodar o povo lá embaixo como o PT faz. Distribuir pobreza. A gente não quer isso, a gente quer que todos melhorem e que o emprego aumente. Apontar a porta de entrada da Bolsa Família e a porta de saída. Da Bolsa Família para o emprego. Do emprego para a cidadania. Da cidadania para liberdade econômica, política, emancipatória. Um partido assim, que não tenha timidez de dizer o que pensa".
Apesar das proclamações do futuro presidente da legenda, o partido fundado por Mário Covas tem sido identificado no mundo político e acadêmico como uma legenda altamente vinculada com os princípios do neoliberalismo e já vem sendo rotulado como à direita do campo político.
Durante a abertura, líderes tucanos avaliaram como positivas medidas implementadas durante o governo Fernando Henrique Cardoso, que participa do encontro à tarde. Entre as ações consideradas bem-sucedidas, Jereissati citou as privatizações da Companhia Vale do Rio Doce e do sistema de telefonia.
"As linhas telefônicas eram consideradas patrimônio e era necessário declará-las no imposto de renda. Após as privatizações, o acesso aos serviços foi democratizado", destacou Jereissati, sem mencionar o fato de que o valor dos serviços públicos aumentaram escandalosamente após as privatizações e as empresas agora privatizadas batem sucessivos recordes de reclamações pelos maus serviços prestados aos consumidores.
Cassado: tempo de TV
Além de ter que se explicar sobre a denúncia envolvendo o ex-presidente da legenda, Eduardo Azeredo, as lideranças tucanas também não gostaram nenhum pouco de saber, no dia do Congresso, que o programa do PSDB, que tinha exibição marcada para hoje (22), não será apresentado em cadeia nacional. A agremiação teve tempo integral cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O Partido dos Trabalhadores (PT) ajuizou Representação (RP 944) contra o PSDB e contra o ex-candidato à presidência da república, Geraldo Alckimin.
O PT alegou que houve má utilização do espaço destinado à divulgação do ideário partidário no dia 22 de junho do ano passado, data utilizada para veiculação do programa gratuito do partido. O tempo destinado ao PSDB teria sido utilizado para a promoção pessoal de Geraldo Alckmin, configurando assim propaganda extemporânea. Crime eleitoral que prevê aplicação de multa, de acordo com § 3º do art. 36 da Lei 9.504/97.
A decisão da Corte do dia 30 de outubro acompanhou, por unanimidade, o voto do ministro-relator José Delgado, que condenou o PSDB a ficar sem os 10 minutos de propaganda partidária em rádio e TV a que tinha direito no segundo semestre de 2007.
O PSDB também entrou com representação para suspender a propaganda partidária do PT alegando o mesmo motivo: uso eleitoral dos programas.
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