quarta-feira, 21 de novembro de 2007

RECAÍDA COLONIAL

MAIR PENA NETO


Nada como um chega pra lá no bolso do capital para a Espanha colocar panos quentes na recaída colonial do rei Juan Carlos, que achando que só presta contas a Deus mandou o presidente da Venezuela se calar na recente Cúpula Ibero-Americana, em Santiago.

Atitude festejada pelos fiscais de plantão de Hugo Chávez, poucos diagnosticaram nas palavras do rei uma grosseria inadmissível na relação entre chefes de Estado e de governo. Um comportamento típico da coroa que via nas colônias seres inferiores de quem podiam por e dispor.

A tagarelice de Chávez muitas vezes beira a inconveniência, mas a acusação de fascista ao ex-presidente espanhol José Maria Aznar estava no contexto de uma discussão política. Enquanto o atual presidente José Luiz Zapatero agia diplomaticamente, cobrando respeito a quem já comandou o destino dos espanhóis, Chávez fazia política abertamente, dando nome aos bois, o que costuma chocar os falsos puritanos.

Franco também liderou os espanhóis por muito tempo e por isso será preciso reverenciá-lo? Chávez tem uma questão particular com Aznar, a quem acusa de ter apoiado o golpe que o afastou temporariamente do poder em 2002, e precisa provar isso. Independente do fato, Aznar anda pela América Latina pregando contra os governos populares e ainda está fresca na memória sua acusação imediata ao ETA quando explodiram as bombas em Madri, em 2005, no terrível atentado que, comprovou-se posteriormente, era de autoria da Al Qaeda.

Passado o momento do conflito, Chávez replicou ameaçando rever os negócios das empresas espanholas na Venezuela, e aí a situação mudou de figura. Enquanto a questão era diplomática, vá lá, mas mexer com os interesses econômicos são outros quinhentos.

O chanceler espanhol teve que participar de um café da manhã com os empresários do país para acalmá-los e pediu publicamente que a controvérsia fosse esquecida para não afetar os interesses empresariais na Venezuela. A petrolífera Repsol acertou sua permanência no país após Chávez mudar as regras do jogo na exploração do petróleo na bacia do rio Orinoco e não quer mais turbulências em seu negócio. O mesmo desejam os bancos Santander e BBVA, com presença crescente no importante mercado venezuelano.

Como na época da colônia, a metrópole não sobrevive de sua economia intrafronteira. E se hoje não manda mais nos países sul-americanos, precisa de seus mercados para expandir seus negócios. E que nenhuma bravata real se coloque no meio do caminho.

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