Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o coronel reformado do Exército e ex-ministro da ditadura Jarbas Passarinho defende a participação do Brasil na Operação Condor - articulação repressiva dos regimes militares sul-americanos na década de 70, agora na mira de uma ação que corre na Justiça Italiana. Ele defende as extradições de oposicionistas à margem da lei (''Isso não é crime'') e ao finam deixa transparecer o estado de espírito atual dos homens da ditadura: ''Os mais amargurados se perguntam se não era melhor ter entregue o país aos comunistas em 68''.
Passarinho: "Uma injustiça brutal"
Aos 87 anos, o ex-ministro do Trabalho, da Educação e da Justiça é uma das poucas vozes ativas na defesa da ditadura brasileira, em artigos esporádicos que publica. Nessa entrevista ele alega desconhecer que os presos entregues pela Operação Condor eram em seguida assassinados pelos órgãos repressivos de seus países.
''Eu só tinha a informação de que havia uma lista com nomes de pessoas que tinham ficha em seus países. Quando a pessoa queria entrar no Brasil, se não fosse clandestinamente, se o nome dela estivesse nessa lista, era impedida e voltava para o país de origem. Nós prendíamos e mandávamos de volta, onde ela ia ser julgada. Isso não é crime'', argumenta.
''Se soubesse que, mandando para a Argentina, a pessoa ia ser morta, tenho a convicção de que o governo não mandaria. Não era garantido que voltava para ser morto. E também a Argentina não pedia para matar, mas para julgar'', diz ainda Passarinho, repetindo os recentes argumentos do general da reserva Agnaldo Del Nero Augusto em O Estado de S. Paulo. Alega também que ''o Brasil se recusou a participar'', conforme um relatório da CIA, em ''um treinamento para assassinos argentinos, chilenos e uruguaios, destacados para assassinar no exílio as pessoas consideradas perigosas.''
Passarinho considera ''ridículo'' as pessoas ''que dizem que não podia extraditar senão de acordo com a lei. A gente estava em uma guerra! Uma guerra não-declarada. Não ia prender o sujeito para depois o Supremo Tribunal Federal se pronunciar. Nós estávamos com o AI-5.''
''É de uma injustiça brutal'', queixa-se o coronel'', que alega ter ''a consciência tranqüila'' pois ''não tenho as mãos sujas de sangue''. Reclama também que a Lei da Anistia '' nunca foi lei de efeito binário, sempre foi para um lado só'', dando a entender que favoreceu os oponentes da ditadura.
O tom defensivo e amargo do coronel atesta até que ponto os responsáveis pela ditadura de 1964-1985 consideram-se derrotados e injustiçados. Na época da imposição do Ato Institucional nº 5, que em 2008 completará 40 anos, foi Passarinho que disse ao então general-presidente Arthur da Costa e Silva que ''enveredar pelo caminho da ditadura pura e simples'' era ''claramente'' a alternativa ''que está diante de nós''. E aconselhava: ''Às favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência".
Da redação, com Folha de S. Paulo
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