domingo, 27 de janeiro de 2008

Senador sem voto gera nova polêmica

Levantamento mostra o perfil dos suplentes de senador. As escolhas mais comuns são políticos, grandes empresários, parentes, pessoas de confiança e vários apadrinhados dos parlamentares
Helayne Boaventura - Correio Braziliense

Brasília – Até alguns anos atrás, quando os escândalos de corrupção ainda não abalavam o Senado Federal, políticos costumavam dizer em tom jocoso não haver posto melhor do que o de senador. O eleito desfrutava de oito anos de mandato com o objetivo principal de elaborar sonolentos discursos em plenário. Parlamentares ainda mais irônicos acrescentavam existir situação mais confortável: a dos suplentes de senador, que sem um voto podiam chegar ao paraíso político. Sem precisar fazer campanha, o perfil dos substitutos só vêm à tona quando o titular se afasta do posto. É o caso recente de Edison Lobão Filho, que assumirá no Senado no lugar do pai, novo ministro de Minas e Energia.

O Estado de Minas pesquisou o perfil dos dois suplentes de cada um dos 81 senadores e descobriu que a composição da chapa segue principalmente dois critérios. O primeiro é político: os suplentes são empresários que financiam as campanhas eleitorais e nomes escolhidos pelo partido ou pela coligação. Existem pelo menos 55 suplentes com perfil político e 30 grandes empresários. O segundo é pessoal: os candidatos escolhem uma pessoa de confiança, como parentes e ex-funcionários.

Menos de um quarto dos suplentes teve alguma experiência política antes de candidatar-se a substituto de senador. No caso deles, a escolha ocorreu devido a uma imposição do partido ou para compor uma coligação com chances de vitória. Foi o que ocorreu, por exemplo, na chapa encabeçada por Alfredo Nascimento (PR-AM), atual ministro dos Transportes. Ele já tinha ocupado o posto e havia grandes chances de retornar à função. A perspectiva ajudou a atrair o PT para a aliança. “A militância do PT embalou, na perspectiva de ter um senador do partido”, relata o senador João Pedro (PT-AM), primeiro suplente na chapa. O segundo substituto é o chefe de gabinete do ministro, Aluisio Augusto de Queiroz Braga, secretário de Finanças de Manaus na gestão de Nascimento na prefeitura.

Outro grupo numeroso é o dos empresários. Para formar as chapas foram escolhidos pelo menos 30 donos de grandes patrimônios. É o caso do senador Adelmir Santana (DEM-DF), proprietário de uma de rede de farmácias com mais de 20 lojas no Distrito Federal e presidente do Instituto Fecomércio. Ele ganhou quatro anos de mandato, pois o titular Paulo Octávio renunciou para ser vice-governador do DF. Muitos desses empresários-suplentes financiaram a campanha. Santana garante não ter sido o seu caso: “Não sou nem parente nem financei a campanha. Não sei quantos votos agreguei nem quantos tirei da chapa”, reconhece. Há quem tenha financiado, porém, metade da campanha, como foi o caso de Wellington Salgado (PMDB-MG), suplente do agora ministro das Comunicações, Hélio Costa.

Apadrinhados

Em terceiro lugar nos grupos de suplentes estão os técnicos que já exerceram cargos em governos, apadrinhados por políticos. Eles são pelo menos 16. O atual diretor do Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antonio Pagot, por exemplo, é o primeiro suplente do senador Jayme Campos (DEM-MT). Alguns desses técnicos chegaram a se envolver em escândalos de corrupção, como Uilton José Tavares, segundo suplente do senador Papaléo Paes (PSDB-AP). Ex-secretário de Saúde do Amapá, foi preso pela Polícia Federal por envolvimento em um esquema de fraude em licitações.

Além de Edinho Lobão, há pelo menos sete suplentes que fazem parte da mesma família dos titulares: o senador João Tenório (PSDB-AL) é cunhado e sócio de Teotônio Vilela, governador de Alagoas; Adalgisa Carvalho é esposa do senador Mão Santa; Geovani Borges é irmão do titular Gilvam Borges; Euclides Mello e Ada Mercedes de Mello são primos dos ex-presidente Fernando Collor; Antonio Carlos Júnior é filho do ex-senador ACM, já falecido; e o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), que também teve como suplente o tio Eraldo Macedo, falecido em 2006. Há ainda pelo menos sete suplentes com experiência no sindicalismo, sete com cargos no Judiciário, três esposas de políticos, três pastores da Igreja Universal do Reino de Deus e quatro com outras profissões. Na lista de 162 suplentes, 18 não foram localizados.

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