terça-feira, 18 de março de 2008

José Dirceu analisa a possível aliança PT-PSDB em Minas

A tentativa do prefeito de Belo Horizonte (MG), Fernando Pimentel, de dar continuidade à aliança PT-PSB que ocupa o Executivo na capital mineira há 16 anos tem tido destaque nacional. Isso acontece pelo apoio do governador Aécio Neves e do PSDB à aliança de esquerda que governa a cidade e que pretende governar o Estado. O governador dá um caráter antipaulista à aliança, e a situa como uma ponte entre o PT e o PSDB, que, segundo ele e os apoiadores que surgiram depois (uns de boa fé, outros por puro oportunismo), só não são aliados por razões menores e locais.

Em paralelo a essa discussão, começou uma lengalenga despolitizada, que pretende reduzir as divergências e as diferenças entre o PT e o PSDB a uma questão paulista, como se os dois partidos não tivessem ocupado posição antagônica em outros estados do Brasil e a nível nacional. Basta citar os casos recentes do Pará e Ceará, onde os tucanos estavam no poder e nós os derrotamos, no primeiro estado, liderando a cabeça de chapa, no segundo, em coligação com o PSB.

Isso não significa que não podemos fazer alianças pontuais ou mesmo históricas com partidos de direita ou de centro-direita, o caso do PSDB, que caminhou da esquerda progressista para a centro-direita. Dou vários exemplos: nos unimos ao PFL na Campanha das Diretas; ao PSDB da Bahia, na luta contra o Carlismo; na própria Vinhedo (SP), onde agora vivo, o PT já ocupou a vice-prefeitura do PSDB por duas vezes;e Jorge Viana governou o Acre, em seu primeiro mandato, com um vice do PSDB. Portanto, se acontecer, não será a primeira vez que fazemos alianças com o PSDB em cidades ou Estados.

No próprio MDB, na luta contra a Ditadura, coexistiram diferentes forças políticas e ideológicas: conservadores, progressistas, comunistas, católicos e sociais-democratas. Também não estão excluídas alianças no Parlamento ou a nível nacional para realizar reformas ou enfrentar crises e emergências, como foi o caso da transição do governo FHC ao governo Lula, ou quando o governo abriu um diálogo com o PSDB, para votar a reforma da Previdência e a tributária. Ou ainda, noutro exemplo, no contexto da necessidade de uma reforma política.

Mas querer reduzir as divergências e diferenças entre o PSDB e o PT a questões menores, como a disputa paulista, ou ao papel deste ou daquele líder do PT ou do tucanato, evidentemente, é um engodo. E não contribui para o diálogo e a convivência entre os partidos no país. Estranho que esse esforço de diluição das diferenças tão fundamentais entre o PT e o PSDB aconteça exatamente num momento de radicalização do tucanato, que se recusa a dialogar com o governo. Repare-se, nesse sentido, o caso da CPMF e da reforma tributária, quando sua cúpula dá sinais claros de que pretende inviabilizar a governabilidade do presidente da República. Sem falar nas inúmeras tentativas da oposição de derrubar Lula e desconstituir o PT.

As divergências e diferenças partidárias entre o PT e o PSDB são programáticas, da origem e dos objetivos, da base social dos partidos, um popular e outro de elite, um socialista e outro social-democrata, um de esquerda, outro de centro-direita, com concepções antagônicas e/ou divergentes sobre o desenvolvimento do Brasil, sobre o Estado e sobre a democracia. Os tucanos surgiram de uma ruptura da frente peemedebista em 88, e o PT surgiu das lutas populares e sindicais da década de 70 e das esquerdas que combatiam a ditadura. Cada partido expressa bases e interesses sociais diferentes e antagônicos em muitos casos. Uma simples comparação entre os oitos anos de FHC e os cinco de Lula é mais do que suficiente para demarcar as diferenças entre os partidos.

Uma contribuição importante que podemos dar à democracia no Brasil é esclarecer para a sociedade essas diferenças e divergências, e exercê-las no governo e no Parlamento. Isso, sem prejuízo do diálogo e da convivência democrática, muito menos de alianças pontuais e locais. E, principalmente, sem estigmatizar aqueles que as expõem à sociedade.

Fonte: Jornal do Brasil

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