Vítimas do massacre de 1996
O governo do Estado pagará um total de R$ 1,2 milhão a esses 19 sobreviventes e familiares em precatórios que variam de R$ 30 mil a R$ 90 mil, cumprindo decisão judicial de 2005 a título de indenização por danos morais e materiais.
A determinação da Justiça também obriga o Estado a pagar, entre outros benefícios, pensões especiais vitalícias e tratamento médico aos sobreviventes. Os valores das indenizações foram determinados conforme a gravidade dos casos e discutidos entre o advogado das vítimas, Walmir Brelaz, e a equipe de governo que negociou o pagamento dos precatórios.
Segundo o advogado, dos 75 feridos sobreviventes do massacre, 50 foram localizados e, desses, 20 já recebem pensões especiais vitalícias do Estado. Outras 30 esperam aprovação de projetos de lei para garantir o benefício.
Pesadelos
Com 36 anos na época, Antonio Alves de Oliveira estava na linha de frente do grupo de sem terra que bloqueava a rodovia PA-150 no dia em que ocorreu o conflito. Foi atingido por três balas, uma no calcanhar direito, outra no joelho direito e outra na coxa. À época, era enfermeiro do trabalho e tem histórico no MST: ''Eu nasci, cresci e vou morrer no movimento'', disse. ''Nós buscamos na Justiça o pagamento dessas indenizações e sei que esse dinheiro não vai nos fazer esquecer nunca daquele dia. Sonho com isso até hoje e nossos filhos também se envolvem, porque passam a sofrer junto com a gente.''
Hoje, aos 48 anos, Antonio diz ainda sofrer com as seqüelas físicas provocadas pelos tiros. Desde 1999, recebe um salário mínimo como pensão, dinheiro que, segundo ele, é insuficiente para manter-se. ''Não posso andar direito, como não posso andar tenho problema na coluna, porque as balas ainda estão alojadas no meu corpo'', afirmou.
José Carlos Moreira tinha apenas 17 anos quando testemunhou o conflito na ''Curva do S''. Estava ao lado dos pais, que integravam o MST. Durante os disparos, recebeu um tiro na cabeça. Até hoje a bala continua alojada no crânio. A pensão que recebe do Estado é a única fonte de renda. ''Por causa dela (bala) tenho problemas de memória e eu não tenho acompanhamento de especialista para amenizar o problema'', destacou ele, que mora no assentamento ''17 de Abril'', onde aconteceu o confronto há 12 anos.
Como José Carlos, outros sobreviventes afirmam que, apesar de a Justiça determinar o pagamento, o ato não vai amenizar o trauma psicológico das vítimas. As viúvas e órfãos foram, de acordo com a Coordenação Estadual do MST, os maiores prejudicados: ''Eu vejo tudo isso como uma desumanidade. Não é porque o Estado vai fazer o pagamento dos precatórios que vamos ficar felizes para o resto da vida. Ainda tenho pesadelos até hoje e os meus filhos, infelizmente, compartilham comigo esse sofrimento. O trauma psicológico nunca vai passar'', destacou.
As vítimas do massacre também alegam que o atendimento médico prestado pela rede pública da saúde na cidade é precário. Júlia Pereira da Silva perdeu o marido, sete meses após o conflito, em conseqüência dos ferimentos. Ela também foi baleada na clavícula durante o confronto entre os sem-terra e a polícia militar. ''As duas médicas que atendem no ''17 de Abril'' tratam mal os pacientes'', declarou.
Para Josimar Pereira de Freitas, 45, somente depois de alguns anos após o conflito com os PMs é que se deu conta do viés político que envolveu o episódio. Pai de cinco filhos, ele levou um tiro na perna durante o confronto e teve fratura exposta. ''Os atos da governadora tem sido de grande solidariedade, mas não apagam a memória e o sofrimento'', comentou.
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