terça-feira, 29 de abril de 2008

A guerra contra Lula. E certos conselhos de Napoleão

por Sérgio Barroso*
21 DE SETEMBRO DE 2006 -


"Quem não sente firmeza no coração não deve cuidar nem de guerra nem de governo" (Napoleão Bonaparte, Aforismos, máximas e pensamentos, 1850)*.

Quando completaram-se dezesseis meses de obsessiva, reacionária e covarde campanha pela derrubada do presidente Lula. Deve chamar à nossa atenção, sem qualquer romantismo, a postura altiva e firme que o presidente tem exibido, desde as primeiras tentativas dos golpistas da direita neoliberal contra seu legítimo mandato. Não tem sido tarefa fácil - bem ao contrário - enfrentar a podridão da calúnia sistemática e os sérios problemas criados nas hostes íntimas de seu partido e por ex-apoiadores.

Tendo, ademais, perdido ao longo das batalhas os principais colaboradores políticos de seu partido, o PT, o presidente Lula passou a sustentar-se na crescente aprovação das massas populares às realizações de seu governo; bem como a dirigir-se freqüente e diretamente a elas. Claro, igualmente apoiado no mais fiel aliado, o PCdoB, no PSB, no grupo político do vice-presidente, José Alencar, e nas organizações de massas progressistas (UNE, MST, CUT, CONAM, etc); também em numa franja de importantes intelectuais que bem conhecem a história das lutas de classes no Brasil - outra parte, diversamente matizada, há muito bateu em retirada.

1-"Quem luta contra a pátria é um filho que quer matar a própria mãe" (Napoleão, idem)

Recordemos. Pouco depois de dois anos de seu mandato, o coro golpista foi inaugurado pelo fascistóide prefeito do Rio Janeiro, César Maia. Horas seguintes às denúncias do arquicorrupto ex-deputado Roberto Jefferson, excitado, o alcaide carioca declarara que o PFL pediria "o impeachment" do presidente Lula, "caso fique comprovado...", etc, etc (6/6/2005). Já o conhecido porta-voz de bancos, senador neoliberal Arthur Virgílio, em nome do PSDB (9/6/2005) articulou a assinatura com 30 solicitações para deporem no Senado todos os citados na entrevista de Jefferson. Instalaram-se três CPIs, com visível objetivo da oposição (à direita e à esquerda) paulatinamente nublar as medidas avançadas do novo governo; em paralisar a iniciativa política e desmoralizar o presidente.

2-"Em política, pensar com o coração é coisa digna de elogios" (Napoleão, idem)

Repitamos à exaustão: trata-se, na história da República, contra os interesses do povo e da nação, de um estratagema recorrente e de uma posição classista de genética escravocrata, fartamente utilizado por grandes latifundiários, industriais apátridas, banqueiros nacionais e internacionais, a encabrestar seus partidos e a engrenagem ideológica de comunicação dos pais.

Esses aí - quase sempre corruptores pioneiros, compradores de mandatos parlamentares e consciências -, logo criam uma ambiente social de repúdio e ódio às lideranças ligadas às camadas populares, amplificando e massificando outra "maior história de corrupção". Para impedir conquistas sociais e utilizando qualquer tipo de patifaria, de jogo sujo e bruto buscam aniquilar as forças do progresso e da soberania.

3-"Uma dinastia expulsa nunca perdoa quando retorna" (Napoleão, idem)

Relembremos sempre, de geração a geração, as conhecidos e quase idênticas campanhas de reacionários apeados do poder, pela deposição do presidente Getúlio Vargas, quando - escreveu antes do suicido aquele grande estadista - "a mentira e a calúnia torpes visavam destruir-me a qualquer preço. (...) Tornei-me perigoso aos poderosos do dia e às castas privilegiadas" [1].

Contra o desenvolvimentista Juscelino Kubitschek, o golpismo fracassado antes mesmo da sua posse e a acusação posterior de "comunista" e "corrupto" e uma morte até hoje não esclarecida. A mesma maratona sórdida ocorreu para a derrubada Jango Goulart, episódio descrito por Moniz Bandeira como sendo, para além, de implicação internacional continental, comprovado pela primeira medida tomada pelo ditador e marechal Castelo Branco: "a ruptura das relações do Brasil com Cuba, coisa que Goulart se recusava a fazer" [2].

Assim, hoje - e depois da desmoralizada "Carta" do ex-presidente FHC -, nem mais os idiotas acreditam não estar em curso o golpismo aberto, também preanunciado para o novo mandato, contra o segundo governo de Lula e seus aliados.

4- "Em tempo de revolução um soldado nunca deve se desesperar de nada quando há perseverança e coragem" (Napoleão, idem)

Porque depois de longa resistência contra as operações golpistas, encontra-se o presidente a liderar todas as pesquisas de intenções de votos para a disputa presidencial. Conseqüentemente, nos últimos dias alguns analistas políticos apontavam inclusive para uma certa "onda Lula", potencialmente forte para impulsionar os candidatos da coligação "Com a força do povo".

Esse quadro, no essencial, foi suficiente para desencadear o que entendemos ser espécie de "última cartada", para impedir uma formidável vitória do presidente, ainda no primeiro turno: um ex-policial federal, contratado para a área de informação da campanha presidencial é flagrado e preso numa trama absolutamente não esclarecida, envolvendo dinheiro, "dossiê" e pessoas ligadas ao presidente. Enorme, espalhafatosa e facciosa a repercussão dada por todos os grandes meios de comunicação do país.

Inacreditavelmente, o próprio ministro e corregedor eleitoral da República, Cezar A. Rocha decidiu abrir investigação contra o presidente Lula, seu ministro da Justiça e o presidente do PT, Ricardo Berzoini. Argumentava ele que era "inegável (??) a repercussão dos fatos narrados no processo eleitoral em curso", aceitando assim uma "liminar" impetrada exatamente pelos presidentes do PSDB e do PFL - declaradamente golpistas!

Grave a situação criada. Era imperativo multiplicar os esforços para defender a candidatura do presidente Lula e derrotar os golpistas!

* In: Versão Integral, Rio de Janeiro, Editora Clássicos Econômicos Newton, 1993.
Notas

[1] Carta Testamento de Getúlio Vargas, in: "Vargas. Uma biografia política", de Hélio Silva, Porto Alegre, L&PM, 2004.
[2] Ver: O Governo João Goulart. As lutas sociais no Brasil 1961-1964, de L.A. M. bandeira, Rio de Janeiro/Brasilia, Unb/Revan, 2001.

*Sérgio Barroso, Médico, doutorando em Economia Social e do Trabalho (Unicamp), membro do Comitê Central do PCdoB.

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