domingo, 13 de abril de 2008

O CASTIGO


No final dos anos 60, a vida do cantor Wilson Simonal provocava inveja. "Louras e morenas choviam na horta do 'Simona', navegando nas noites cariocas a bordo de um dos carros mais bonitos da cidade", lembra o jornalista Nelson Motta no livro Noites Tropicais. Contratado da multinacional Shell, Simonal foi o primeiro negro a gravar um comercial para TV no Brasil. Ao se apresentar no encerramento do Festival Internacional da Canção, em 1969, literalmente regeu 30 mil pessoas no Maracanãzinho, no embalo de "Meu Limão, Meu Limoeiro".

Tinha uma estrutura pouco comum para a época, com vários seguranças, inclusive um, fornecido pelo SNI.

Entre os seguranças do cantor havia um policial ligado ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops), Mário Borges, a quem Simonal ordenou que investigasse o contador Rafael Viviani, de um suposto caso de roubo.Simonal suspeitou que o contador Rafael Viviani o roubara e, juntamente com o policial, tomou a iniciativa de seqüestrar e torturar Viviani.

Simonal foi acusado de delatar comunistas ao temido Serviço Nacional de Informações (SNI), agora extinto. Ganhou a hostilidade do meio artístico e intelectual. O golpe o atingiu no momento em que dividia com Roberto Carlos o posto de cantor mais popular do Brasil. A carreira entrou em declínio irreversível. Segundo Sandra Manzini Cerqueira, sua mulher, Simonal sobrevia graças a bicos esporádicos como músico e à ajuda de poucos amigos. Ele quase não cantava mais, antes de morrer. A média de shows era de dois ou três por ano.

No leito do Sírio Libanês, Simonal negava que hava participado do seqüestro, deixando a culpa apenas para o policial a quem ordenara um corretivo no ladrão. No decorrer do processo que o condenou a cinco anos de prisão, dos quais cumpriu apenas uma semana, Borges disse que Simonal era informante. "Foi uma farsa", dizia o cantor. Passados mais de 30 anos ficou a fama de delator - uma dúvida que persegue até os amigos que o defendem, como Nelson Motta. "No país da impunidade mais absoluta, é incrível que ele esteja até hoje sendo punido com tanto rigor", diz o jornalista.


Simonal ficou desmoralizado no meio artístico-intelectual e cultural da época e sua carreira começou a declinar. O jornal O Pasquim acusou-o de dedo duro . A repressão imposta pela ditadura militar brasileira, levaram os jornalistas da época a acreditar que Simonal fôsse informante do SNI. A imprensa o condenou sem provas.

Ele negou veementemente todas as acusações. Em 2002, após sua morte, a família do cantor requisitou abertura de processo para verificar a acusação de informante do regime. Foram reunidos depoimentos de diversos artistas, além de um documento datado de 1999 em que o então secretário de Direitos Humanos, José Gregori, atestava que não havia evidências - fosse nos arquivos do Serviço Nacional de Informações (SNI) ou no Centro de Inteligência do Exército - de que Simonal houvesse agido como delator. Como resultado, o nome do músico foi reabilitado publicamente pela Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em 2003.

Independente de qualquer acusação política, porém, o nome de Wilson Simonal vem ganhando cada vez mais reconhecimento pela contribuição musical no cenário brasileiro, sendo considerado um dos grandes cantores da Música Popular Brasileira. É pai dos também músicos Wilson Simoninha e Max de Castro.

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