O ex-governador Anthony Garotinho é apontado pelos procuradores na denúncia como o chefe da quadrilha, ao lado do deputado estadual Álvaro Lins. Ele é descrito como "governador de fato" do estado em 2003 a 2006, durante o mandato de sua mulher, Rosinha Matheus, "ao menos no tocante à área de segurança pública".
Escreveram os procuradores: "Das investigações, infere-se que Garotinho, mesmo quando não exercia qualquer cargo público, tinha decisiva influência nas decisões do governo de sua esposa, em especial na escolha das titularidades das delegacias". E mais: "A atuação da organização criminosa consolidou-se com a nomeação do ex-governador Garotinho, em abril de 2003, para o cargo de Secretário de Segurança Pública do estado do Rio de Janeiro".
Num dos diálogos gravados, em 10 de novembro de 2006, Garotinho faz cobranças a Lins sobre a indicação de um delegado - nenhum dos dois ocupava cargos no governo naquele momento.
Álvaro Lins - Oi, governador.
Anthony Garotinho - Tudo bem, Álvaro?
AL - Tudo bem.
AG - Tô aqui com o Jonas. Aquele negócio que a gente falou daquele delegado, tem que trocar rápido, meu amigo. O cara já passou do...
AL - É... Eu cobrei aquele dia que a gente teve aí. Cobrei. Mas os caras têm medo de fazer, que eu não entendo, pô. Mas...
AG: Então, deixa que eu vou mandar fazer. Deixa aqui. Qual é o nome?
Em ligação anterior, em 9 de setembro de 2006, Álvaro Lins conversa com o sogro, Francis Bullos. Bullos havia acabado de se reunir com Garotinho.
Francis Bullos - Oi, Álvaro! Tudo bem?
AL - Oi, Francis! Você me chamou? Eu tava no banho aqui.
FB - Sim Álvaro. O Garotinho acabou de sair daqui, ele falou 'avisa pro Álvaro que eu só vou indicar os delegados... só vou fazer a promoção depois das eleições.
Itagiba (deputado federal Marcelo Itagiba) quer um, Itagiba quer outro, mas você pode avisar a ele o seguinte: que o Jader é meu escolhido, porque é operacional é... isso eu tinha falado com ele já'.
Disse pra você ficar sossegado que logo depois das eleições ele vai indicar o Jader, mas que ele não vai fazer promoção agora, vai adiar.
AL- Ah... ótima atitude dele.
Mais adiante, Bullos diz que Garotinho o colocou para falar ao telefone com a então governadora Rosinha Matheus.
Luiz Eduardo Soares: prisão de Lins tem "impacto enorme"
A prisão do deputado estadual Álvaro Lins, ex-chefe da Polícia Civil do estado do Rio de Janeiro, efetuada pela Polícia Federal tem um impacto enorme" porque Lins "se vê, nesse momento, envolvido em uma, aparentemente, rede criminosa, com muita profundidade e muita extensão.
A avaliação foi feita ontem pelo ex-secretário Nacional de Segurança Pública Luiz Eduardo Soares, que participou do 20º Fórum Nacional. Soares advertiu, contudo, que não devem ser feitos pré-julgamentos. Mas admitiu que, se porventura as denúncias contra Lins vierem a ser confirmadas, eu acho que se confirma também o diagnóstico, que eu antecipava há muitos anos, dizendo que o grande problema do Rio de Janeiro eram as instituições do estado. Particularmente, as polícias.
Ele disse que, sem efetuar um trabalho de segurança pública e imposição da legalidade nas instituições do estado, não se consegue reverter o quadro de expansão da criminalidade. Para o ex-secretário, a corrupção ainda é o principal desafio a ser vencido. A corrupção deve ser entendida de uma forma mais dramática, afirmou. Disse que a imagem de uma mala de dinheiro trocando de mãos, feita quando se fala em corrupção, é muito suave, muito leve, quase cômico, patético e muito superficial.
Segundo Luiz Eduardo Soares, "quando malas de dinheiro trocam de proprietário, há nos bastidores dessa cena assassinatos, traição ordem pública e ao estado democrático de direito, envolvimento de redes clandestinas, que vão desde o mundo político, passando pelo mundo empresarial, até instituições do estado, chegando na ponta ao crime armado, aos milicianos, impondo tiranias s comunidades das favelas, produzindo resultados letais. Soares afirmou que o país está diante do crime organizado no sentido típico da palavra, o que é extremamente grave.
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