Com freqüência praticamente diária, e há muitos anos, é constante a culpabilização dos alunos - especialmente dos alunos pobres - pelo fracasso do sistema educacional.
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Quem não se lembra quando José Serra associou o mau desempenho do ensino paulista à presença dos migrantes, gente de outras partes do país que "continua chegando". Mas a verdade não é bem essa. As estatísticas do Seade dizem o seguinte: São Paulo, no período 1986-1991, recebeu 1,4 milhão de migrantes interestaduais; em 1995-2000, 1,2 milhão de pessoas. Por outro lado, entre 1986 e 1991, 648 mil pessoas saíram de São Paulo em direção a outros estados brasileiros; entre 1995 e 2000, 884 mil pessoas. Ou seja: o fluxo de migrantes caiu 12%, o de emigrantes aumentou 36%. Certo, ainda havia um saldo de entrada de um pouco mais de 300 mil pessoas em 1995-2000. A tendência, porém, é de queda. Pelo raciocínio de Serra, o ensino deveria, então, estar melhorando pouco a pouco. Mas o que importa é que, independentemente de aumento ou diminuição do fluxo, a função do Estado continua a ser melhorar o ensino.
.Da conversa de que os resultados no SAEB caíram no fim da década de 90 por conta da incorporação ao sistema escolar de estratos sociais desfavorecidos? Quem não ouviu a reclamação diuturna de professores de que "com esse aluno, não dá", dando a entender que o desinteresse e baixo desempenho dos alunos brasileiros se deve não às aulas desinteressantes e à incompetência da escola, mas sim a fatores inatos e do contexto social dos alunos brasileiros? Segundo grande parte do nosso professorado, os alunos que temos, com os pais que eles têm, são irrecuperáveis. A análise inclusive vai um passo além, ainda que provavelmente a maioria dos professores não saibam disso: em reunião recente na secretaria de educação de São Paulo, a diretora da Faculdade de Educação da USP, Sonia Penin, saiu-se com o mesmo argumento para justificar as deficiências da sua instituição: com os alunos que a faculdade recebe - pobres, ignorantes, etc. - seria impossível forjar professores de grande qualidade.
Quem não se lembra quando José Serra associou o mau desempenho do ensino paulista à presença dos migrantes, gente de outras partes do país que "continua chegando". Mas a verdade não é bem essa. As estatísticas do Seade dizem o seguinte: São Paulo, no período 1986-1991, recebeu 1,4 milhão de migrantes interestaduais; em 1995-2000, 1,2 milhão de pessoas. Por outro lado, entre 1986 e 1991, 648 mil pessoas saíram de São Paulo em direção a outros estados brasileiros; entre 1995 e 2000, 884 mil pessoas. Ou seja: o fluxo de migrantes caiu 12%, o de emigrantes aumentou 36%. Certo, ainda havia um saldo de entrada de um pouco mais de 300 mil pessoas em 1995-2000. A tendência, porém, é de queda. Pelo raciocínio de Serra, o ensino deveria, então, estar melhorando pouco a pouco. Mas o que importa é que, independentemente de aumento ou diminuição do fluxo, a função do Estado continua a ser melhorar o ensino.
.Da conversa de que os resultados no SAEB caíram no fim da década de 90 por conta da incorporação ao sistema escolar de estratos sociais desfavorecidos? Quem não ouviu a reclamação diuturna de professores de que "com esse aluno, não dá", dando a entender que o desinteresse e baixo desempenho dos alunos brasileiros se deve não às aulas desinteressantes e à incompetência da escola, mas sim a fatores inatos e do contexto social dos alunos brasileiros? Segundo grande parte do nosso professorado, os alunos que temos, com os pais que eles têm, são irrecuperáveis. A análise inclusive vai um passo além, ainda que provavelmente a maioria dos professores não saibam disso: em reunião recente na secretaria de educação de São Paulo, a diretora da Faculdade de Educação da USP, Sonia Penin, saiu-se com o mesmo argumento para justificar as deficiências da sua instituição: com os alunos que a faculdade recebe - pobres, ignorantes, etc. - seria impossível forjar professores de grande qualidade.
Causaram espanto, também, as declarações do coordenador do curso de Medicina da UFBA de que o baixo desempenho do curso no Enade se deve ao "baixo QI dos baianos", que estendeu sua análise preconceituosa à musicologia: "O baiano toca berimbau porque só tem uma corda. Se tivesse mais, não conseguiria". O repúdio a estultices desse quilate é mais do que devido, e espero que esse senhor, financiado em seu cargo pelos meus e seus impostos, seja demitido - não apenas pelo racismo, mas porque alguém com QI baixo o suficiente para falar essas asneiras não deveria coordenar nem o afinamento de berimbaus. Mas o espanto só pode ser fruto do desconhecimento ou de má-fé.
Não tem o mesmo exotismo das declarações do preclaro baiano, mas a dinâmica subjacente é a mesma: com esse povo, o Brasil não vai pra frente. É de lascar.
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