segunda-feira, 23 de junho de 2008

BNDES: PF diz que há ligação de presidente da Câmara de SP


A Polícia Federal (PF) flagrou a ação de uma rede de tráfico de influência e corrupção que manteve aberto o prostíbulo de luxo W.E., principal elo da organização criminosa que mandava prostitutas para o exterior e lavava dinheiro desviado do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e que foi desarticulada pela Operação Santa Tereza.

Interceptações telefônicas demonstram a participação de fiscais da Prefeitura de São Paulo, policiais civis e assessores políticos da Câmara Municipal e envolvem o presidente da Casa, vereador Antônio Carlos Rodrigues (PR), o Carlinhos, em manobras que teriam permitido ao esquema manter aberta a casa W.E., apesar de falta de alvará e irregularidades na construção do prédio que ocupava na Rua Peixoto Gomide, em Cerqueira César, na região central.

As negociações ocorreram em março e abril. Durante elas, Fabiano Alonso, genro e homem de confiança de Carlinhos, diz ao lobista da organização criminosa, coronel da reserva da PM Wilson de Barros Consani Junior, que o presidente da Câmara "vai ajudar" e afirma que Carlinhos tratou do problema com o prefeito Gilberto Kassab (DEM) nos dias 8 e 9 de abril.

Carlinhos negou ter despachado com o prefeito. A assessoria de Kassab apresentou ontem a agenda do prefeito nos dias 8 e 9 de abril. Nela não há despacho com o presidente da Câmara. Além de encontros políticos, o prefeito participou de inaugurações nos dois dias.

No dia 18 de abril, em outro telefonema, um dos acusados de integrar a quadrilha, o empresário Manuel Fernandes de Bastos Filho, o Maneco, diz ao proprietário do prédio que abrigava a W.E., o construtor Felício Makhoul, que o "problema (com a Prefeitura) estava resolvido", mas que ia "ter um custo de campanha aí, mas arredondou até o final do ano".

Minutos antes, em conversa com Consani, Maneco diz que havia dado R$ 47 mil "ao escritório" e faltavam R$ 13 mil, que seriam pagos em prestações mensais até outubro. Para a PF, o diálogo se refere a pagamento de propina. O objetivo da organização criminosa era impedir o fechamento da boate e do flat anexo usado pelas prostitutas.

Eles queriam tempo para regularizar 182 m de construção ilegal no edifício. O W.E. era o último prostíbulo de luxo que ainda funcionava em São Paulo - os demais já haviam sido fechados pela Prefeitura. O bando contava com o lobby para ficar aberto até o fim da gestão Kassab e, então, negociar com a nova administração da cidade.

Contatos

Os problemas da W.E. com a Prefeitura começaram depois de uma blitz da Secretaria da Habitação, em 13 de março, que levou a organização a mobilizar seus contatos políticos. É quando Consani telefonou para Carlinhos. Eram 16h38 do dia 1º de abril. O coronel marca encontro com o vereador na Câmara e leva consigo Maneco.

A PF flagrou cinco telefonemas entre 3 e 9 de abril entre Consani e Fabiano Alonso, o genro do vereador. No dia 3, às 17h10,

Fabiano diz: "Fica sossegado, irmão, a gente tá vendo. Já passei para o Carlinhos, e ele se prontificou em ajudar. Vamos tocar o pau."

No dia 7, ele diz ao coronel que o vereador mandou dizer: "Fala que eu vou estar com o prefeito e vou despachar pessoalmente com ele, que isso aí não é coisa que dá pra falar de qualquer jeito."

No dia 9, às 13h55, Fabiano diz ao coronel que "o Carlinhos está na Prefeitura falando com o Kassab." Ao mesmo tempo em que negocia, Consani diz a Maneco que vai à Câmara todas as tardes.

Em 9 de abril, às 20h34, depois da suposta ajuda de Carlinhos, o coronel conversou com Celso de Jesus Murad, gerente financeiro do prostíbulo. Ele diz que "uma barreira foi vencida".

"O homem maioral não criou nenhum obstáculo. A coisa está encaminhada, mas isso não é coisa que a gente vai resolver com duas conversas. Eu acho que no começo da próxima semana, a gente soluciona." Enquanto isso, a W.E. funcionava a todo vapor.

Em 5 de abril, Maneco conta a um amigo que fez uma festa "lá na cobertura com 30 meninas, todas de topless". As escutas mostram que a casa funcionou até 24 de abril, quando foi fechada após a ação da PF.

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