Deu na Veja
Quem bancou a campanha da senadora Kátia Abreu
De Diego Escosteguy:
A pecuarista Kátia Abreu, eleita senadora pelo estado do Tocantins nas últimas eleições, ganhou recentemente o apelido de Ivete Sangalo do Congresso, graças ao seu jeito barulhento de fazer política – e se projetou como estrela do Democratas. Kátia Abreu emplacou seu primeiro hit no fim do ano passado, quando ajudou a articular a derrubada da CPMF no Senado. Ela já partiu atrás do segundo: conquistar a presidência da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), entidade que representa os ruralistas, financiada compulsoriamente por 1,7 milhão de produtores agrícolas.
A eleição para o cargo será em outubro. A senadora, que é diretora da entidade há três anos, aparece como favorita para comandar um orçamento de 180 milhões de reais. Não se pode dizer que não seja um palco adequado aos seus talentos.
Na semana passada, VEJA teve acesso a documentos internos da CNA que apontam fortes evidências de que a entidade bancou ilegalmente despesas da campanha dela ao Senado, nas eleições de 2006.
A papelada revela que a CNA pagou 650.000 reais à agência Talento, em agosto de 2006 – na mesma ocasião em que essa empresa prestava serviços de publicidade à campanha de Kátia Abreu ao Senado.
Para justificar os pagamentos, a Talento emitiu duas notas fiscais em nome da CNA: uma de 300.000 reais e outra de 350.000.
Nas notas, a agência descreve os serviços como "produção de peças para a campanha de estímulo do voto consciente do produtor rural nas eleições 2006". O problema é que, dentro ou fora da CNA, não há vestígio da tal campanha de "voto consciente". Durante três dias, VEJA pediu à entidade acesso ao trabalho supostamente entregue pela agência. Ninguém achou nada. Diante disso, o presidente da CNA, Fábio Meirelles, afirmou: "Abrimos uma investigação para descobrir por que os pagamentos foram feitos". A entidade promete respostas em duas semanas.
O marqueteiro César Carneiro, dono da agência, garante que os serviços foram feitos, mas diz que não guardou cópia de nenhuma peça. Também admite que fez a campanha da senadora – mas tudo na base da amizade: "Ela não me pagou e eu nunca cobrei. Foi um bônus". Kátia Abreu apresentou outra versão: "Quem pagou os serviços da Talento foi a minha campanha ou o comitê do partido no estado". Não foi – pelo menos não oficialmente. A prestação de contas dela e do Democratas à Justiça Eleitoral não mostra despesa alguma com o marqueteiro. Nem doações da CNA, é claro.
Eleição interna da CNA vira crise e chega à polícia
Fábio Pozzebom/ABr
A disputa pela presidência da CNA (Confederação Nacional de Agricultura) foi parar na delegacia de polícia.
A entidade máxima dos produtores rurais brasileiros está em pé de guerra. Uma guerra que opõe dois grupos.
Nesta sexta-feira (20), a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), candidata à presidência da CNA, protocolou na Polícia Civil de Brasília uma representação.
Ela sustenta que o seu correio eletrônico privativo foi “violado”. Está convencido de que foi vítima de crime de “violação de privacidade e de correspondência”.
Embora não o cite na representação, a senadora aponta na direção de Fábio Meirelles, atual presidente da CNA, que disputa a reeleição.
Em diálogos reservados que manteve com seus pares na CNA, Kátia Abreu atribui a Meirelles a “invasão” de sua caixa de e-mail. Há mais.
Segundo apurou o blog, a senadora acusa o oponente, a portas fechadas, de vasculhar nos arquivos da CNA documentos para usar no que chama de “campanha suja”.
A própria Kátia Abreu e outros dirigentes da CNA abordaram Fábio Merielles sobre o tema. Foi uma conversa tensa. Meirelles negou as acusações.
A representação da senadora foi recebida pelo delegado Érico Vinicius Mendes. É diretor-adjunto da Divisão Especial de Repressão ao Crime Organizado da polícia de Brasília.
De resto, à revelia de Meirelles, três diretores da CNA bloquearam o sistema de computação da entidade e mandaram lacrar a sala de controle do Centro de Processamento de Dados.
Justificaram o gesto com o argumento de que é preciso evitar que seja apagado o rastro da suposta “violação” do computador de Kátia Abreu.
Assinam a decisão: a própria Kátia, que ocupa na CNA a função de “vice-presidente de secretaria”; Renato Simplício, primeiro vice-presidente, e Pio Guerra, diretor-executivo.
A crise trouxe a Brasília, nesta sexta-feira, 13 dos 27 presidentes de federações estaduais da CNA. Decidiram convocar para a próxima segunda (23) uma reunião de emergência do conselho da entidade.
Vai à mesa a proposta de contratar a empresa de auditoria Price Waterhouse, para inspecionar o sistema informatizado da CNA.
Instado a assinar a autorização para que a Price fosse contratada, Fábio Meirelles esquivou-se a fazê-lo. Daí a convocação do conselho.
Na origem da controvérsia está uma carta de apoio de seis presidentes de federações de agricultura em apoio à candidatura de Kátia Abreu, contra Meirelles.
O texto foi elaborado no dia 9 de junho, em Salvador (BA). No mesmo dia, a convite da federação baiana de agricultura, Kátia Abreu fez uma palestra na cidade.
Foi informada sobre a carta, mas como faltava uma assinatura, só recebeu o texto dias depois, por e-mail. É esse documento que a senadora diz ter sido extraído clandestinamente de sua caixa de correio.
Um dos signatários da carta contou à senadora ter sido procurado por emissário de Meirelles para instá-lo a retirar a assinatura do texto.
De resto, passaram a circular a informação de que Kátia Abreu estaria se servindo da estrutura da CNA para fazer sua campanha.
A senadora subiu nas tamancas. E decidiu levar o caso da “invasão” de seu e-mail à polícia. O que levará à praça pública uma refrega que, até aqui, vinha sendo travada longe da platéia alheia ao agronegócio.
A eleição para a presidência da CNA só vai ocorrer em novembro. Serão mais cinco meses de guerra. Uma guerra que era fria. Mas que começa a esquentar.
Josias de Souza
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