sexta-feira, 20 de junho de 2008

PAGARAM PROPINA

Voto em convenção tucana de SP vale até R$ 100 mil, denunciam delegados do próprio partido

Matéria publicada no site da revista Época revela que um esquema de suborno às vésperas da convenção tucana que acontece no próximo domingo (22) em São Paulo. A denúncia foi feita por delegados do PSDB favoráveis à candidatura de Geraldo Alckmin. Eles dizem que os defensores do apoio à Gilberto Kassab (DEM), ligados ao governador José Serra, receberam ofertas entre R$ 25 mil e R$ 100 mil para mudar de lado.

Leia a matéria abaixo:

Delegados do PSDB de São Paulo favoráveis à candidatura de Geraldo Alckmin à prefeitura afirmam ter recebido, nos últimos dias, propostas de suborno para trocar de lado e apoiar a tentativa de reeleição do prefeito Gilberto Kassab (DEM). A acusação foi feita pela primeira vez na última terça-feira (17), na sede do diretório municipal do partido, por Pedro Vicente, presidente do diretório do Jardim São Luís, zona Sul de São Paulo. "Primeiro ofereceram cargos. Depois, falaram no dinheiro", disse Vicente a Época. Outras duas delegadas do PSDB paulistano contaram a mesma história à revista.

As supostas propostas são o lance mais espantoso de uma guerra que divide o PSDB paulistano há meses. Parte do partido apóia a candidatura de Alckmin. Outra ala, ligada ao governador José Serra, defende que o PSDB não tenha candidato próprio e entre na campanha de Kassab (DEM). Essa disputa será definida no próximo domingo, na convenção do PSDB, quando mais de 1300 membros do partido tomarão uma decisão. A ala que apóia Kassab diz ter mais de 400 assinaturas de delegados supostamente favoráveis ao prefeito. De acordo com os tucanos ouvidos por Época, com a proximidade da convenção decisiva, as propostas para arregimentar votos pró-Kassab teriam se tornado mais agressivas.

O nome de Pedro Vicente foi mencionado à Época por aliados de Alckmin. Na conversa com a reportagem, ele disse ter recebido, na segunda-feira (9), o telefonema de uma pessoa que se apresentou como Marco Aurélio da Silva e queria falar sobre a campanha para a prefeitura de São Paulo. Eles marcaram um encontro na praça de alimentação de um hipermercado Carrefour. "Marquei lá porque o lugar é vigiado por câmeras (de vídeo). Se alguém quiser investigar, pode requisitar as fitas e comprovar o encontro", disse Vicente.

De acordo com Vicente, Marco Aurélio queria que ele trabalhasse para mudar o voto dos 13 delegados do Jardim São Luís. Em troca, Marco Aurélio teria oferecido primeiro dois cargos na prefeitura. "Eu perguntei para que iria querer cargo na prefeitura por apenas seis meses e então ele falou em dinheiro", afirmou Vicente. "Primeiro falou em R$ 100 mil. Depois, disse que R$ 50 mil ele pagava na hora, em cash [dinheiro]". Vicente afirma ter estimulado a conversa para ver até onde ela chegaria. Disse a Marco Aurélio que consultaria os delegados de outros oito bairros da zona Sul. "Não telefonei de volta, então ele ligou de novo e eu disse que ainda não tinha resposta", afirma Vicente. "Quando contei essa história na reunião do diretório municipal, apareceram outras pessoas contando a mesma coisa".

O mesmo Marco Aurélio é citado por Ana Angélica Dias Costa, presidente do diretório tucano de Cidade Ademar, bairro da zona Sul da cidade. Ela afirma ter recebido duas ligações dele. Na segunda, Marco Aurélio teria oferecido R$ 25 mil para cada delegado que Angélica conseguisse converter para o lado de Kassab. "Ele falou: 'Eu sei que você tem 25 delegados. Eu não quero todos: quero um pouco. E pago muito bem'", afirma Angélica. "Ele falou em R$ 25 mil por delegado. Eu falei: 'moço, esse negócio de dinheiro está furado'. E xinguei".

Outra delegada do partido, que prefere manter-se no anonimato, diz ter recebido a proposta com os mesmos valores depois de ser procurada insistentemente durante vários dias. No telefone dela ficaram gravados os números de Marco Aurélio. São os mesmos números fornecidos aos outros dois delegados tucanos. Por meio desses telefones, ÉPOCA conversou com Marco Aurélio.

Ele confirmou ter procurado pessoas do PSDB para tentar convencê-las a apoiar a candidatura de Kassab. "Uma convenção partidária é como uma eleição: você liga para várias pessoas, pede votos", afirma. Mas ele nega ter oferecido dinheiro. "Isso não procede. É claro que não ofereci. Vou ser claro: o pessoal tenta corromper as coisas porque a tese da coligação (pró-Kassab) é bem aceita (no partido)". Marco Aurélio diz ser filiado ao PSDB, mas não quis dizer a qual diretório seria ligado. Em seguida, a ligação foi interrompida e ele não atendeu mais as chamadas.

O prefeito Gilberto Kassab não quis comentar as acusações. Disse, por meio de sua assessoria, que se trata de um assunto interno do PSDB.

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