Apesar de advogado, e, portanto, homem de confiança de Daniel Dantas, e ex-deputado, Luiz Eduardo Greenhalgh, na entrevista ao repórter Vasconcelo Quadros, "Jornal do Brasil" de 27 de julho, jogou seu famoso cliente contra o governo Lula, de maneira tácita, ao dizer que não espera solidariedade do Palácio do Planalto. Solidariedade por parte do governo por quê? O que Greenhalgh está querendo dizer? Que agiu em favor de Daniel Dantas com o conhecimento do presidente da República? Não pode ser. Luís Inácio da Silva jamais vai admitir e aceitar isso.
Ao contrário: vai se irritar com o integrante do PT, que perdeu a presidência da Câmara para Severino Cavalcanti, e com o próprio Dantas. Não pode ser outra a interpretação lógica. Ainda por cima porque no texto publicado Luiz Eduardo diz, em tom de amargura: "Lula é como um general que abandona os corpos dos soldados no campo de batalha". Isso saiu integralmente no JB. Greenhalgh foi extremamente inábil. Inclusive, no mesmo contexto, manifesta a certeza de que será processado. Por que processado? Processar o advogado? Não faz sentido. Quem o processaria? O Ministério Público?
Adotando esta linha, Greenhalgh reforçou as acusações da Polícia Federal contra ele, aliás, objeto de reportagem de página inteira em "O Globo" de 23/07, assinada por Ricardo Galhardo e Soraya Aggege. Nesta matéria, sim, a acusação é de que o advogado atuava também como lobista apresentando proposta de comissão, no valor de 260 milhões de dólares, para agir junto ao governo no sentido de viabilizar o surgimento da supertele resultante da fusão entre a Brasil Telecom e a Oi, claro com a indenização relativa à parte de Dantas no negócio.
Nas enfáticas declarações ao "Jornal do Brasil", Greenhalgh dirige ataques ao delegado Protógenes Queirós, classificando-o de descontrolado, mas admite sua atuação no caso Opportunity, atendendo a um pedido de Humberto Braz, logo o homem do esquema Dantas e que se encontra preso por haver tentado subornar o delegado Protógenes, alvo do ataque de Greenhalgh. O ex-deputado teve conversas gravadas. Não pode portanto negá-las, mas daí a reclamar da falta de apoio por parte de Lula vai um abismo. Por qual motivo Lula deveria apoiá-lo?
O abismo que Greenhalgh abriu entre ele e Daniel Dantas, de um lado, e o Palácio do Planalto de outro ampliou-se agora ao infinito. Greenhalgh fez um gol contra terrível. Perdeu o rumo. A situação do verdadeiro controlador do Opportunity se complica. Principalmente no que se refere à evasão de divisas e sonegação fiscal com a remessa de quotas de brasileiros e residentes no País para o exterior e seu retorno ao mercado financeiro como se fossem investimentos estrangeiros, por isso isentos de tributos. O que é uma contradição da lei do País. Tratar melhor os estrangeiros do que os brasileiros.
O argumento original, no governo Fernando Henrique, era a necessidade de captar recursos em dólar para equilibrar as contas externas. Mas com o superávit de 47 bilhões de dólares na balança comercial em 2007 e de 40 bilhões de dólares no exercício de 2006, grandes êxitos de Lula, o argumento torna-se superado no tempo. Dólares no Brasil não faltam. Tanto assim que as reservas, segundo já informou o próprio Banco Central, atualmente estão em torno de 187 bilhões (de dólares), quase ao nível da própria dívida externa, que é de 190 bilhões. Não desejo contribuir para uma confusão entre dívida externa e interna. São diferentes, acentuo. A interna mobiliária é de 1 trilhão e 150 bilhões de reais.
Esclarecida a diferença, fica a perplexidade com o posicionamento de Greenhalg. Mais perplexo do que eu e os leitores deve estar, com sobra de razão, o próprio Daniel Dantas. Mesmo porque a assessoria de Lula fez logo chegar a ele a matéria de Vasconcelo Quadros no JB. Inclusive porque esta é a obrigação da assessoria. O presidente da República tem que estar informado do que sai na imprensa.
Um outro assunto
Enquanto Daniel Dantas deve estar surpreso com seu advogado, li com surpresa reportagens publicadas na "Folha de S. Paulo", também edição de 27, sobre aumentos salariais do funcionalismo federal, assinadas por Claudia Rolli e Fátima Fernandes, outra por Juliana Sofia. A primeira lembra que os vencimentos permaneceram quase que absolutamente congelados ao longo dos oito anos de Fernando Henrique.
É exato. Mas acentua que, agora, o aumento salarial é maior no setor público. E aponta de 2003 a 2008 um avanço real de 2,3 por cento. São números. Portanto vamos com calma. Para isso, seria necessário que os reajustes lineares tivessem superado a inflação do IBGE. Não superaram. Os índices do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística são estes: 2002 (14 por cento); 2003 (10 por cento); 2004 (6); 2005 (7); 2006 (3); e 2007 (5 por cento). Não houve avanço real de 2,3 por cento. Agora, engano maior foi cometido pela repórter Juliana Sofia, provavelmente induzida pelos que lhe passaram os dados.
O texto aponta um avanço real do funcionalismo público de até 255 por cento em cinco anos e meio. Mas a mesma matéria diz que as despesas consignadas no orçamento da União, no período, subiram de 75 bilhões para 129 bilhões de reais. A correção monetária já seria de praticamente 50 por cento. A confusão foi que a evolução de 255 por cento ocorreu em algumas categorias, que não chegam a 10 por cento do total.
Não se deve confundir o setorial com o geral. Fica aqui a ressalva. Se houvesse um aumento efetivo de 255 por cento, seria algo jamais ocorrido no mundo em tão pouco tempo. E as dívidas dos servidores para com os bancos e o comércio seriam pelo menos um pouco menores. Enganos acontecem. Mas é preciso retificá-los.
É exato. Mas acentua que, agora, o aumento salarial é maior no setor público. E aponta de 2003 a 2008 um avanço real de 2,3 por cento. São números. Portanto vamos com calma. Para isso, seria necessário que os reajustes lineares tivessem superado a inflação do IBGE. Não superaram. Os índices do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística são estes: 2002 (14 por cento); 2003 (10 por cento); 2004 (6); 2005 (7); 2006 (3); e 2007 (5 por cento). Não houve avanço real de 2,3 por cento. Agora, engano maior foi cometido pela repórter Juliana Sofia, provavelmente induzida pelos que lhe passaram os dados.
O texto aponta um avanço real do funcionalismo público de até 255 por cento em cinco anos e meio. Mas a mesma matéria diz que as despesas consignadas no orçamento da União, no período, subiram de 75 bilhões para 129 bilhões de reais. A correção monetária já seria de praticamente 50 por cento. A confusão foi que a evolução de 255 por cento ocorreu em algumas categorias, que não chegam a 10 por cento do total.
Não se deve confundir o setorial com o geral. Fica aqui a ressalva. Se houvesse um aumento efetivo de 255 por cento, seria algo jamais ocorrido no mundo em tão pouco tempo. E as dívidas dos servidores para com os bancos e o comércio seriam pelo menos um pouco menores. Enganos acontecem. Mas é preciso retificá-los.
Pedro do Coutro
Tribuna da Imprensa
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