Levado ao pé da letra, o aforismo de Millôr Fernandes de que jornalismo é oposição, o resto é armazém de secos e molhados, pode gerar equívocos na profissão, como evitar notícias positivas ou minimizá-las por serem provenientes de fontes oficiais. Tal reflexão decorre da observação de como os principais jornais do país trataram a notícia de que a classe média passou a ser maioria no Brasil.
Proveniente de duas instituições respeitáveis, a Fundação Getúlio Vargas e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a informação era jornalisticamente a mais importante e merecedora da manchete principal do dia, como fizeram O Estado de S. Paulo (Classe média já é maioria no Brasil) e Jornal do Brasil (A vez da classe média).
Mas parece ter havido uma tentativa de ocultá-la ou reduzi-la, talvez por ocorrer em um governo não muito bem visto por boa parte da mídia nacional. O Globo colocou-a na dobra superior, mas preferiu dar manchete a um tema abordado apenas em sua coluna econômica. Apesar de destinar três páginas à cobertura dos dois estudos, com o uso de recursos gráficos, personagens e entrevistas, o que caracteriza sua relevância, o jornal carioca enfatizou a divergência entre os institutos sobre as causas da melhora econômica, quando o mais importante era o fato em si.
A Folha de S. Paulo saiu com uma manchete local (Mapa da violência revela áreas mais perigosas de SP) e colocou os estudos em apenas uma coluna sob o discreto título “Mobilidade social reduziu desigualdade, aponta FGV”.
Jornalismo não é relações públicas, mas o compromisso com o fato que interessa à opinião pública, seja oficial ou não. E o fato de que o Brasil passou a ser um país de classe média é indiscutivelmente da maior relevância jornalística por qualquer critério que se queira examiná-lo.
O jornalista tem o dever de tentar revelar o que o poder oculta, seja ele o Estado, a corporação ou a confederação esportiva. Mas isso não significa não destacar avanços políticos, econômicos e humanitários. Se fosse esse o critério, não se daria manchete para o fim de uma guerra ou uma conquista da medicina por se tratar de notícia boa.
Mais preocupada com escândalos, que muitas vezes têm pouco fôlego apesar de todo o esforço midiático, a imprensa brasileira escorrega no seu compromisso de bem informar, quando nada na hierarquização das notícias.
Mair Pena Neto
Proveniente de duas instituições respeitáveis, a Fundação Getúlio Vargas e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a informação era jornalisticamente a mais importante e merecedora da manchete principal do dia, como fizeram O Estado de S. Paulo (Classe média já é maioria no Brasil) e Jornal do Brasil (A vez da classe média).
Mas parece ter havido uma tentativa de ocultá-la ou reduzi-la, talvez por ocorrer em um governo não muito bem visto por boa parte da mídia nacional. O Globo colocou-a na dobra superior, mas preferiu dar manchete a um tema abordado apenas em sua coluna econômica. Apesar de destinar três páginas à cobertura dos dois estudos, com o uso de recursos gráficos, personagens e entrevistas, o que caracteriza sua relevância, o jornal carioca enfatizou a divergência entre os institutos sobre as causas da melhora econômica, quando o mais importante era o fato em si.
A Folha de S. Paulo saiu com uma manchete local (Mapa da violência revela áreas mais perigosas de SP) e colocou os estudos em apenas uma coluna sob o discreto título “Mobilidade social reduziu desigualdade, aponta FGV”.
Jornalismo não é relações públicas, mas o compromisso com o fato que interessa à opinião pública, seja oficial ou não. E o fato de que o Brasil passou a ser um país de classe média é indiscutivelmente da maior relevância jornalística por qualquer critério que se queira examiná-lo.
O jornalista tem o dever de tentar revelar o que o poder oculta, seja ele o Estado, a corporação ou a confederação esportiva. Mas isso não significa não destacar avanços políticos, econômicos e humanitários. Se fosse esse o critério, não se daria manchete para o fim de uma guerra ou uma conquista da medicina por se tratar de notícia boa.
Mais preocupada com escândalos, que muitas vezes têm pouco fôlego apesar de todo o esforço midiático, a imprensa brasileira escorrega no seu compromisso de bem informar, quando nada na hierarquização das notícias.
Mair Pena Neto
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