quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Depois da polêmica compra de uma casa com sobras de campanha,Governadora tucana-RS ganha aumento salarial de 143%

A Assembléia Legislativa gaúcha aprovou, nesta terça-feira (5), um aumento salarial de 143% para a governadora Yeda Crusius (PSDB). Os vencimentos da governadora passam de R$ 7,1 mil para R$ 17,3 mil. Os deputados também concederam reajuste de 88% para o vice-governador Paulo Feijó e os secretários, dos atuais R$ 6,1 mil para R$ 11,5 mil mensais. O reajuste ocorre em um momento onde diversas categorias de servidores públicos estão em campanha por aumento salarial, sem sucesso até aqui.

O projeto, apresentado pela mesa diretora da casa, com apoio do Executivo, contou com o apoio de 35 dos 55 deputados. Paulo Azeredo e Gilmar Sossela, do PDT, votaram contra. As bancadas do PT e do PC do B se abstiveram. No momento em que os deputados aprovavam o aumento, Yeda Crusius estava em Brasília buscando apoio para reverter a lei que criou o piso salarial de R$ 950,00 para os professores.

A polêmica casa da governadora

O aumento rambém ocorre no momento em que cresce a polêmica sobre a casa comprada por Yeda Crusius logo após o final da campanha eleitoral de 2006. O Ministério Público Especial do Tribunal de Contas está investigando a legalidade da transação. Durante a CPI do Detran, o ex-chefe da Polícia Civil do RS, delegado Luiz Fernando Tubino, denunciou que a casa teria sido comprada com sobras de campanha.

De lá para cá, a governadora tem evitado falar sobre o assunto. A investigação feita pelo MP obrigou-a a enviar a documentação da compra da casa e fatos novos vêm surgindo. Em especial, sobre a fonte do dinheiro usado para comprar a casa. Segundo a explicação oficial da governadora, a casa situada em uma área nobre de Porto Alegre foi comprada por R$ 750.000,00 e a maior parte do dinheiro teria vindo da venda de dois apartamentos, um em Brasília e outro em Capão da Canoa (litoral gaúcho), e de um Passat alemão 1998.

O ex-secretário geral do governo Yeda Crusius (PSDB), Delson Martini, teve um papel decisivo na compra da casa, conforme matéria de Graciliano Rocha, da sucursal da Folha de São Paulo, em Porto Alegre. Na defesa apresentada ao Tribunal de Contas do Estado (TCE), a governadora afirma que o pai de Delson, Delacy Martini (proprietário de um posto de combustíveis no município de Progresso), foi o comprador do apartamento de Capão da Canoa.

Além disso, Yeda informou que o próprio Delson Martini comprou dela o Passat 1998, por R$ 32 mil, valor que também teria sido utilizado para a compra da casa. A família Martini teria, assim, pago quase 40% da nova residência da governadora.

Yeda Crusius declarou ter pago R$ 550 mil no ato da compra do imóvel, ficando pendentes outros R$ 200 mil, condicionados à liquidação de duas ações judiciais de cobrança pelo antigo dono (Eduardo Laranja). Esses R$ 550 mil seriam resultado da venda dos dois apartamentos e do automóvel. Somando-se os valores declarados das transações do apartamento de Capão da Canoa (180 mil) e do Passat (32 mil), Delson Martini e seu pai teriam contribuído com R$ 212 mil reais (37,7%). O advogado da governadora, Paulo Olimpio Gomes de Souza disse que todos os negócios foram feitos com cheques e são totalmente legais. Disse ainda que Yeda e seu marido, Carlos Crusius, têm renda suficiente para pagar os R$ 200 mil restantes da casa para o ex-proprietário Eduardo Laranja.

Além de ter comprado o apartamento da governadora, Delacy contribuiu, em 2006, com R$ 5 mil para a campanha da então candidata Yeda Crusius, segundo a prestação de contas enviada à Justiça Eleitoral. Já Delson Martini aparece com uma contribuição mais modesta, R$ 1.030,00 (em duas parcelas, uma de R$ 1.000,00 e outra de R$ 30,00).

"Não cuido das finanças dela"

Quando depôs na CPI do Detran, dia 16 de junho, o ex-secretário-geral do governo Yeda Crusius e atual tesoureiro do PSDB gaúcho recusou-se a responder perguntas relacionadas à casa da governadora. Na ocasião, a deputada Stela Farias (PT) perguntou a Delson Martini sobre sua participação na compra da nova casa de Yeda. Martini respondeu: "Assuntos que dizem respeito à vida privada da senhora governadora não cabem a mim discutir. Não cuido das finanças dela".
Deputados perguntavam hoje o que teria acontecido se tivesse dito na época que havia comprado um Passat da governadora e que seu pai tinha comprado um apartamento em Capão da Canoa para ajudar Yeda a comprar a casa dos seus sonhos. Martini, aliás, parece ser um colecionador de automóveis caros. Na CPI, admitiu que comprou também um Jaguar 1999.

Até a noite desta terça-feira, Martini ainda não havia explicado sua real participação na compra da casa. A governadora, por sua vez, segue demonstrando irritação toda vez que é indagada sobre o assunto. na segunda-feira, durante uma coletiva no Palácio Piratini, Yeda foi indagada sobre o tema por um jornalista e respondeu: "Este é um tema da oposição, não é um tema do jornalismo, tá?".
Carta Maior (www.cartamaior.com.br)

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