Milagre! De repente, imediatamente o caso Daniel Dantas sumiu de jornais, rádios, TVs e revistas. Por quê? Inexplicável, não é? Absolutamente não. Explicabilíssimo. É só perguntar para a revista CartaCapital que tudo fica claro.
Por Vito Giannotti, no Boletim do NPC
Quando começou o maior escândalo de roubalheira do dinheiro público da história do nosso país, o editor Mino Carta, na introdução às 20 páginas da edição de 16/7/08, reproduziu duas falas, de fonte não revelável, no seu editorial: "Altíssima figura da República, em fins de 2005, quando perguntei em off porque o disco continuava fechado, respondeu literalmente: `Se for aberto, o Brasil pára por dois anos'. Outra personagem de primeiro plano foi além: 'Acaba a República'".
Pois, então não podia ser de outra maneira. O Brasil não poderia parar e nem a República acabar. E assim, em meados de julho deste ano, todos os envolvidos na tremenda enrascada concordaram em abafar o caso, em fazer não uma pizza, mas uma gigantesca pizzaria onde todas as pizzas seriam assadas e queimadas para não deixar traça.
E assim, milagrosamente o caso Daniel Dantas morreu. A mídia empresarial matou o coitado. E ninguém, fora CartaCapital, lembra mais dele.
É só olhar as capas das grandes revistas empresariais/comerciais de domingo, dia 27/7. Se procurares o nome Dantas, estarás perdido. Época, da família Globo traz um artigo importantíssimo e atualíssimo "A vitória do vale-tudo" onde trata das lutas marciais do Brasil. IstoÉ está preocupada com a felicidade geral dos... seus patrões. Vejamos a manchete "6 conselhos para a felicidade". Realmente um assunto muito urgente.
Veja traz outro artigo de gaveta para não falar do caso do tal Dantas: "Cadê os bebês?". Aí a maior revista do país nos informa sobre o declínio da natalidade no país. Um fato inédito, atualíssimo e impreterível. Somente CartaCapital, que há anos denuncia o que, no mês de julho, veio à tona para o mundo sobre DD, continuou o mesmo tema , ou melhor, uma variação sobre o mesmo tema: "O tropeço de Eike".
O sinal para esta epidemia de esquecimento, ou melhor, encobrimento coletivo, foi dado pela Globo News dez dias antes. Em 16/7, no auge das revelações de um tal delegado da PF, devidamente afastado, no jornal das 22:30 falou-se de tudo, menos do caso Daniel Dantas e de outra figura interessante, o sr. Cacciola.
Durante uns 8 minutos lembrou o acidente da TAM de julho de 2007, do novo Piso Nacional dos Professores (quanto ganham hoje em PE, no CE, no SE...). Mais uns três minutos sobre as eleições nos EUA e sua relação com a inflação. Depois uns 2 minutos sobre o petróleo e a alta dos preços. E mais bolsa de São Paulo, inflação etc. Finalmente quase um minuto sobre o Congresso Brasileiro de Publicidade.
OK, tudo certinho, tudo muito interessante. Foram 25 minutos onde não se falou de DD, Cacciola, corrupção ou coisas parecidas.
E depois se diz que a mídia não tem lado. Que é neutra. Que é imparcial.
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