A ONG Transparência Brasil divulgou na tarde dessa segunda-feira (4) o percentual de quanto aumentou o patrimônio de candidatos às eleições de outubro, em comparação com as últimas eleições de 2006. Segundo os cálculos da ONG, a média de crescimento foi de 46%.
Alguns dos candidatos que tiveram seus nomes incluídos na lista e apontados como tendo registrado os maiores aumentos de patrimônio, reclamaram dos critérios da ONG. Caso do deputado estadual Raul Marcelo, candidato do PSOL à Prefeitura de Sorocaba, interior de São Paulo, cujo aumento, em percentual, foi de 296,2%. "Essa é uma piada de mau gosto da Transparência Brasil. Eu tinha um carro Uno e agora tenho um Gol financiado e um apartamento financiado", comenta ele, cujo patrimônio passou de R$ 26 mil para R$ 103 mil. "O pessoal da ONG tinha que ter mais critério. Até um desempregado consegue financiar um apartamento. Agora torço para que esse dado não seja utilizado pelos meus adversários", completa.
Outro que criticou duramente a lista da ONG foi o deputado Orlando Morando, candidato tucano à Prefeitura de São Bernardo, no Grande ABC, cujo patrimônio evolui de R$ 993.519,63 para R$ 1.397.720,00, o que dá, em percentual, 40,7% de crescimento.
"O engraçado é que essa lista não mostra a evolução de patrimônio de todos os candidatos. Aqui em São Bernardo mesmo, tem um candidato que já foi ministro e declara que não tem bem, nem conta corrente e ninguém mostra o quanto evoluiu o patrimônio dele", diz, fazendo referência a Luiz Marinho, o candidato petista na disputa, e que já foi ministro da Previdência. "Sou deputado, ganho bem. Além disso, também tenho uma empresa, e declaro meus rendimentos também como empresário", disse Morando. "O que eu posso falar é que meu patrimônio cresceu porque administro bem o meu dinheiro", comentou.
Questionado sobre as críticas dos políticos citados na lista, Claudio Weber Abramo, diretor executivo da Transparência Brasil, disse que a idéia foi citar apenas os candidatos que têm cargo eletivo, ou seja, vereadores, senadores e deputados. "Se o indivíduo ocupa cargo público, quer se candidatar e não quer ver o seu nome na lista, problema dele", disse Abramo.
Ele alega que o patrimônio dos candidatos é informação pública. "Se um candidato ficou incomodado que o nome dele está na lista, e o de seus adversários, não, sugiro que encontrem esses dados da evolução patrimonial (do adversário) e divulguem em suas campanhas", sugere. "As pessoas que ocupam funções públicas não têm direito à privacidade e eles não gostam disso", finaliza Weber Abramo.
Mas as coisas não são tão simples quanto o diretor da Transparência Brasil tenta fazer parecer. Ao usar cálculos da evolução média de patrimônios, generalizando as situações de cada candidato, e ao não explicar para os eleitores que muitas das variações ali notadas tratam-se na verdade de compra ou venda do único imóvel da família, a lista acaba mais confundindo do que orientando o eleitor.
O caso do deputado Raul Marcelo, do PSOL é um exemplo claro desta distorção. Apesar de seu patrimônio ter evoluído de forma condizente com seus ganhos, seu nome foi incluído na lista sem nenhuma ressalva, deixando parecer que se trata de um político corrupto que não merece o voto do eleitor. Esta leitura é quase automática para o eleitorado e explorada por adversários e pela mídia com claros interesses eleitorais.
AMB cometeu mesmo erro
Assim, a lista da Transparência Brasil --uma ONG que está longe de ser ela própria transparente em relação a seus interesses políticos e fontes de financiamento-- soma-se à desastrada iniciativa da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) que em meados de julho passou a publicar uma lista com os nomes dos candidatos que respondem à processos na Justiça, a chamada "lista suja".
A nebulosa escolha de critérios para se elaborar a lista gerou reclamações de vários setores pois a lista comete injustiças absurdas como a inclusão do nome de pessoas que respondem a processos sem fundamento e ainda não julgados movidos por adversários políticos e, ainda pior, pessoas que respondem à Justiça por suas atuações em movimentos sociais. É o caso, por exemplo, dos candidatos Leila Márcia (PCdoB), Marinor Jorge Brito (PSOL) e Jorge Ferreira (PSL), todos de Belém (PA). Leila foi processada por liderar uma manifestação estudantil, Marinor por participar de uma greve e Jorge Ferreira sofre um processo devido a sua atividade na direção do Sindicato dos Rodoviários do Estado do Pará.
O jornalista Gilberto Dimenstein também reclamou destes critérios duvidosos da AMB. ''Quando se fala em ficha suja a suposição óbvia é de que quem está ali já está culpado. Ou seja, está sujo. E, claro, isso não é necessariamente verdade. É como se todos aqueles políticos fossem criminosos --e, pior, tivessem cometidos crimes semelhantes, na visão do cidadão. A visão geral é a de que todo político é ladrão, ainda mais se forem colocados numa lista feita por juízes'', critica Dimenstein. Segundo ele, por causa deste tipo de falha, a ''lista suja'' nasce suja.
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