O leitor deve estar se perguntando: o que Márcio Lacerda tem a ver com isso? Como disse Marx, a história pode se repetir duas vezes: na primeira vez em forma de tragédia e na segunda como farsa.
A candidatura de Márcio Lacerda guarda muitas semelhanças com a de Pitta. Além de contar com uma campanha milionária, com os mais modernos truques do marketing eleitoral, Lacerda também foi ungido candidato por padrinhos políticos. Só que desta vez, não foi apenas o prefeito de plantão (o petista Fernando Pimentel) quem deu aval para a candidatura, mas também o governador tucano Aécio Neves. Pimentel e Aécio trocaram juras de apoio para 2010 em troca do certame. Assim como Maluf fez em 1996, Aécio também sacou de sua lista de secretários um nome para ser o candidato da continuidade. O empresário Márcio Lacerda foi secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado de Minas Gerais.
Assim como Pitta, Lacerda carrega o perfil do homem que ''venceu na vida''. Tanto que hoje, com um patrimônio declarado de R$ 55 milhões, é o candidato mais rico a disputar a prefeitura de uma capital. Depois dele, vem Maluf com um patrimônio de R$ 39 milhões.
Curiosamente, Lacerda, assim como Maluf, começou a fazer fortuna durante o regime militar. O mesmo regime que Lacerda diz ter combatido. Aliás, esta é justamente a bandeira que Lacerda tem erguido para se apresentar ao eleitorado mais resistente à influência dos padrinhos políticos. Enquanto Pitta brandia a condição de ser um candidato negro para conquistar o voto dos eleitores mais progressistas, Lacerda acena com seu passado de militante de esquerda.
Mas mesmo esta trajetória tem sido questionada. Matéria recente da Folha de S. Paulo diz que ''a vida empresarial de Lacerda é marcada pelo regime militar (1964-1985): inicialmente uma vítima da ditadura, depois passou a receber ajuda dos militares e, em 1973, se tornou empresário do ramo de telecomunicações com a colaboração de oficiais ligados ao Exército''.
Questionamentos surgem também em relação ao comportamento ético de Lacerda. Uma das denúncias dá conta de que o patrimônio de Márcio Lacerda aumentou, e muito, quando era dono das empresas de telecomunicações Batik e Construtel, nos anos 80 e 90.
Lacerda tinha como importante contato o diretor da Telemig na época, Roberto Lamoglia. Em 1998, a Construtel chegou a faturar 255 milhões de dólares! Após a privatização das companhias telefônicas, ambas Construtel e Batik sofreram queda vertiginosa no faturamento. A Batik foi vendida e a Construtel desativada. O site "novojornal" apresentou documentos que comprovavam o superfaturamento de Lacerda no fornecimento de serviços por parte de suas empresas às estatais Telemig e Telebrás. O ''lucro'' era dividido com Roberto Lamoglia, diretor das estatais.
Em 2005, quando era secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional, ele apareceu na célebre lista do publicitário Marcos Valério, de sacadores de dinheiro do ''mensalão'', e teve de se demitir por isso.
A imprensa mineira tem praticamente ignorado as denúncias e o passado de Lacerda. Apresenta-o apenas como um empresário bem sucedido, o afilhado político de Aécio e Pimentel e o novo ''fenômeno'' da política mineira. Também dão como certa sua vitória no primeiro turno das eleições. Resta saber se, neste caso, a ''profecia'' de Marx sobre a repetição da história irá se concretizar.
Por via das dúvidas, os eleitores de Belo Horizonte têm nas mãos, literalmente, o poder do voto e, portanto, o poder de impedir que Belo Horizonte passe por uma experiência tão danosa quanto a que São Paulo experimentou com a eleição de Celso Pitta.
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