quarta-feira, 10 de setembro de 2008

BH: candidatura de Lacerda faz lembrar dobradinha Maluf-Pitta ( I )

A disputa eleitoral pela prefeitura de Belo Horizonte vive uma situação em que um político desconhecido, sacado dos escaninhos da burocracia administrativa, lidera a corrida eleitoral graças ao apoio ostensivo de seus poderosos padrinhos políticos. Esta situação não é uma novidade no histórico das recentes eleições municipais. Em 1996, na capital paulista, um personagem semelhante disputou e ganhou a eleição graças ao apadrinhamento político e uma campanha milionária. O personagem era Celso Pitta e o padrinho político Paulo Maluf. O resultado deste arranjo foi trágico para os paulistanos e Pitta ficou marcado como um dos piores prefeitos que São Paulo já teve.
por Cláudio Gonzalez


O ano de 1996 vai ficar registrado na história das eleições municipais como o ano em que o marketing político conseguiu realmente ''eleger um poste''. O ''poste'', no caso, era o economista carioca Celso Pitta, então secretário de finanças da prefeitura de São Paulo, comandada por Paulo Maluf. Na época, Maluf gozava de grande popularidade. Graças a um ostensivo --e descobriu-se depois, oneroso e cercado de ilegalidades-- programa de grandes obras, seu governo era avaliado com um ótimo índice de aprovação entre mais de 50% dos paulistanos. Mas a reeleição não era permitida e Maluf não poderia ser candidato novamente.

Eis então que surge da cartola do marqueteiro Duda Mendonça a proposta de lançar o desconhecido Celso Pitta como candidato a prefeito pelo PPB (atual PP) --partido de Maluf-- em coligação com o PFL (atual DEM).

Celso Roberto Pitta do Nascimento, na época com 50 anos, era apenas mais um integrante do secretariado de Maluf. Por ser negro e economista com mestrado na universidade de Leeds (Inglaterra) e na de Harvard (EUA), ele concentrava o perfil do homem que ''estudou e venceu na vida''. Era o perfil que Duda Mendonça acreditava ser o ideal para dar continuidade à gestão de Maluf. A crença no cacife político do malufismo e no poder do marketing era tão grande que Duda Mendonça chegou a dizer que conseguiria ''eleger um poste'' e Maluf, por sua vez, botou tanta fé na estratégia que arriscou-se a ir para a TV e dizer: ''votem no Pitta, e se ele não for um bom prefeito, nunca mais votem em mim''.

Assim como está ocorrendo atualmente em Belo Horizonte com a candidatura de Márcio Lacerda, Pitta também viu sua campanha deslanchar com o início da campanha eleitoral no rádio e na TV. Admiravelmente, com menos de quinze dias de veiculação das propagandas dos candidatos, conforme mostra a pesquisa realizada em 14 de agosto de 1996, Pitta já conquistava a liderança das intenções de voto com 28,6%, deixando para trás a ex-prefeita Luiza Erundina e o ex-prefeito Francisco Rossi, que haviam saído na frente da corrida, cada um angariando quase um terço das preferências dos eleitores.

O próprio Duda Mendonça reconhece que a eleição de Pitta foi possível, entre outros fatores, pelo fato do PT ter caído na armadilha de tentar atacar Pitta dizendo que ele era igual ao Maluf. Segundo Duda Mendonça, as pesquisas qualitativas mostravam que era justamente isso que o eleitorado buscava, um ''novo Maluf''. Assim, o PT acabou ajudando a reforçar a campanha de Pitta que, no segundo turno, venceu a eleição com 62,3% dos votos contra 37,7% da petista Luiza Erundina.
Mas a frase de Maluf sobre Pitta acabou sendo usada contra o próprio Maluf em todas as eleições seguintes que disputou. Motivo: Pitta não foi um bom prefeito. Pelo contrário: sua gestão ficou marcada como uma das piores administrações que São Paulo já teve.

O economista formado em Harvard revelou-se um péssimo administrador. Sua principal promessa de campanha, o Fura Fila (uma espécie de trem de superfície) só foi parcialmente finalizado dez anos depois, ao custo total de 1,2 bilhão de reais. Do ''fazedor de obras'' Paulo Maluf, Pitta herdou apenas a prática de mau uso do dinheiro público.

A administração Pitta foi cercada de denúncias de corrupção, entre elas a de que uma máfia de fiscais atuava na prefeitura com a cumplicidade do prefeito e da base governista de vereadores na Câmara Municipal. O escândalo acabou custando o mandato de Pitta, que foi afastado da prefeitura por ordem judicial. Depois Pitta entrou com recurso e recuperou o mandato. Ao terminar seu mandato, o ex-prefeito era réu em treze ações civis públicas, acusando-o de ilegalidades. O valor das denúncias somadas alcançou 3,8 bilhões de reais, equivalente a quase metade do orçamento do município na época. A dívida paulistana passou na sua gestão de 8,6 bilhões de reais em 1997 para 18,1 bilhões de reais.

Sua popularidade foi a mais baixa já registrada por institutos de pesquisa: 83% dos paulistanos consideravam a sua gestão ruim ou péssima no fim de 2000. Tendo se candidatado a deputado federal nas eleições de 2002 e nas de 2006, não foi eleito.

Recentemente, Pitta voltou à berlinda após ser preso na Operação Satiagraha da Polícia Federal, junto com o banqueiro Daniel Dantas e o especulador Naji Nahas, sob a a cusação de participar de uma quadrilha que cometia crimes contra o sistema financeiro.

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