segunda-feira, 15 de setembro de 2008

A falta que faz um contraponto


"Tucanos e democratas não podem abdicar de uma agenda própria, de um novo modelo"
Alessandra Mello



E-mail para a coluna: alessandra.mello@uai.com.br



Se as pesquisas de intenção de voto divulgadas em todo o país forem confirmadas nas urnas em 5 de outubro, o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve se sagrar um dos grandes vencedores desse pleito, repetindo o feito das eleições municipais de 2004, quando a legenda deu passo significativo na ampliação das cidades sobre seu comando.

No embalo da vitória de Lula, o PT foi o partido que teve o maior crescimento do número de cidades sob seu comando, nas últimas eleições municipais. Na época, saltou de 187 para 400 prefeituras conquistadas, entre elas seis capitais. Um expressivo aumento de 114%, também verificado nos votos somados pela legenda em todo o país. O quadro atual parece ser ainda mais favorável.

O PT aparece com chances de vencer a disputa pela maior cidade do país – a capital paulista, atualmente sob o comando do DEM, que detém nada menos que 6,4% do eleitorado brasileiro. Também está bem colocado em muitas cidades com população acima de 200 mil habitantes e com possibilidade de vencer nas capitais de oito dos 26 estados brasileiros, onde o partido aparece em primeiro ou segundo lugar nas pesquisas. Essas cidades onde o PT lidera a disputa têm mais de 200 mil eleitores, o que significa que a disputa pode ocorrer em dois turnos.

Outro partido bem colocado nas eleições é o PMDB, a maior legenda do país em termos de filiados e de prefeitos eleitos, e um dos principais aliados do governo Lula, com vários cargos do primeiro escalão da administração federal. Partidos da base governista também lideram as pesquisas na maioria absoluta das capitais brasileiras. Se o fenômeno se repetir nas pequenas e médias cidades onde não há levantamento de intenção de votos, o PT e seus aliados podem dar um passo maior do que em 2004.

Além desses números, até agora positivos para a legenda, o partido tem um dos principais cabos eleitorais em todo o país – o presidente Lula, cujo apoio nesta eleição é disputado até mesmo pela oposição. Muitos candidatos do DEM e do PSDB tentam colar sua imagem à do presidente, que a cada nova pesquisa bate recordes de popularidade. Essa onda lulista já é até destaque na imprensa internacional. A última edição da The Economist, revista semanal inglesa, que chegou às bancas sexta-feira, trazendo uma reportagem sobre o aumento da classe média no Brasil, cita a migração do eleitorado da classe média do PSDB para o PT e destaca as chances de vitória da legenda no pleito de outubro.

LUZ ALERTA

Caso as urnas confirmem o crescimento do PT, o vermelho que deve se avivar não pode ser o da onda lulista. Tem de ser a da luz de alerta da oposição. Hoje, DEM e PSDB sentem cada dia mais na pele a dificuldade de manter o papel de críticos do governo, sem cair no discurso vazio, na oposição por oposição, sem nada de novo ou criativo para oferecer. Não é à toa que vivemos uma das eleições mais sem oposição já vistas no Brasil. Uma eleição sem novidades, sem projetos, sem mudanças. Todos são aliados do governo federal, todos trabalharão em parceria com Lula, todos vão manter e melhorar os projetos da União.

Na verdade falta ao Brasil adversários que consigam fazer um contraponto inteligente ao governo Lula. Isso não é saudável para a democracia. O ideal seria uma oposição que desafiasse não só o PT e seu maior representante, mas também todo o leque de legendas que hoje rezam na cartilha lulista. O PT antes de chegar ao mais alto escalão do poder na República exercia com mais competência esse papel. O vácuo deixado pelo partido vem aos poucos sendo ocupado pelo PSOL, legenda de esquerda, mas sem o sectarismo do PSTU, partido também criado a partir de dissidências do PT. Mas e o vácuo deixado pelo PSDB e pelo DEM depois que deixaram o poder, em 2002?

A agenda política nacional desde que Lula venceu sua primeira eleição e passou a nadar de braçada nas ondas de índices crescentes de popularidade foi tomada por assuntos absolutamente irrelevantes para o país. No Congresso Nacional só se fala de CPIs. Nenhuma palavra a respeito de políticas alternativas, de aprovação de projetos importantes para que o Brasil aproveite com mais eficiência a boa fase econômica que atravessa. Não interessa se essa bonança começou com Fernando Henrique Cardoso, se ela é resultado dos bons ventos da economia internacional ou da sorte atribuída ao atual presidente, como a oposição vira e mexe apregoa. O principal argumento da oposição não pode ser esse. Tucanos e democratas não podem abdicar de uma agenda própria, de um novo modelo.

Nessa toada, Lula deve eleger facilmente seu sucessor. Já que todos darão continuidade aos projetos, métodos e modelos da atual administração e já que ninguém tem propostas alternativas, por que mudar? É melhor para o eleitor ficar com o autêntico representante da continuidade – o candidato ou candidata que terá o apoio oficial de Lula.

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