O movimento ocorre um dia depois da divulgação de laudo da Polícia Federal que concluiu que os equipamentos comprados pela agência nos Estados Unidos são incapazes de terem realizado o grampo da conversa do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes. Essa escuta, atribuída à Abin, culminou no afastamento preventivo de Lacerda e da cúpula do órgão até o fim das investigações da PF sobre o episódio.
Além do laudo da PF, as declarações elogiosas do presidente Lula ao chefe afastado da Abin, em entrevista na última quarta-feira ao programa 3x1, da TV Brasil, foram interpretadas como um prenúncio da volta de Paulo Lacerda. "O Paulo Lacerda é um profissional do Estado brasileiro da mais alta competência, pode voltar a hora que quiser, depois que for terminada essa investigação", declarou Lula.
As declarações, porém, irritaram a oposição. "As suspeitas que pesam sobre ele (Paulo Lacerda) são muito graves. Não podem ser resolvidas apenas por um laudo. Sugiro ao presidente da República que aguarde o resultado por inteiro das investigações", afirmou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), em nota. "Qualquer decisão do governo em relação à Abin seria precipitada", disse o deputado Gustavo Fruet (PR), integrante da CPI dos Grampos, lembrando que a comissão vai pedir uma análise independente da Universidade de Campinas (Unicamp) sobre os equipamentos da Abin, adquiridos no exterior.
Nomes
Embora o presidente Lula não tenha afastado definitivamente o diretor-geral da Abin do cargo, a avaliação de ministros com assento no Palácio do Planalto é de que uma volta dele ao posto é inviável por quebra de confiança. A despeito da discussão se foi a Abin quem grampeou o presidente do STF, Lacerda está, segundo ministros palacianos, sem condições para um retorno depois que se revelou a imensa participação de agentes do órgão na operação Satiagraha sem o conhecimento da cúpula da PF e do ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Jorge Félix, seu chefe imediato. Há também resistências dos sindicalistas da Abin a essa volta, uma vez que Lacerda, delegado da PF por formação, promoveu um racha entre a agência e a polícia.
O fato é que, mesmo diante da indefinição quanto ao futuro de Lacerda, chegaram desde o início da semana no gabinete do presidente Lula currículos de dois postulantes a diretor-geral da Abin. Um deles é Christian Scheneider, atualmente diretor da Secretaria de Desenvolvimento do Centro-Oeste do Ministério da Integração Nacional. Com trânsito no Congresso, onde já trabalhou como assessor parlamentar e ex-candidato a deputado distrital pelo PTB, Scheneider tem a seu favor o fato de ser servidor de carreira da Abin. Mas o ministro Jorge Félix prefere Luiz Alberto Salaberry, que ocupa o cargo de diretor de Inteligência Estratégica da Abin e é oriundo do Serviço Nacional de Informações (SNI).
Contudo, o presidente Lula, dizem os assessores, não deve tomar qualquer decisão sobre esses ou quaisquer outros nomes que porventura surgirem na próxima semana, quando embarca para Nova York. Por isso, as declarações elogiosas de Lula a Lacerda têm que ser vista com ressalvas, a julgar pelas crises anteriores.
Fonte: Correio Braziliense
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