segunda-feira, 27 de outubro de 2008

SÃO PAULO ESCOLHEU O CAMINHO DAS PEDRAS

Vitória de Kassab alavanca Serra e ressuscita o "demo"
Na primeira entrevista após o final da apuração do segundo turno na capital paulista, o demo Gilberto Kassab nem parecia o prefeito eleito. Rasgou elogios ao tucano José Serra, que roubou totalmente a cena na coletiva.
Por Altamiro Borges*
"Nesses quatro anos tive uma grande perda, que foi a morte de minha mãe, e tive um grande amigo que ganhei na vida e um grande líder, que é José Serra, que levarei para o resto da minha carreira. Dedico a ele essa vitória", choramingou o novo prefeito, confirmando a tese de que é e será um "laranja" do governador paulista e presidenciável tucano.
Tucano pavimenta o terreno
A folgada vitória de Gilberto Kassab, com 60% dos votos válidos, tem inúmeros significados. O mais preocupante é que ela representa forte impulso à candidatura de José Serra para a sucessão presidencial de 2010.
Numa tática arriscada, o grão-tucano traiu Geraldo Alckmin, candidato do seu próprio partido, e apostou no prefeito do demo, mais confiável e funcional às suas ambições políticas.
Apesar das rusgas criadas no PSDB - alguns dirigentes propõem punir os "dissidentes" -, Serra venceu a parada. Desta forma, ele garantiu a preservação da aliança com os oligarcas do DEM. De quebra, ainda conseguiu atrair o PMDB paulista, que terá papel decisivo na sucessão.
Serra parte para a nova batalha sucessória bem reforçado. Além de governar o principal estado da federação, garantiu sua marionete na capital e ainda venceu em um terço das cidades de São Paulo, mantendo a hegemonia tucana no estado.
Ele também conta com o entusiástico apoio da mídia, que nada noticia sem consultá-lo previamente. Os recentes episódios de ocultamento da guerra das polícias e do seqüestro de Eloá confirmam que ela está totalmente comprometida com o projeto de José Serra. Isto para não falar no apoio do grosso da elite empresarial de São Paulo.
DEM escapa da extinção
Outro significado importante da vitória de Gilberto Kassab é que ela ressuscita o DEM, o ex-PFL dos apoiadores da ditadura militar. Este partido, que representa a oligarquia mais reacionária do país, vinha num processo de definhamento.
No ano 2000, elegeu 1.028 prefeitos; em 2004, já sob impacto da experiência progressista do governo Lula, elegeu 790 prefeitos; e nas eleições deste ano, baixou para 496. Muitos analistas já previam o seu sepultamento. Mas graças ao apoio do "traíra" José Serra, os demos ganharam uma sobrevida, mesmo que como apêndice do tucano.
O novo prefeito de São Paulo, apesar de jovem e de se travestir do moderno, é a expressão cabal da política conservadora do DEM. Ele ingressou na política pelas mãos do empresário Guilherme Afif Domingues, um colaborador da ditadura, ex-secretário no governo de Paulo Maluf. Kassab integrou o comando de campanha de Afif na eleição presidencial de 1989.
Em 1993, foi eleito vereador na capital paulista. Também exerceu o mandato de deputado estadual (1995-1998) e deputado federal (1999-2005) pelo PFL. No executivo, foi o principal secretário de Celso Pitta, cria de Maluf, que arruinou a capital paulista. É um quadro orgânico deste partido conservador.
Eleitorado conservador
Vice de José Serra em 2004, assumiu a prefeitura em março de 2006, quando o tucano renunciou para disputar o governo estadual. No cargo, ele adotou a postura de total subserviência ao tucano, o que gerou críticas na cúpula do seu partido.
Na campanha deste ano, com um eficiente trabalho de marketing, apresentou-se como "bom gerente" e personificou o voto anti-esquerda em São Paulo, desferindo ataques ao PT. A sua vitória confirma a trajetória conservadora do eleitorado paulista, que projetou figuras como Maluf, Pitta e agora elege Kassab, "laranja" de Serra.
*Altamiro Borges é jornalista.

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