quarta-feira, 8 de outubro de 2008

URARIANO MOTA

GLOBO E CENSURA, TUDO A VER




Recife (PE) - O grande público já percebeu que a edição dos jornais também é um ato de censura. Veta-se, despreza-se, risca-se, corta-se pelos mais diversos motivos ou desculpas: ausência de qualidade, desvio de foco, visão política, preconceito de classe, notícia envelhecida. Quando assiste a um jornal, ou lê uma notícia, um público menor desconfia que há censura da pauta ao que se destaca em um texto, até a censura absoluta ao que não obedece à orientação editorial. Há sempre um mundo de vida, de acordo com os interesses do editor de plantão, que jaz na cesta.

Essa lei geral de editar/censurar é mais clara no jornalismo da Rede Globo. Quem assiste ao Jornal Nacional, por exemplo, percebe que o mundo ali vem desmontado entre caras e bocas, em dramatização de telenovelas. Chega-se ao limite de uso de trilhas sonoras, como todos devem lembrar das imagens editadas dos desastres e tragédias de aviões. Planos, tomadas, cortes, luzes, a revolta dos passageiros, a indignação dos parentes, etc. etc.

No entanto, grande público e pequeno jamais poderiam imaginar que a censura na tv pudesse chegar ao departamento comercial, que rege afinal a razão do jornalismo como negócio. Nestes últimos dias, o Sindicato dos Bancários de Pernambuco revelou um caso inédito de censura na Rede Globo. Assim foi: para explicar ao público as razões do seu movimento grevista, o Sindicato pagou R$ 4.880,00 por apenas duas inserções ao meio-dia na TV Globo local. Mas no dia marcado, a menos de 30 minutos da veiculação, o departamento comercial da emissora informou que não podia divulgar o anúncio. Razão, ou desculpa: o nome do sindicato teria que ser inserido em caracteres no VT, por escrito e por extenso. Ou o sindicato acrescentava o detalhe, ou o VT não iria ao ar. Apesar de o nome se encontrar no áudio, e na logomarca da entidade, "Bancários de Pernambuco", que fecha o VT, isso não importava. Tinha que estar nessa nova fórmula de o lobo e o cordeiro.

Nas palavras de Sulamita Esteliam, jornalista do sindicato, “o contato da emissora avisou, durante as diversas conversações para contratar o espaço, que o VT não seria aprovado caso tivesse imagem de fachada de bancos. E é óbvio que teria, e isso foi dito. O texto já havia sido enviado antes da contratação, para todas as emissoras, como é praxe. Mas a Globo - e só a Globo - exigiu conhecer o VT antes de fechar o contrato, mesmo o pagamento sendo feito antecipado, a preços de tabela cheia. O material foi mandado para São Paulo, direto da produtora, via correio eletrônico, para um certo Dido Júnior. Ao que parece, ele é o encarregado de exercer o papel de censor de plantão”. E o anúncio não se veiculou.

A população somente pôde ser informada porque as demais emissoras de televisão foram menos banqueiras que os banqueiros. Em 45 segundos, o VT “Banco Mata”, que denuncia a ganância dos bancos e anuncia a greve dos bancários, foi veiculado na Bandeirantes, na Record e no SBT. O anúncio censurado está aqui, http://www.youtube.com/watch?v=IpYQ04PF5Fw


Refletindo bem, o comportamento da emissora faz sentido. Por meros 4.880 reais a Globo não iria perder as jóias do Itaú, Bradesco, Unibanco, etc. em rede nacional. Moral da história - assim digo, porque sempre ao fim de uma história deve existir alguma moral: os interesses financeiros e jornalísticos aqui e ali se misturam. Quem mandou o Sindicato esquecer de pôr o nome no VT?

Ou “como ousas sujar a água que estou bebendo?” Assim perguntou o lobo ao cordeiro, ao se preparar para comê-lo

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