Isac Zagury
As operações da Aracruz com derivativos cambiais - que resultaram em perdas superiores a US$ 2 bilhões para a empresa - foram detalhadamente acompanhadas pelos acionistas controladores da empresa. Foi o que afirmou ontem o ex-diretor financeiro da empresa, Isac Zagury, afastado do cargo depois que o prejuízo veio a público, há dois meses. O executivo, com 30 anos de experiência no mercado, teve sérios problemas de saúde depois do caso, entrou em depressão, ficou dez dias internado e agora decidiu dedicar-se integralmente à sua defesa.
Em decisão tomada anteontem em assembléia, os acionistas da Aracruz decidiram processar judicialmente Zagury pelos prejuízos, que chegam a US$ 2,13 bilhões. A empresa, que estava entrando em um novo ciclo de investimentos, suspendeu uma reestruturação acionária em curso, uma vultosa obra de ampliação de uma de suas fábricas, no Rio Grande do Sul, e se prepara para um resultado ruim em 2008, ano que despontava como uma grande guinada para o grupo.
Rompendo o silêncio que se havia imposto há dois meses, Zagury recebeu a Agência Estado ontem em seu apartamento, em São Conrado, no Rio, para dar a sua versão da história. Abatido, mas tranqüilo, ele afirma que enviava relatórios "praticamente diários" sobre os contratos ao Comitê Financeiro da empresa, formado por representantes de todos os controladores (Safra, família Lorentzen e Votorantim Celulose e Papel). Do final de 2004 a junho de 2008, a Aracruz ganhou, segundo os cálculos de Zagury, US$ 350 milhões com operações de hedge (proteção) cambial na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F).
De abril a agosto, os ganhos com derivativos cambiais bancários foram de US$ 50 milhões. E ele nega que os limites de exposição tenham sido extrapolados. "Todos nós tínhamos a interpretação de que estávamos dentro do limite. Quando surgiu o episódio do Lehman Brothers e o dólar passou de R$ 1,60 para mais de R$ 2, alguém tinha de ser culpado...", disse o executivo.
Segundo Zagury, a Aracruz chegou a operar com 12 bancos diferentes em contratos que foram oferecidos a partir de janeiro deste ano, chamados "sell target foward". Esses contratos são operações de derivativos cambiais com prazo mais longo, em torno de 12 meses, enquanto as operações na BM&F são mensais. Para os contratos bancários, porém, há limite de ganhos, a partir do qual a operação é encerrada e outro contrato tem de ser assinado. Para perdas, no entanto, não há limite estabelecido. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Nenhum comentário:
Postar um comentário