Num árduo debate nesta quinta (27) no plenário do Senado, o petista Eduardo Suplicy (SP) sugeriu aos senadores da oposição que ao invés de darem um tom de gravidade para o empréstimo de R$ 2 bilhões da Caixa Econômica Federal (CEF) à Petrobras deveriam antes telefonar para o presidente da estatal do petróleo, Sérgio Gabrielli, afim de pedirem explicações. Os senadores tucanos Tasso Jeressati (CE) e Arthur Virgílio (AM) provocaram alvoroço no mercado ao avaliarem que a transação revela sérios problemas de caixa na empresa.
"Eu até fiquei pensando: será que não seria adequado, antes de Vossa Excelência fazer o pronunciamento com o tom de gravidade sobre a maior empresa brasileira, ter telefonado ao presidente da Petrobras e obtido as informações que agora estão aqui colocadas?", disse Suplicy a Jeressati. O petista leu uma nota da empresa na qual consta que o empréstimo não passou de uma situação normal.
Sobre a convocação feita pelo tucanos para que Sérgio Gabrielli compareça na próxima semana à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado para dar explicações, o senador petista disse que conversou com Gabrielli que se colocou à disposição.
"Ele tinha, de ontem para hoje, compromissos e avaliou que esses esclarecimentos de maior urgência eram necessários dadas as perguntas que Vossa Excelência levantou ontem. Mas ele tem a disposição de vir ao Senado", afirmou.
O senador aproveitou para questionar o modo de agir da oposição. Referindo-se novamente a Jeressati, lembrou que o tucano noutro dia estava "bravo e indignado" porque o presidente Lula havia recomendado aos brasileiros que pudessem adquirir automóveis e bens. O mesmo comportamento não teve quando um aliado fez a mesma convocação.
"Vossa Excelência considerou que havia ali declarações um tanto irresponsáveis. Eu fiquei lembrando que ouvi, há poucos dias, o governador José Serra (PSDB-SP) conclamar pessoas no Brasil a adquirirem automóveis. Fez isso a cerca de duas semana. Eu fiquei esperando que Vossa Excelência fosse fazer aqui um paralelo, que não ouvi até agora", questionou Suplicy.
O senador cearense contra-atacou chamando Suplicy de ingênuo ao dar crédito aos números fornecidos pelos aliados. Sem explicar a contradição nos discursos, ironizou os governistas: "Normalmente, os ingênuos são pessoas de muito bom caráter. Não faz parte dessa ingenuidade, no entanto, a enorme fixação que Vossa Excelência e o senador Mercadante (Aloizio) têm pelo governador José Serra", disse.
Prosseguiu: "Não há uma acusação, uma denúncia, uma colocação mais séria sobre o governo federal que a gente faça aqui que não esteja na ponta da língua o nome do nosso querido governador José Serra. Não sei se isso é uma admiração ou uma frustração de não serem o governador José Serra", ironizou.
"Mas Vossa Excelência observou que ele, há poucos dias, conclamou os paulistas e brasileiros a adquirirem automóveis?", interveio o petista. "Vou chegar lá. Conclamou e fez", respondeu Jeressati sem maiores explicações.
Suplicy ressalta os números da estatal
O senador petista explicou que de fato a Petrobras teve, no último trimestre, uma diminuição de caixa de R$ 2,3 bilhões, mas terminou o terceiro trimestre com R$ 10 bilhões no cofre. "Então uma situação extremamente tranqüila." Disse que os R$ 17,3 bilhões de faturamento nos primeiros noves meses deste ano demonstra uma empresa saudável.
No mesmo período, a estatal investiu US$ 20,2 bilhões, o que corresponde a aproximadamente R$ 36 bilhões. "A Petrobras, com situação econômico-financeira saudável, distribuiu, ao longo desses nove meses, R$ 6 bilhões e teve uma captação líquida de recursos de R$ 4,2 bilhões", destacou Suplicy.
"No custo de suas atividades operacionais e financeiras, a Petrobras sempre acessa os mercados de capital e bancários nacionais e internacionais. A companhia sempre analisa todas as alternativas de financiamento, buscando sempre as opções mais adequadas ao perfil de sua dívida, seja na parte de custos, como nos prazos", diz um trecho da nota lida pelo senador..
Disse que em viturde das condições atuais do mercado financeiro internacional e a solidez do sistema financeiro nacional, as companhias brasileiras, incluindo a Petrobras, vêm utilizando com maior freqüência o mercado doméstico para suprir suas necessidades normais de financiamento. Além disso a evolução do câmbio propicia melhores condições para captações no mercado interno diminuindo a exposição da empresa a dívidas em dólar.
Tucano rebate os números
Com base no balanço da estatal, Jereissati disse que o passivo circulante líquido da Petrobras chegou, ao final do último mês, a R$ 92,9 bilhões. "Passivo circulante líquido, o professor conhece, pois é professor da Escola de Administração de Empresas, são aquelas dívidas de curto prazo, de curtíssimo prazo, que a Petrobras tem a pagar. Correto, professor, o conceito? R$92,9 bilhões extraídos do balanço."
Argumentou que o ativo circulante líquido, aquilo que a Petrobras tem em caixa e tem a receber no curto prazo, soma R$ 57 bilhões. "Há, portanto, um buraco aí de curto prazo de R$36 bilhões. Isso está claro? Isso significa que existe um problema de liquidez, concorda, professor?", provocou.
Após a explanação do tucano, Suplicy afirmou que os números serão confrontados na audiência com Gabrielli, mas assegurou que não existe problemas de caixa e nem com pagamento de fornecedores como foi alardeado.
com informações de Iram Alfaia
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