terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Pai do Plano Real (O VERDADEIRO PAI) contradiz previsões catastróficas para 2009



Para o economista Edmar Bacha, pai do Plano Real, o impacto da crise financeira na economia brasileira está longe de se igualar às consequências nos Estados Unidos ou em países da Europa. Bacha prevê um ajuste suave do Brasil ao novo mapa global

Alexa Salomão



O economista Edmar Bacha dispensa adjetivos. Seu currículo fala por ele. Ganhou prestígio acadêmico ao cunhar em um de seus trabalhos o termo Belíndia, no qual defendia que a ditadura militar, entre os anos 60 e 80, havia dividido os brasileiros em duas categorias - os que viviam na prosperidade de uma Bélgica e os que sobreviviam em uma miserável Índia. É considerado por muitos o pai do Plano Real, que tirou o Brasil da hiperinflação na década de 90. Desde 1996, Bacha é consultor sênior do Itaú BBA, o banco de investimento do grupo Itaú. Suas aparições públicas são cada vez mais raras e uma delas tem data e local marcados: o almoço de fim de ano que o Itaú BBA oferece à imprensa. Esse encontro ocorreu hoje (2/12), na sede do banco, em São Paulo.



Neste ano, como de costume, Bacha fez a revisão dos cenários que traçou no ano passado e apresentou as projeções para o próximo. Mas havia um diferencial: pela primeira vez em quase uma década, suas previsões feitas em 2007 foram muito diferentes da realidade em 2008. Os cenários para 2009, que ele chamou de “apostas”, tal o nível de incerteza que ronda a economia, eram desalentadores, diferentemente do que ocorreu nos últimos anos, em que os cenários sempre apontavam para dias melhores. “Errei muita coisa no ano passado”, disse Bacha.



A inflação foi uma delas. Ele previu um IPCA de 4,5%, mas a taxa tende a fechar o ano em 6,4%. O IGP-DI, acreditava há um ano, poderia ficar em 7,8%, mas agora aponta para 11%. Bacha tinha a expectativa de que a balança comercial iria a quase US$ 40 bilhões. Tudo indica agora que ficará em cerca de US$ 24 bilhões. O comportamento mais atípico foi o da taxa de câmbio. A previsão de R$ 1,76 para a cotação do dólar ficou bem longe dos R$ 2,30 dos dias atuais. Bacha esperava uma queda na cotação do dólar de 18% neste ano. Provavelmente, a alta da moeda americana vai passar de 30%.



Os desajustes entre as expectativas e a realidade em parte reafirmam os rumos da crise atual. Bacha, como a grande maioria dos economistas, não esperava um baque tão grande. “É a mais forte recessão desde o pós-guerra”, diz Bacha. “E 2009 será um ano difícil.” O alento é que ele também espera um impacto menos duro no Brasil. “O ajuste brasileiro tende a ser suave”, diz. “Tudo vai depender da capacidade de o país manter o clima de confiança.”



Para 2009, Bacha “aposta” que alguns indicadores que medem a força da economia podem ficar bem ruins. A balança comercial é um deles. Pode fechar o ano em parcos US$ 7 bilhões - uma queda vertiginosa em relação aos US$ 24 bilhões esperados para este ano. O investimento estrangeiro é outro ponto frágil. Pode cair pela metade, para US$ 20 bilhões. Neste ano, a expectativa é que feche em US$ 40 bilhões. Em compensação, o investimento brasileiro no exterior também tende a cair para US$ 10 bilhões, metade dos US$ 22 bilhões previstos para este ano.



Segundo Bacha, existem duas visões em relação à crise. A primeira é que ela é estrutural, profunda e longa. “Essa crise seria muito parecida com a que ocorreu nos anos 30”, diz Bacha. “Destruiu o sistema de intermediação financeira e reconstituí-lo vai levar anos, muitos anos.” Outra corrente, igualmente radical, acredita que houve uma megabolha e que os ajustes serão penosos, mas nem todos vão sofrer tanto. “Teria havido uma bolha, a criação de um sistema paralelo, que supostamente deveria reduzir os riscos pela diversificação, mas o que fez foi aumentar o risco e elevar a capacidade de ocultá-lo”, diz Bacha. “Nesse caso, estaríamos vendo a explosão desse risco, e instituições como a nossa, mais tradicionais, não vão ser tão afetadas.”



Segundo Bacha, o Brasil pode sair ganhando. “Nossos vícios na área financeira acabaram por se revelar virtudes”, diz Bacha. “Reservas elevadas, bancos públicos fortes, juros e compulsórios elevados mostraram-se importantes. Temos dinheiro para gastar, agora.” O conselho final de Bacha para que o país permaneça em uma posição melhor é: “O Brasil deve vergar, para não quebrar”, diz. “É importante que, neste momento, o país mantenha o conservadorismo.” Traduzindo: evite a recessão, mas tenha cuidado com crescimentos elevados que possam criar gargalos irremediáveis no futuro.


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