Em reunião das centrais sindicais com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, o presidente da CUT, Artur Henrique, afirmou que “não é possível que um banco financiado em parte pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador continue financiando empresas que desamparem o trabalhador”. O presidente da CGTB, Antonio Neto, relatou que “pedimos o corte dos financiamentos para a Vale enquanto ela não assegurar a manutenção dos postos do trabalho. Iremos intensificar a campanha para que o governo, maior acionista, retome o controle da empresas e a recoloque a serviço do povo brasileiro”.
Vale do Rio Doce usa a crise externa para extorquir mais
Privatizada por FHC com dinheiro do BNDS, Vale mantém preços de monopólio, demite e quer cortar mais direitos
O presidente da Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, é um funcionário que o Bradesco, que tem cerca de 8% das ações com direito a voto da Vale, colocou à frente da segunda maior empresa do país, apesar de 41% das ações votantes estarem nas mãos dos fundos de pensão do Banco do Brasil e da Caixa e 12% com o BNDES. Nas palavras do ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, “o poder estatal ainda detém mais de 50% da Vale do Rio Doce, embora seu comando, sua direção, por esses artifícios de natureza legal, pertencem a 8%, detidos por um determinado banco privado” (cf., HP, 16/05/2008).
Não falaremos aqui do fato de que a participação do Bradesco na Vale é ilegal, pois o banco foi um dos avaliadores no processo de privatização da empresa – o que o inabilitava para comprá-la, mas, na época de Fernando Henrique e seu advogado-geral, Gilmar Mendes, trambi-ques e negócios não eram considerados dois departamentos diferentes.
O Bradesco, portanto, manda na Vale sem ter a maioria do capital votante. Com a alquimia do governo Fernando Henrique, não precisou desembolsar dinheiro para ter esse comando sobre a empresa.
Portanto, Agnelli teria – e tem – todos os motivos para ser um sujeito discreto e procurar não chamar atenção sobre sua pessoa, ao menos como presidente da Vale. Deveria ser aquilo que os jornais americanos chama de “low profile”, ou seja, um sonso que prefere fazer as coisas na sombra.
O problema é que Agnelli é, também, um desses espevitados e untuosos rapazes que abundaram na maré do neoliberalismo, crentes de que o monopólio é algo eterno e, talvez, divino, assim como sua função de executivos de grandes empresas.
Assim, no último dia 14, Agnelli pregou a “suspensão de contrato de trabalho, redução da jornada com redução de salário, coisas assim, em caráter temporário”, supostamente como medida para combater a crise – uma crise que não afetou o país, exceto em menor medida.
Três dias depois, na quarta-feira, dia 17, a Vale do Rio Doce adquiriu as minas de cobre da TEAL Exploration & Mining Incorporated (TEAL), subsidiária da empresa sul-africana African Rainbow Minerals Limited (ARM). O negócio significa a compra das minas da ARM localizadas no Congo, Namíbia, Moçambique e Zaire. Com a crise nos países centrais e consequente desvalorização dos ativos em dólar, a Vale está usando os R$ 15 bilhões que tem em caixa para ampliar seus negócios e seu monopólio minerador em outras partes do mundo. Enquanto isso, seu presidente postula que o grande problema da crise é que os trabalhadores estão recebendo muito dinheiro.
LUCRO
A Vale é um dos maiores escândalos do governo Fernando Henrique: até então uma empresa estatal, detentora de reservas de valor incalculável, ela foi privatizada por meros R$ 3,3 bilhões, e mesmo assim com financiamento do BNDES aos “compradores”. Somente nos primeiros nove meses deste ano a Vale teve um lucro líquido de R$ 19 bilhões, quase o mesmo lucro líquido de todo o ano passado: R$ 20 bilhões.
Devido às reservas que o governo Fernando Henrique privatizou junto com a companhia, hoje a Vale é a 12ª empresa do mundo em “valor de mercado” (US$ 196,5 bilhões) e a nona das Américas. Acima dela, no Brasil, há somente a Petrobrás. Além desta, nas Américas somente as norte-americanas Exxon-Mobil, General Eletric, Microsoft, AT&T, Wall Mart, Chevron-Texaco e Procter & Gamble têm “valor de mercado” superior à Vale – e reparemos que esses valores foram calculados em maio, antes que a crise dos EUA lançasse suas empresas no abismo (cf. Relatório Econo-mática, 15/05/2008).
Não obstante essa potência econômica obtida às custas do Estado e do povo brasileiro, a Vale vem sugando o BNDES de uma forma, que nos perdoem os leitores mais pudicos, verdadeiramente indecente (para esse e outros dados, ver matéria em nossa edição anterior).
PREÇOS
A Vale é uma das três companhias que dominam o fornecimento e determinam os preços do minério de ferro no mundo – produto extrativo que deu um salto nos preços devido à manipulação desse cartel. Naturalmente, o objetivo principal dos aumentos de preços era achacar os chineses, maiores compradores de minério de ferro do mundo. Assim, no final do mês passado, os chineses, depois de um novo aumento, suspenderam os contratos de fornecimento: simplesmente, eles perceberam que tinham, como principal comprador, o poder de negociar os preços, e deixar de ser achacados impunemente.
Foi o quanto bastou para Agnelli, confrontado com as conseqüências de sua política burra – parecida com a do sujeito que matou a galinha dos ovos de ouro – anunciasse, no dia 3 de dezembro, o corte na produção de 30 milhões de toneladas de minério de ferro, a redução da pelotização do minério de ferro, da produção de alumínio, manganês e ferros-ligas, dando férias coletivas para milhares de trabalhadores e demitindo outros tantos. Ao mesmo tempo, pelo que apontam as medições dos institutos de pesquisas, a construção civil manteve o seu crescimento e a conseqüente procura por ferro e aço. Tampouco caiu a demanda da China. Apenas, os chineses queriam negociar os preços.
Cerca de 10 dias depois, Agnelli apareceu com a história da suspensão dos direitos trabalhistas.
Não é preciso muito para perceber a chantagem contra o Estado, contra a sociedade e, sobretudo, contra os trabalhadores, por parte de um monopólio privado que controla a seu bel prazer a produção de matérias primas indispensáveis ao crescimento da indústria e do país.
Este breve resumo de fatos recentes revela a estratégia, nada nova, usada pelo monopólio para garantir o superlucro. O problema é que é uma estratégia curta – e, a rigor, estúpida: primeiro porque os trabalhadores não vão aceitar que seus direitos sejam cortados ou abolidos; segundo porque a falta de direitos, ou seja, a redução de salários, só serviria para trazer a crise para o Brasil – quanto menos salário, menos consumo, menos vendas; e terceiro porque Agnelli, cujo cargo é dependente do Estado até os cueiros, está provocando sobre a situação da Vale toda a atenção que o velho Amador Aguiar, fundador do Bradesco, detestaria que um funcionário seu provocasse.
Portanto, Agnelli deveria tomar mais cuidado com essa conversa de demissões e suspensão de direitos. A vítima pode ser, perfeitamente, ele. As Centrais sindicais estão pedindo ao BNDES que pare o fornecimento de dinheiro à Vale. Mas pode ser que o Estado, que controla, a rigor, a maioria das ações com direito a voto, demore um pouco para exercer o seu direito de demiti-lo; porém, o Estado é sempre mais generoso do que o Bradesco.
Privatizada por FHC com dinheiro do BNDS, Vale mantém preços de monopólio, demite e quer cortar mais direitos
O presidente da Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, é um funcionário que o Bradesco, que tem cerca de 8% das ações com direito a voto da Vale, colocou à frente da segunda maior empresa do país, apesar de 41% das ações votantes estarem nas mãos dos fundos de pensão do Banco do Brasil e da Caixa e 12% com o BNDES. Nas palavras do ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, “o poder estatal ainda detém mais de 50% da Vale do Rio Doce, embora seu comando, sua direção, por esses artifícios de natureza legal, pertencem a 8%, detidos por um determinado banco privado” (cf., HP, 16/05/2008).
Não falaremos aqui do fato de que a participação do Bradesco na Vale é ilegal, pois o banco foi um dos avaliadores no processo de privatização da empresa – o que o inabilitava para comprá-la, mas, na época de Fernando Henrique e seu advogado-geral, Gilmar Mendes, trambi-ques e negócios não eram considerados dois departamentos diferentes.
O Bradesco, portanto, manda na Vale sem ter a maioria do capital votante. Com a alquimia do governo Fernando Henrique, não precisou desembolsar dinheiro para ter esse comando sobre a empresa.
Portanto, Agnelli teria – e tem – todos os motivos para ser um sujeito discreto e procurar não chamar atenção sobre sua pessoa, ao menos como presidente da Vale. Deveria ser aquilo que os jornais americanos chama de “low profile”, ou seja, um sonso que prefere fazer as coisas na sombra.
O problema é que Agnelli é, também, um desses espevitados e untuosos rapazes que abundaram na maré do neoliberalismo, crentes de que o monopólio é algo eterno e, talvez, divino, assim como sua função de executivos de grandes empresas.
Assim, no último dia 14, Agnelli pregou a “suspensão de contrato de trabalho, redução da jornada com redução de salário, coisas assim, em caráter temporário”, supostamente como medida para combater a crise – uma crise que não afetou o país, exceto em menor medida.
Três dias depois, na quarta-feira, dia 17, a Vale do Rio Doce adquiriu as minas de cobre da TEAL Exploration & Mining Incorporated (TEAL), subsidiária da empresa sul-africana African Rainbow Minerals Limited (ARM). O negócio significa a compra das minas da ARM localizadas no Congo, Namíbia, Moçambique e Zaire. Com a crise nos países centrais e consequente desvalorização dos ativos em dólar, a Vale está usando os R$ 15 bilhões que tem em caixa para ampliar seus negócios e seu monopólio minerador em outras partes do mundo. Enquanto isso, seu presidente postula que o grande problema da crise é que os trabalhadores estão recebendo muito dinheiro.
LUCRO
A Vale é um dos maiores escândalos do governo Fernando Henrique: até então uma empresa estatal, detentora de reservas de valor incalculável, ela foi privatizada por meros R$ 3,3 bilhões, e mesmo assim com financiamento do BNDES aos “compradores”. Somente nos primeiros nove meses deste ano a Vale teve um lucro líquido de R$ 19 bilhões, quase o mesmo lucro líquido de todo o ano passado: R$ 20 bilhões.
Devido às reservas que o governo Fernando Henrique privatizou junto com a companhia, hoje a Vale é a 12ª empresa do mundo em “valor de mercado” (US$ 196,5 bilhões) e a nona das Américas. Acima dela, no Brasil, há somente a Petrobrás. Além desta, nas Américas somente as norte-americanas Exxon-Mobil, General Eletric, Microsoft, AT&T, Wall Mart, Chevron-Texaco e Procter & Gamble têm “valor de mercado” superior à Vale – e reparemos que esses valores foram calculados em maio, antes que a crise dos EUA lançasse suas empresas no abismo (cf. Relatório Econo-mática, 15/05/2008).
Não obstante essa potência econômica obtida às custas do Estado e do povo brasileiro, a Vale vem sugando o BNDES de uma forma, que nos perdoem os leitores mais pudicos, verdadeiramente indecente (para esse e outros dados, ver matéria em nossa edição anterior).
PREÇOS
A Vale é uma das três companhias que dominam o fornecimento e determinam os preços do minério de ferro no mundo – produto extrativo que deu um salto nos preços devido à manipulação desse cartel. Naturalmente, o objetivo principal dos aumentos de preços era achacar os chineses, maiores compradores de minério de ferro do mundo. Assim, no final do mês passado, os chineses, depois de um novo aumento, suspenderam os contratos de fornecimento: simplesmente, eles perceberam que tinham, como principal comprador, o poder de negociar os preços, e deixar de ser achacados impunemente.
Foi o quanto bastou para Agnelli, confrontado com as conseqüências de sua política burra – parecida com a do sujeito que matou a galinha dos ovos de ouro – anunciasse, no dia 3 de dezembro, o corte na produção de 30 milhões de toneladas de minério de ferro, a redução da pelotização do minério de ferro, da produção de alumínio, manganês e ferros-ligas, dando férias coletivas para milhares de trabalhadores e demitindo outros tantos. Ao mesmo tempo, pelo que apontam as medições dos institutos de pesquisas, a construção civil manteve o seu crescimento e a conseqüente procura por ferro e aço. Tampouco caiu a demanda da China. Apenas, os chineses queriam negociar os preços.
Cerca de 10 dias depois, Agnelli apareceu com a história da suspensão dos direitos trabalhistas.
Não é preciso muito para perceber a chantagem contra o Estado, contra a sociedade e, sobretudo, contra os trabalhadores, por parte de um monopólio privado que controla a seu bel prazer a produção de matérias primas indispensáveis ao crescimento da indústria e do país.
Este breve resumo de fatos recentes revela a estratégia, nada nova, usada pelo monopólio para garantir o superlucro. O problema é que é uma estratégia curta – e, a rigor, estúpida: primeiro porque os trabalhadores não vão aceitar que seus direitos sejam cortados ou abolidos; segundo porque a falta de direitos, ou seja, a redução de salários, só serviria para trazer a crise para o Brasil – quanto menos salário, menos consumo, menos vendas; e terceiro porque Agnelli, cujo cargo é dependente do Estado até os cueiros, está provocando sobre a situação da Vale toda a atenção que o velho Amador Aguiar, fundador do Bradesco, detestaria que um funcionário seu provocasse.
Portanto, Agnelli deveria tomar mais cuidado com essa conversa de demissões e suspensão de direitos. A vítima pode ser, perfeitamente, ele. As Centrais sindicais estão pedindo ao BNDES que pare o fornecimento de dinheiro à Vale. Mas pode ser que o Estado, que controla, a rigor, a maioria das ações com direito a voto, demore um pouco para exercer o seu direito de demiti-lo; porém, o Estado é sempre mais generoso do que o Bradesco.
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