Kassab deixa obras de R$ 5 bi sem concluir
70% dos projetos adiados são em transportes, habitação e urbanismo
Após quase três anos à frente da gestão iniciada em 2005 por José Serra (PSDB), o prefeito Gilberto Kassab (DEM), de 48 anos, assume amanhã a Prefeitura de São Paulo com o desafio de apresentar à sociedade um político além da Lei Cidade Limpa. Mas terá de cumprir primeiramente um passivo: as obras prometidas por sua gestão e inacabadas totalizam mais de R$ 5 bilhões. Esse déficit está 70% concentrado em transportes, habitação e revitalização do centro.
No entanto, os desafios atingem todas as áreas. Para as obras não faltam verbas no orçamento e algumas ainda contam com parcerias com Estado, União, iniciativa privada e ONGs - no caso dos programas para monitoramento eletrônico da cidade, construção de creches e eliminação de cortiços.
Logo no fim do primeiro mês do segundo mandato, por exemplo, o prefeito tem a missão de entregar 11 Centros Educacionais Unificados (CEUs) prontos para o início das aulas, cada um ao custo de R$ 20 milhões. Nos canteiros de obras, quase 4 mil funcionários se revezam em plantões até aos domingos para a conclusão "da parte pedagógica" das unidades, como vem dizendo o titular da Educação, Alexandre Schneider. O prefeito sabe que alunos à espera de vagas em escolas inacabadas serão um prato cheio para a oposição.
Para o cientista político Marco Antonio Teixeira, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), para se consolidar como líder político emergente no cenário nacional, Kassab terá de cumprir a agenda prometida na campanha. "Durante as eleições, a discussão no campo ideológico deu lugar ao debate sobre o gestor que pode fazer mais com menos recursos. E o Kassab fez muitas promessas, como a entrega dos CEUs no começo de 2009. Todo mundo no início do ano estará atento."
Na área de Transportes, as cobranças começam em janeiro. Kassab prometeu concluir em dezembro o ramal do Expresso Tiradentes (antigo Fura-Fila) até a Vila Prudente, na zona leste. O prazo da promessa foi postergado, após um acidente com uma estrutura suspensa sobre a Avenida do Estado. Já a conclusão do corredor da Celso Garcia nem prazo possui. Os dois corredores têm custos estimados em R$ 1,5 bilhão e estão atrasados.
Outros projetos da pasta comandada pelo ex-promotor Alexandre de Moraes, definidos pela atual gestão desde 2006, seguem sem sair do papel, como a redução do número de linhas de ônibus em áreas centrais, a ampliação da Avenida dos Bandeirantes e o prolongamento da Avenida Roberto Marinho até a Rodovia dos Imigrantes. A instalação e a manutenção de semáforos inteligentes na maior parte da cidade, prometida por Serra na campanha ao governo municipal de 2004, ainda precisa ser concluída - o projeto está orçado em R$ 162 milhões.
Área com avanços propagados na campanha, como a criação das 110 Assistências Médicas Ambulatoriais (AMAs), a Saúde ainda obriga pacientes a esperarem meses por uma consulta com ginecologistas e ortopedistas, nas unidades de pronto-atendimento e nos hospitais municipais. A ampliação de leitos no Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos desafios para 2009, de acordo com o titular da pasta, Januário Montone. "Em muitas regiões da cidade nós temos mais usuários do SUS do que o número de habitantes", afirmou o secretário, que estuda enviar à Câmara um projeto que autoriza a administração a pedir leitos na periferia como contrapartida de hospitais particulares que abrirem novas unidades na região da Avenida Paulista.
Para os planos de reurbanização de favelas e remoções de famílias de regiões de mananciais, Kassab terá R$ 1,2 bilhão em recursos municipais, estaduais e federais. Entre os projetos prometidos para 2008 na área de Habitação, que ficaram para 2009, está a remoção de 18 favelas das Marginais do Pinheiros e do Tietê - apenas uma foi removida, a da Ilha Verde, sobre a Ponte Anhangüera, na zona oeste. O processo de regularização de 108 áreas de ocupação da capital, onde moram 23 mil famílias, também teve início em janeiro de 2008 e precisa ser concluído.
URBANISMO
A tão propagada revitalização da região chamada Nova Luz e do centro - totalizando R$ 1 bilhão - segue com as principais intervenções atrasadas, como as desapropriações necessárias para a instalação de 76 indústrias. Quem passa por Alameda Helvétia e Rua dos Gusmões, por exemplo, se depara com a mesma cena do início da década: ruas ocupadas por viciados em crack, prédios abandonados e poucos comércios, que fecham antes das 18 horas.
Do outro lado do centro, no Parque D. Pedro II, as demolições do Edifício São Vito e do Viaduto Diário Popular, prometidas para o fim de 2006, ficaram nos discursos. Segundo dados oficiais do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), entre janeiro de 2005 e fevereiro deste ano a atual gestão usou só US$ 4 milhões dos US$ 100 milhões que estavam à disposição para a Prefeitura aplicar na revitalização do centro. "Nunca se teve clareza do que realmente vai ser feito na Nova Luz. As empresas não sabem quais as vantagens de ir para o centro, ninguém na verdade sabe", critica Lucila Lacreta, coordenadora do Movimento Defenda SP.
O QUE FALTOU
TRANSPORTES
Concluir os corredores Celso Garcia e Expresso Tiradentes
A velocidade média nos oito corredores exclusivos de ônibus caiu de 18km/h em 2003 para 12 km/h em outubro de 2008, ao contrário do que se pretendia
A reestruturação do transporte coletivo, com redução no número de linhas e construção de novos terminais, uma promessa feita em 2006 pelo ex-secretário de Transportes Frederico Bussinger
Obras de requalificação e ampliação das pistas da Avenida dos Bandeirantes
Prolongamento da Avenida Roberto Marinho até a Rodovia dos Imigrantes
Novas ciclovias ao longo das linhas do Metrô
Programa de revitalização semafórica, com a implementação dos semáforos inteligentes nos bairros da periferia
SEGURANÇA
Instalação de câmeras no centro expandido - faltam 8 mil aparelhos dos 12 mil prometidos pelo governo
URBANISMO
Conclusão do Projeto Nova Luz - faltam intervenções no centro não cumpridas nos últimos três anos, como o remodelamento do Largo do Paiçandu, a instalação de empresas na região conhecida como Cracolândia, a construção de prédios para moradias de famílias de baixa renda e de garagens subterrâneas
Reforma da Praça Roosevelt
Novo centro de exposições em Pirituba
Revitalização do Parque D. Pedro II, com as demolições do Viaduto Diário Popular e dos Edifícios São Vito e Mercúrio
Implementação de rua-modelo, nos moldes da reforma da Oscar Freire. Das mais de 60 vias da capital que se candidataram ao programa, apenas 9 tiveram as obras concluídas
Licitação do mobiliário urbano para empresas assumirem a administração de abrigos de ônibus e lixeiras (o processo de concessão foi paralisado em fevereiro de 2007)
Reforma do Planetário do Carmo
SAÚDE
Melhorar a espera de até oito meses por ortopedistas e ginecologistas nas unidades municipais de saúde
Ampliar o número de leitos disponíveis para atendimento pelo Sistema Único de Saúde
Aumentar as ações de atendimento à saúde mental, instalando Caps (Centro de Apoio Psicossocial) Adulto, Infantil e especializado para dependentes de álcool e drogas nas periferias das zonas leste e sul
Aperfeiçoar o modelo de organizações sociais (OSs), entidades privadas que administram unidades municipais de saúde, melhorando os contratos de gestão
EDUCAÇÃO
70% dos projetos adiados são em transportes, habitação e urbanismo
Após quase três anos à frente da gestão iniciada em 2005 por José Serra (PSDB), o prefeito Gilberto Kassab (DEM), de 48 anos, assume amanhã a Prefeitura de São Paulo com o desafio de apresentar à sociedade um político além da Lei Cidade Limpa. Mas terá de cumprir primeiramente um passivo: as obras prometidas por sua gestão e inacabadas totalizam mais de R$ 5 bilhões. Esse déficit está 70% concentrado em transportes, habitação e revitalização do centro.
No entanto, os desafios atingem todas as áreas. Para as obras não faltam verbas no orçamento e algumas ainda contam com parcerias com Estado, União, iniciativa privada e ONGs - no caso dos programas para monitoramento eletrônico da cidade, construção de creches e eliminação de cortiços.
Logo no fim do primeiro mês do segundo mandato, por exemplo, o prefeito tem a missão de entregar 11 Centros Educacionais Unificados (CEUs) prontos para o início das aulas, cada um ao custo de R$ 20 milhões. Nos canteiros de obras, quase 4 mil funcionários se revezam em plantões até aos domingos para a conclusão "da parte pedagógica" das unidades, como vem dizendo o titular da Educação, Alexandre Schneider. O prefeito sabe que alunos à espera de vagas em escolas inacabadas serão um prato cheio para a oposição.
Para o cientista político Marco Antonio Teixeira, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), para se consolidar como líder político emergente no cenário nacional, Kassab terá de cumprir a agenda prometida na campanha. "Durante as eleições, a discussão no campo ideológico deu lugar ao debate sobre o gestor que pode fazer mais com menos recursos. E o Kassab fez muitas promessas, como a entrega dos CEUs no começo de 2009. Todo mundo no início do ano estará atento."
Na área de Transportes, as cobranças começam em janeiro. Kassab prometeu concluir em dezembro o ramal do Expresso Tiradentes (antigo Fura-Fila) até a Vila Prudente, na zona leste. O prazo da promessa foi postergado, após um acidente com uma estrutura suspensa sobre a Avenida do Estado. Já a conclusão do corredor da Celso Garcia nem prazo possui. Os dois corredores têm custos estimados em R$ 1,5 bilhão e estão atrasados.
Outros projetos da pasta comandada pelo ex-promotor Alexandre de Moraes, definidos pela atual gestão desde 2006, seguem sem sair do papel, como a redução do número de linhas de ônibus em áreas centrais, a ampliação da Avenida dos Bandeirantes e o prolongamento da Avenida Roberto Marinho até a Rodovia dos Imigrantes. A instalação e a manutenção de semáforos inteligentes na maior parte da cidade, prometida por Serra na campanha ao governo municipal de 2004, ainda precisa ser concluída - o projeto está orçado em R$ 162 milhões.
Área com avanços propagados na campanha, como a criação das 110 Assistências Médicas Ambulatoriais (AMAs), a Saúde ainda obriga pacientes a esperarem meses por uma consulta com ginecologistas e ortopedistas, nas unidades de pronto-atendimento e nos hospitais municipais. A ampliação de leitos no Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos desafios para 2009, de acordo com o titular da pasta, Januário Montone. "Em muitas regiões da cidade nós temos mais usuários do SUS do que o número de habitantes", afirmou o secretário, que estuda enviar à Câmara um projeto que autoriza a administração a pedir leitos na periferia como contrapartida de hospitais particulares que abrirem novas unidades na região da Avenida Paulista.
Para os planos de reurbanização de favelas e remoções de famílias de regiões de mananciais, Kassab terá R$ 1,2 bilhão em recursos municipais, estaduais e federais. Entre os projetos prometidos para 2008 na área de Habitação, que ficaram para 2009, está a remoção de 18 favelas das Marginais do Pinheiros e do Tietê - apenas uma foi removida, a da Ilha Verde, sobre a Ponte Anhangüera, na zona oeste. O processo de regularização de 108 áreas de ocupação da capital, onde moram 23 mil famílias, também teve início em janeiro de 2008 e precisa ser concluído.
URBANISMO
A tão propagada revitalização da região chamada Nova Luz e do centro - totalizando R$ 1 bilhão - segue com as principais intervenções atrasadas, como as desapropriações necessárias para a instalação de 76 indústrias. Quem passa por Alameda Helvétia e Rua dos Gusmões, por exemplo, se depara com a mesma cena do início da década: ruas ocupadas por viciados em crack, prédios abandonados e poucos comércios, que fecham antes das 18 horas.
Do outro lado do centro, no Parque D. Pedro II, as demolições do Edifício São Vito e do Viaduto Diário Popular, prometidas para o fim de 2006, ficaram nos discursos. Segundo dados oficiais do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), entre janeiro de 2005 e fevereiro deste ano a atual gestão usou só US$ 4 milhões dos US$ 100 milhões que estavam à disposição para a Prefeitura aplicar na revitalização do centro. "Nunca se teve clareza do que realmente vai ser feito na Nova Luz. As empresas não sabem quais as vantagens de ir para o centro, ninguém na verdade sabe", critica Lucila Lacreta, coordenadora do Movimento Defenda SP.
O QUE FALTOU
TRANSPORTES
Concluir os corredores Celso Garcia e Expresso Tiradentes
A velocidade média nos oito corredores exclusivos de ônibus caiu de 18km/h em 2003 para 12 km/h em outubro de 2008, ao contrário do que se pretendia
A reestruturação do transporte coletivo, com redução no número de linhas e construção de novos terminais, uma promessa feita em 2006 pelo ex-secretário de Transportes Frederico Bussinger
Obras de requalificação e ampliação das pistas da Avenida dos Bandeirantes
Prolongamento da Avenida Roberto Marinho até a Rodovia dos Imigrantes
Novas ciclovias ao longo das linhas do Metrô
Programa de revitalização semafórica, com a implementação dos semáforos inteligentes nos bairros da periferia
SEGURANÇA
Instalação de câmeras no centro expandido - faltam 8 mil aparelhos dos 12 mil prometidos pelo governo
URBANISMO
Conclusão do Projeto Nova Luz - faltam intervenções no centro não cumpridas nos últimos três anos, como o remodelamento do Largo do Paiçandu, a instalação de empresas na região conhecida como Cracolândia, a construção de prédios para moradias de famílias de baixa renda e de garagens subterrâneas
Reforma da Praça Roosevelt
Novo centro de exposições em Pirituba
Revitalização do Parque D. Pedro II, com as demolições do Viaduto Diário Popular e dos Edifícios São Vito e Mercúrio
Implementação de rua-modelo, nos moldes da reforma da Oscar Freire. Das mais de 60 vias da capital que se candidataram ao programa, apenas 9 tiveram as obras concluídas
Licitação do mobiliário urbano para empresas assumirem a administração de abrigos de ônibus e lixeiras (o processo de concessão foi paralisado em fevereiro de 2007)
Reforma do Planetário do Carmo
SAÚDE
Melhorar a espera de até oito meses por ortopedistas e ginecologistas nas unidades municipais de saúde
Ampliar o número de leitos disponíveis para atendimento pelo Sistema Único de Saúde
Aumentar as ações de atendimento à saúde mental, instalando Caps (Centro de Apoio Psicossocial) Adulto, Infantil e especializado para dependentes de álcool e drogas nas periferias das zonas leste e sul
Aperfeiçoar o modelo de organizações sociais (OSs), entidades privadas que administram unidades municipais de saúde, melhorando os contratos de gestão
EDUCAÇÃO
2009 começa com 66 turnos da fome (meta de Kassab, apresentada em 2007, era acabar com o turno até o final de 2008, mas isso deve ocorrer no ano de 2010, conforme a Prefeitura)
Meta era criar 500 novas creches com as PPPs, mas as inaugurações que estavam previstas para 2008 não saíram do papel após o Tribunal de Contas do Município questionar o modelo, prometido para sair do papel em 2009
11 Centros Educacionais Unificados (CEUs) precisam ficar prontos até o início de fevereiro, uma das principais promessas da última campanha
HABITAÇÃO
Conclusão da regularização de 108 áreas de ocupação, incluindo melhorias nas regiões das Represas Billings e de Guarapiranga
Remoção de 18 favelas localizadas nas Marginais do Pinheiros e do Tietê
Intensificar o Programa de Recuperação de Cortiços, com maior foco em reformas no centro
LIMPEZA PÚBLICA
Encontrar novos aterros para o depósito diário de 17 mil toneladas de lixo na região da Grande São Paulo. Contrato foi refeito em 2008 e postergado o prazo para conclusão dos aterros para os próximos anos
Ampliar em 30 mil os pontos de iluminação existentes em bairros da periferia
AMBIENTE
Implementar a inspeção veicular para toda a frota de 6 milhões de veículos licenciados na capital
Fazer a reforma da orla da Guarapiranga, um projeto de R$ 43 milhões que prevê a construção de parque linear, praia e área para pesca, além da despoluição de 30 córregos afluentes do manancial
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