terça-feira, 27 de janeiro de 2009

DETONANDO AÉCIO NEVES E EDUARDO AZEREDO, PSDB

Aécio Neves sob nossos holofotes

Cristina Moreno de Castro, do Tamos com Raiva

Reforçando a tese de que os mineiros "comem quieto", ficou demonstrado, esta semana(09-2007), que a politicalha de Minas Gerais conseguiu cometer todos os velhos crimes de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e peculato sem grandes estardalhaços e durante vários anos. Por meio de um mega-esquema de corrupção envolvendo 17 partidos, diversas estatais, 159 políticos e alguns empresários, o Estado-sem-mídia resistiu incólume a todas as eleições passadas, até que um ex-coordenador financeiro de campanha (no caso, Cláudio Mourão, da campanha malsucedida do tucano Eduardo Azeredo) ficasse aborrecido por não ter recebido R$ 900 mil do que ele dizia ser dívida da campanha. Eis que surge a "lista do Mourão", agora divulgada na íntegra pelo relatório da Polícia Federal que vazou pra imprensa.

Entre os beneficiados que estão na lista, um nome, sempre tão protegido pela imprensa local, merece a luz dos holofotes do Tamos com Raiva: Aécio Neves é acusado de ter recebido nada menos que R$ 110 mil para sua reeleição como deputado federal em 1998.

Por meio de assessoria, o governador se defende:

"A Assessoria de Imprensa do Governo de Minas Gerais informa que o então candidato a deputado federal Aécio Neves não recebeu recursos oriundos da campanha majoritária do PSDB para o governo do Estado em 1998. Informa ainda que o nome do então candidato a deputado não é sequer citado no corpo do relatório da Polícia Federal. Com relação à lista anexa ao relatório divulgado, contendo 130 nomes de candidatos de 17 partidos políticos, é importante ressaltar que o Laudo do Instituto Nacional de Criminalística da PF afirma não haver indícios de montagem da mesma e que a assinatura do senhor Cláudio Mourão seria verdadeira, mas não se manifesta sobre a veracidade do conteúdo da lista. O relatório da própria Polícia Federal também não atesta a veracidade do conteúdo global da lista entregue à PF pelo senhor Nilton Monteiro."

A defesa do governador mineiro dá no que pensar: a perícia da PF atesta a veracidade da assinatura de Mourão e da lista em que o ex-tesoureiro tucano confirma repasses milionários a parceiros políticos em campanha. OK, concordamos nisso. "Mas não se manifesta sobre a veracidade do conteúdo da lista". Engraçado, me parece que grande parte das denúncias feitas pelo delegado Zampronha tiveram por base justamente a veracidade da lista de Mourão. Daí porque, logo na página 4 de seu relatório, o delegado indica Cláudio Mourão como um "dos responsáveis pela estratégia de financiamento e coordenação da campanha de Eduardo Azeredo em 1998". Campanha esta que se utilizou de recursos comprovadamente ilegítimos, como o delegado havia dito já na página 2:

"Este relatório apresenta todo o conjunto probatório que o Departamento de Polícia Federal reuniu no decorrer das investigações, de caráter notadamente financeiro, com a demonstração da técnica utilizada por MARCOS VALÉRIO e por seus sócios para ocultar e dissimular a origem e o destino dos ativos financeiros ilícitos obtidos pela organização
política, além da apropriada individualização da conduta e da responsabilidade de cada um dos envolvidos, com a separação em tópicos dos esquemas utilizados para desviar fundos públicos do Estado de Minas Gerais e arrecadar recursos eleitorais clandestinos." (As palavras mais fortes foram devidamente grifadas por mim).

A segurança com que o delegado faz afirmações sobre a lista de Mourão na página 17 demonstra a confiança que ele tem em sua veracidade:

"Através do referido documento, CLÁUDIO MOURÃO relacionou com detalhes as fontes dos recursos arrecadados durante a campanha de EDUARDO AZEREDO no ano de 1998, que alcançou o montante total de aproximadamente R$ 100 milhões. Verificou-se que o valor declarado por CLÁUDIO MOURÃO no referido documento não foi submetido, em sua totalidade, ao processo de lavagem de dinheiro conduzido por MARCOS VALÉRIO e seus sócios, sendo bastante provável que tenha transitado por outras estruturas financeiras utilizadas pelo grupo ou jamais tenha sido inserido no sistema bancário nacional, permanecendo sempre em papel moeda após sua entrega aos coordenadores da campanha de EDUARDO AZEREDO."

Um pouco adiante, na mesma página, o relatório atesta, finalmente, a veracidade, no mínimo parcial, do conteúdo da lista de Mourão, rechaçando a defesa da assessoria de Aécio:

"Os exames financeiros realizados pelos Peritos Criminais Federais Evaldo Oliveira de Assis, David Antônio de Oliveira e Leonardo Vergara, tendo por objeto as diversas contas bancárias controladas por MARCOS VALÉRIO, comprovaram várias informações que constam na ’LISTA DO MOURÃO’, conforme o seguinte quadro que integra o Laudo de Exame n° 1998/2006-INC:" (grifo meu)

Pouco antes, o relatório já havia confirmado a autenticidade da assinatura de Mourão e do documento, agora ele atesta a autenticidade do conteúdo, que inclui arrecadações do Grupo Bemge (R$ 500 mil), Cemig (mais de R$ 1,6 milhão), Copasa (R$ 1,5 milhão), Comig (R$ 1,5 milhão), ARG Ltda. (R$ 3 milhões), entre outras.

Na página 19, o relatório confirma: "Não há qualquer possibilidade da ’LISTA DO MOURÃO’ ter sido elaborada por pessoa que desconhecesse as fontes dos recursos arrecadados clandestinamente para a campanha de EDUARDO AZEREDO, bem como o processo utilizado na lavagem destes ativos. Em outros pontos deste relatório serão mencionadas as convergências entre as informações constantes da ’LISTA DO MOURÃO’ e os elementos de prova reunidos nas investigações, notadamente as abordagens acerca das fontes públicas e privadas dos recursos submetidos ao processo de lavagem de dinheiro conduzido por MARCOS VALÉRIO. A ’LISTA DO MOURÃO’ também apresenta em detalhes o destino dos recursos arrecadados pela coordenação da campanha de EDUARDO AZEREDO, com a relação dos gastos eleitorais e dos políticos beneficiados com repasses de dinheiro realizados pelo comitê central da coligação PSDB/PFL."

Quer dizer, apesar de o relatório de Zampronha realmente não ter mencionado o nome do governador Aécio Neves (fora da lista), ou sequer ter se debruçado sobre os nomes dos beneficiários listados por Mourão, o documento confere grande importância à lista e aos "detalhes" apresentados por ela em relação, inclusive, aos "políticos beneficiados com repasses de dinheiro realizados pelo comitê central da coligação PSDB/PFL". Nesse sentido, vale destacar que o virtual candidato do PSDB à Presidência da República em 2010 e atual governador de Minas é acusado de ter recebido uma das maiores quantias repassadas individualmente aos beneficiários do caixa 2 de Azeredo. Dos 159 políticos envolvidos com o esquemão, ele ficou atrás apenas de 22 deputados que foram ainda mais beneficiados. Entre eles, cinco do PFL (atual DEM), três do PPB (atual PP) e três do PT. Para ver a lista completa, vale o link da Istoé: : http://www.terra.com.br/istoe/edicoes/1977/imagens/osdocumentos28_20.jpg .

A Polícia Federal fez sua parte: passou os últimos quatro anos investigando documentos de quase dez anos atrás, rendendo um inquérito de mais de cinco mil páginas e este relatório com provas incontestáveis contra os discretos políticos mineiros, mas o próprio delegado reconhece, no final, que há necessidade de pelo menos mais quatro providências para que as investigações estejam concluídas. Cabe agora ao Supremo Tribunal Federal não deixar nossa expectativa morrer na praia.

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